As Ciências Humanas No Ensino Médio E O Positivismo
Dissertações: As Ciências Humanas No Ensino Médio E O Positivismo. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: luiseebeling • 12/3/2015 • 1.361 Palavras (6 Páginas) • 319 Visualizações
São Paulo
23 de fevereiro de 2015
Nos dias de hoje, a melhor forma de encerrar uma discussão é alegando que o fato discutido é cientificamente comprovado, pois a civilização moderna assume uma posição positivista, ou seja, um modo de pensar do século XIX que adota a concepção de que a ciência é capaz de alcançar a verdade indubitável sobre as coisas. Inserido nessa sociedade e nessa cultura, o autor do texto adere também a essa posição, apelando à estatística para argumentar a favor da neutralidade das ciências exatas. Com isso, Ioshpe já assume um posicionamento, pois mesmo uma posição neutra é uma posição, já que a neutralidade é uma construção intelectual.
A postura adotada por Ioshpe de que a sociologia não é neutra é criticada por Bordieu na seguinte afirmação:
O sonho positivista de uma perfeita inocência epistemológica oculta na verdade que a diferença não é entre a ciência que realiza uma construção e aquela que não o faz, mas entre aquela que o faz sem o saber e aquela que, sabendo, se esforça para conhecer e dominar o mais completamente possível seus atos, inevitáveis, de construção e os efeitos que eles produzem também inevitavelmente. (BORDIEU, 2008,p. 694)
Bordieu critica o que o autor diz em relação a uma ciência ser neutra e outra não pois, segundo ele, a diferença está entre aquela que conscientemente enxerga que assume uma posição e aquela que se diz neutra, negando a existência de uma posição por trás dos dados.
Embora a sociologia não possa ser considerada uma física social por trabalhar com indivíduos que apresentam opiniões diversas e instáveis, ela adota métodos para desnaturalizar o senso comum, já que os sociólogos usam procedimentos racionais e estatísticos para encontrar respostas para os fenômenos sociais, rompendo com a visão que a maior parte da população tem que a sociologia é apenas uma questão de opinião e que é avessa ao método estatístico.
A estatística analisa a estrutura, não o pensamento individual, e as perguntas feitas em pesquisas são escolhidas com um intuito e direcionadas a apenas uma parte da sociedade. Dessa forma, as conclusões não representam a sociedade como um todo, apenas uma parcela dela.
As ciências sociais não devem se adequar ao paradigma de neutralidade moderno, pois a sociologia não pode ser considerada neutra, já que o sociólogo está inserido na sociedade e, como parte dela, não consegue adotar uma posição completamente relativista, mas ao mesmo tempo, é neutra pois não interessa ao sociólogo adulterar os resultados das pesquisas.
A sociologia pode ser considerada uma ciência, pois o sociólogo estuda a sociedade, tentando estabelecer suas leis e regularidades, e utiliza diversos métodos que buscam neutralizar esse estudo, mas ao mesmo tempo ela difere da visão de ciência da civilização moderna pois não assume ser capaz de alcançar a verdade absoluta e nem que algo que seja cientificamente comprovado não seja debatível.
Ao dizer que é cometido um crime intelectual ao afirmar que “os números são criações humanas e, como tal, têm uma intencionalidade”, o autor assume uma posição de superioridade embasada no pensamento da civilização moderna, pois por trás das ideias apresentadas no texto é possível identificar valores modernos que são por ele adotados e em nenhum momento questionados, o que pode ser relacionado à fala de Bordieu, pois ele constrói uma ideia inconscientemente que as sociedades que não desenvolveram números e estatística são inferiores, ignorando a construção histórica e geográfica por trás das ciências exatas atuais.
Essa supervalorização das exatas vem de um processo histórico e cultural, e o autor nega essa construção ao pressupor a inferioridade das humanas. Ao analisar um contexto do século XVI, podemos perceber que tal inferiorização não é válida, já que no Renascimento diferentes valores eram adotados, e sofríamos um processo de valorização do humanismo e do antropocentrismo.
Ao fazer tais afirmações, Ioshpe banaliza a filosofia e a sociologia, colocando a estatística como uma matéria racional que ajudará os alunos a criar seus próprios argumentos ao invés de serem ensinados, em sociologia e filosofia, o julgamento e doutrinamento de outros. O autor afirma que “a convicção do acerto só pode vir com a ajuda das exatas. Sem uma comprovação empírica, qualquer pensamento é apenas uma tese” (IOSHPE, 2008, p. 2), novamente assumindo uma posição positivista e alegando neutralidade.
Ao analisar a sociedade, somos convidados a tomar uma posição e a virar intérpretes. Para ter ações políticas, é necessário entender a sociedade, o que ajudará cada um a formar ideologias, que nos farão atuar politicamente. A relação entre o saber sociológico e a ação política não é doutrinária. A partir do momento que tomamos uma posição, esta não deve necessariamente seguir regras e gerar um consenso geral entre todos que partilham a mesma ideologia e analisam a mesma sociedade, pois cada um teve experiências de vida diferentes que os levaram a ter visões diferentes sobre a sociedade.
Ao dizer que as aulas de sociologia servem apenas para ensinar marxismo nas escolas,
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