Análise Crítica do filme "Crash: no limite"
Por: Tiago Santana • 12/4/2016 • Resenha • 830 Palavras (4 Páginas) • 2.749 Visualizações
ANÁLISE CULTURAL – FILME “CRASH: NO LIMITE”
É interessante notar o quanto a cultura é capaz de produzir e ordenar comportamento nas pessoas, por ora podemos discordar de tal afirmação, mas não precisamos ir muito longe para perceber o quanto somos, nós mesmos, sensíveis a críticas feitas por outras pessoas a nós. Se mesmo assim não estivermos satisfeitos com a retórica acima mencionada, basta assistirmos ao filme “Crash - no limite” que veremos o quanto somos suscetíveis e vulneráveis a outras pessoas que não pensam como nós. Obviamente o filme pode não mostrar paradigmas dos quais compartilhamos, mas se traduzirmos para a nossa realidade, teremos muito em comum. Queremos aqui analisar o filme por um viés cultural, tendo como base os pressupostos da Antropologia que nos fornece material suficiente para essa empreitada.
O filme mostra uma diversidade cultural encontrada em Los Angeles, palco de um multiculturalismo, onde se empregam, mexicanos, iranianos, entre outros, uma sociedade dominada pelo preconceito, racismo e segregação. Esta marginalização de pessoas que não são consideradas do padrão norte americano, ocorre com os imigrantes - persas, latinos, asiáticos - e também os negros.
Dentro deste contexto, verifica-se como a cultura, inerente a todos, desempenha uma função significativa no desenvolvimento da sociedade.
Aqui, podemos discutir vários assuntos relacionados à cultura, sendo um deles o etnocentrismo. No filme vemos como as pessoas julgam o desconhecido ou generalizam e pressupõem que todos os membros de uma determinada religião, nacionalidade, língua ou tradição possuem os mesmos valores morais. Nesse sentido podemos falar sobre um certo relativismo cultural, um conceito antropológico que descreve a capacidade do observador, ao entrar em contato com costumes diferentes, não analisa-los segundo a sua própria cultura, mas sim compreendendo o processo de construção que aquela cultura efetuou a fim de se chegar a tal costume ou prática.
Outro aspecto é que, mesmo que um indivíduo possua os valores morais e deseja agir de forma equânime para com os outros, essa atmosfera regada de preconceitos e moralismo exercem influência no indivíduo que, por sua vez, reage de forma oposta aos seus valores, como no caso de Daniel, exposto no filme, que representa a população de mexicanos que entra em contato com o senhor Farhad, ali vemos claramente o conflito entre diferentes etnias, que exerce poder sobre a comunicação dos dois, até o ponto em que o senhor Farhad procura Daniel para matá-lo.
A Antropologia tem um conceito que se enquadra perfeitamente em uma cena mostrada no filme em que podemos traduzir como um típico caso de endoculturação. Para a Antropologia, endoculturação é um termo que define o processo pelo qual um indivíduo passa e que por consequência inclui em seu repertório, conceito, valores e aprendizados de certo e errado da cultura em que está inserido. A cena em que nos referimos é aquela na qual um casal negro é abordado por policiais; na ocasião, um dos policiais mantém contatos íntimos com a mulher, seu marido fica furioso mas não faz nada por medo da retaliação do policial. Ao chegar em casa, sua mulher decepcionada com a falta de atitude do marido reclama para ele e o chama de criolo. Vemos nesse caso que o marido, passando por um processo de endoculturação não revidou ao policial, condizendo desta forma com os valores que se expressam na cultura dos Estados Unidos.
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