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Analise sociologica do filme crash no limite

Por:   •  3/12/2018  •  Trabalho acadêmico  •  3.863 Palavras (16 Páginas)  •  1.191 Visualizações

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Universidade Federal de Pernambuco

Faculdade de Direito do Recife

Disciplina: Sociologia do Direito

Professor: Artur Stamford

Turma: E9

Aluno: Ricardo Fernando Freire de Souza Melo Filho

Análise Sociológica do filme Crash – No Limite:

O filme apresenta o cenário de uma sociedade marcada pelo choque de valores, conceitos e ideologias, conforme indica o título do filme: Crash (colisão em inglês), tornando evidentes suas características preconceituosas e discriminantes. Nesse contexto, apresenta-se uma realidade complexa, retratando pessoas de diversas etnias, classes sociais e religiões (asiáticos, negros, muçulmanos, latinos, pobres) que têm suas histórias de vida interligadas. Fica evidente, assim, que a discriminação e o preconceito serão temas recorrentes e presentes em todos os grupos sociais, cada qual estigmatizando os outros. Além disso, conforme demonstrado no texto de Kathya Araujo, Desigualdades Interaccionales: “Las desigualdades interaccionales son desigualdades que se expresan y perciben sobre todo a nivel del lazo social en las interacciones cotidianas y corrientes entre individuos y entre éstos y las instituciones. El sustrato de estas desiguadades es una aguda sensibilidad a las formas de tratamiento recibidas por los otros”, nota-se que as desigualdades e preconceitos são percebidos e se expressam em todo nível de lastro social. Diversas são as cenas do filme que retratam isso, como a da moça ,branca e rica, falando do latino que foi consertar a fechadura de sua casa. Os dois assaltantes negros que conversavam sobre uma garçonete negra que não os atendeu bem, pois sabia que outra mesa com pessoas mais dinheiro poderiam dar uma gorjeta melhor. A atendente do plano de saúde que sofre preconceito por ser negra, mas trata com uma postura xenofóbica o oriental que bateu em seu carro. Diante dessa realidade, percebe-se que os problemas de descriminalização e preconceito sociais não se restringem a determinada parcela da população, sendo abraçados de forma estrutural por todo um povo.

De início, é possível refletir sobre o filme com base no texto de Luciano Oliveira, “Excluídos existem?”. Nesse texto, o autor se propõe a analisar o conceito de exclusão, deixando claro, a priori, que o problema da exclusão social não é uma exclusividade de países periféricos, como o Brasil, tratando-se, na realidade, de um fenômeno que não é novo e que atinge os países desenvolvidos. Isso se faz evidente no filme, o qual demonstra que mesmo nos Estados Unidos a exclusão social é uma realidade latente. O autor atesta que os excluídos, principalmente a partir dos anos 80, se tornaram algo bem mais estrutural, ao invés de um aspecto residual e conjuntural de como se era visto, na medida em que o desemprego, principal causador da exclusão, se revelou como uma decorrência própria do desenvolvimento tecnológico-cientifico, por sua capacidade de liberar mão-de-obra e de precarizar a relação empregatícia. Assim, como apontou o autor, “no caso dos países ricos, a exclusão social seria, principalmente, o resultado de um virtual esgotamento do modelo clássico de integração na sociedade moderna pela via do pleno emprego e, consequentemente, da ampla participação no mercado de consumidores.” Isso é bem ressaltado no filme, podendo citar o exemplo dos imigrantes ilegais, que ou não conseguirão encontrar um emprego ou terão um trabalho em condições muitíssimo precárias.”

A partir desse prisma, Luciano Oliveira ressalva que “ uma decantação terminológica preliminar se faz necessária”, na qual o uso do termo excludente deve ser utilizado para aqueles que são realmente apartados da sociedade e não qualquer segmento social que sejam caracterizados por uma posição de desvantagem (como se dá com o grupo dos negros, índios e dos homossexuais, aos quais o termo minoria é melhor bem empregado). Nesse sentido, percebe-se que dos grupos retratados no filme, são os assaltantes e, especialmente, os imigrantes ilegais, que aparecem ao fim do filme, que podem ser considerados excluídos, o mesmo não se aplicando, por exemplo, ao detetive, o qual, apesar de ser negro, encontra-se perfeitamente incluído na sociedade. Como primeira característica do grupo dos excluídos é o fato de serem pessoas sem inserção no mundo normal do trabalho. Dessa forma, os excluídos são considerados não apenas como desnecessários, mas também passam a ser percebidos como indivíduos socialmente ameaçantes e, por isso mesmo, passíveis de serem eliminados, tal qual se constata com os grupos acima mencionados que a película retrata.

Nesse contexto, após analisar as teorias dualista e antidualista, o autor chega à conclusão de que rigorosamente falando, os únicos realmente excluídos são aqueles de quem já não se pode extrair nenhum centavo de mais-valia, isto é, aqueles que não podem de modo algum ser integrados à economia, que não podem nem ser incluídos no formado exército industrial de reserva do setor dinâmico do capitalismo. Nesse sentido, afirma que se intensifica cada vez mais um sentimento de hostilidade com esses excluídos, o que poder levar ao desenvolvimento de uma mentalidade exterminatória. Ora, mais uma vez se remete à situação dos imigrantes ilegais retratados no filme. Eles são, realmente, excluídos, pois estão completamente fora do sistema econômico. Assim, eles ficarão largados às traças, conforme é demonstrado quando um daqueles imigrantes, completamente perdido naquela nova realidade, se recolhe a uma parede na rua e se senta na rua.

Diante dessa conjuntura, eles realmente não detêm qualquer importância para a sociedade e esta mesma, ao invés de sentir pena deles, passa a ter raiva, alimentando uma serie de preconceitos como xenofobismo e etnocentrismo. Fica evidente, desse modo, que a hostilidade que as pessoas passam a ter em relação aos imigrantes ilegais, especialmente tendo em conta aqueles que passam a ser um verdadeiro estorvo para a sociedade, em nada acrescentando a ela. E essa visão acaba se generalizando para atingir também aqueles imigrantes que não são excluídos (ao menos no sentido utilizado por Luciano Oliveira), que se integram à sociedade e ao processo produtivo capitalista. Isso pode ser ratificado já no início do filme, na fala das personagens, quando a detetive (moça branca e latina), de uma classe social economicamente mais elevada, repete a palavra dita pela moça asiática em tom de deboche devido ao seu sotaque. Além disso, quando a moça asiática alega que “mexicanos não sabem dirigir” se referindo à detetive, sem qualquer fundamento ou explicação do porquê daquela estereotipação. Na cena seguinte, na loja de armas, o tratamento preconceituoso com o qual o homem persa foi submetido é também uma clara evidencia dessa presença. Ou ainda, o assalto sofrido pelo mesmo homem persa, cuja loja fora saqueada e pichada com escritos “fora árabes”.

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