As Dualidades de Simmel
Por: ana.bin • 19/10/2022 • Trabalho acadêmico • 1.149 Palavras (5 Páginas) • 72 Visualizações
Ana Laura Wagner Bin
Dualidades em Simmel
Georg Simmel foi um importante sociólogo alemão do final do século XIX. O cientista social é considerado como tendo lançado bases para a construção da Escola de Chicago, teoria sociológica estadunidense. Simmel também foi um especialista nas interações individuais e a simbologia subjacentes às ações de cada um, mesmo que em um meio coletivo. Além disso, Simmel estudou e explicou a sociologia do cotidiano e como ela se transformou devido às mudanças na estrutura do mundo moderno, como, por exemplo, as questões da vida na cidade e do dinheiro, relatam Jessé Souza e Berthold Öelze.
Em suas obras, Georg Simmel cita repetidamente alguns dualismos que observamos na sociedade. Ele escreve que o “dualismo não pode ser descrito em termos diretos, mas apenas nas oposições singulares que são típicas de nossa existência e que são apreendidas como sua forma última e conformadora” (SIMMEL, 2008, p.163). Por exemplo, no texto O Estrangeiro, é apresentada a oposição entre o fixo e o móvel, na qual o autor utiliza o comerciante estrangeiro como representante desse dualismo. Isso porque o comerciante sempre está presente na história da economia. Nesse caso, aquele que vende um produto estrangeiro, mesmo que não seja estrangeiro, fixa-se, no consciente daquele que compra, como um estranho, alguém de fora; e isso se aplica tanto ao comerciante, quanto ao produto. Assim, a fixidez está presente na atividade realizada pelo comerciante. Por outro lado, esse mesmo comerciante representa a mobilidade, pois o estrageiro é pertencente a um grupo que não é proprietário do solo e, por este fato, não cria laços orgânicos com ninguém, tornando-se um indivíduo de fácil mobilidade. Sendo assim, para Simmel a sociologia do estrageiro consegue até certo ponto representar simultaneamente o dualismo entre a fixidez e a mobilidade.
Acrescente-se que para o nosso sociólogo alemão o símbolo máximo da mobilidade é o dinheiro. Tal objeto permite que o indivíduo atravesse um problema restrito e alcance um plano mais amplo, o que acontece porque “no pagamento em dinheiro, a personalidade não se dá mais a si mesma, mas sim a algo totalmente abstrato e livre de toda relação interna com o indivíduo” (SOUZA e ÖELZE, 2014, p.29). Oposto a isso, o dinheiro representa também um caráter fixo, porque, por mais variadas as coisas pelo qual ele seja trocado, o dinheiro é imutável e estável.
Outra dualidade apresentada por Simmel trata-se da oposição entre o quantitativo e o qualitativo. Devido à economia do mundo moderno, o qualitativo perdeu sua relevância para o quantitativo, já que tem-se uma ideia de que esse último é o único valor válido. Pela mesma razão, observa-se essa dualidade na também na moda, onde um indivíduo pode transformar uma tendência em algo extravagante. Seria o caso do que Simmel chama de bobo da moda, o qual mistura artigos ou exagera em qualquer item que está em alta na moda em busca de individualidade e particularidade. E é por isso que para Simmel a moda é capaz de elevar uma pessoa insignificante e destacá-la dentro de uma sociedade. Ademais, quando se tem um destaque muito significativo, este torna-se comum a todos e a moda sofre uma supressão na sua qualidade de individual. Ou seja, quando tem-se um exagero na dimensão quantitativa da moda, tem-se também uma perda na sua dimensão qualitativa. Assim, a moda sofre uma constante mudança, para manter a individualidade e para servir às classes mais altas. Outro fato é que, apesar da moda ser condicionada pelos mais ricos, ela não pode ter um valor muito alto. Isso porque as tendências mudam rapidamente, tornando-se caro para um indivíduo agir de acordo com o padrão em alta. Finalmente, quando o preço da moda cai e torna-se mais acessível ao resto da sociedade, isso significa que ela já está antiquada e logo será substituída por algo novo e restrito.
Assim, quando a moda se atualiza ela nos apresenta outra dualidade, a de diferenciação versus imitação. No meio de um conflito com o coletivo, com a estrutura social, os usuários individuais da moda buscam uma diferenciação em relação aos demais, mesmo que ainda dentro de um padrão imposto na sociedade. Para Simmel isso ocorre porque “a mudança de conteúdo imprime à moda sua marca individual em relação à moda de ontem e de amanhã”. Mas também, acrescenta o autor, isso ocorre “pelo fato de as modas serem modas de classe, de as modas das camadas mais altas se distinguirem daquelas das mais baixas e serem abandonadas no momento em que essas começam a se apropriar daquelas” (SIMMEL, 2008, p. 165).
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