CONCEPÇÃO DE TRABALHO NA FILOSOFIA DO JOVEM MARX E SUAS IMPLICAÇÕES ANTROPOLÓGICAS
Artigos Científicos: CONCEPÇÃO DE TRABALHO NA FILOSOFIA DO JOVEM MARX E SUAS IMPLICAÇÕES ANTROPOLÓGICAS. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: felipeseda • 16/4/2014 • 6.922 Palavras (28 Páginas) • 459 Visualizações
Kínesis, Vol. II, n° 03, Abril-2010, p. 72 – 88
A CONCEPÇÃO DE TRABALHO NA FILOSOFIA DO JOVEM MARX E SUAS IMPLICAÇÕES ANTROPOLÓGICAS
THE CONCEPTION OF WORK IN YOUNG MARX’S PHILOSOPHY AND ITS ANTHROPOLOGICAL IMPLICATIONS
Renato Almeida de Oliveira
Resumo: O presente artigo pretende desenvolver uma reflexão sobre a categoria trabalho na filosofia do jovem Marx, levando a cabo a problemática em torno da dialética do trabalho. Para tanto, faz-se uma leitura imanente às obras Manuscritos Econômico-Filosóficos de 1844 (Ökonomisch-philosophischen Manuskripte aus dem Jahre 1844) e A Ideologia Alemã de 1845 (Die deutsche Ideologie), relacionando tal categoria com algumas determinações antropológicas presentes no pensamento do jovem filósofo, a saber, a objetividade (Objektivität) e a genericidade (Gattungswesen) humanas.
Palavras-Chave: Jovem Marx. Trabalho. Objetividade. Genericidade.
Abstract: This article aims to develop a reflection on the class work in the philosophy of the young Marx, pursuing the issue around the dialectic of labor. Therefore, it is an immanent reading of works Economic and Philosophical Manuscripts of 1844 (Ökonomisch-philosophischen Manuskripte aus dem Jahre 1844) and The German Ideology of 1845 (Die deutsche Ideologie), relating this category with some anthropological determinations present in thinking of the young philosopher, namely, the objectivity (Objektivität) and genericity (Gattungswesen) human.
Key-works: Young Marx. Work. Objectivity. Genericity.
1. A Categoria Trabalho
Da segunda metade do século XX ao início do século XXI, o marxismo tem testemunhado um vasto debate entre os seus teóricos acerca da categoria trabalho, da sua centralidade e importância na filosofia de Marx como categoria ontológica fundamental da existência humana. Para alguns desses teóricos, o trabalho possui um grande valor no conjunto dos escritos marxianos, por ser a atividade afirmadora da vida, que forma a existência dos indivíduos e instaura-lhe um caráter social. É no trabalho que se manifesta a superioridade humana ante os demais seres vivos. Ele seria a realização do próprio homem, a fonte de toda riqueza e bem material.
Mestrando em Filosofia pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: renatofilosofosds@yahoo.com.br.
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Contrariamente a essa posição que podemos chamar de positiva, existe outra, de cunho negativo, que afirma a extinção do trabalho em virtude das diversas transformações na sociedade contemporânea, por meio das quais ele deixa de ser, em termos práticos, uma atividade central e, em termos teóricos, uma categoria analítica de compreensão das relações sociais, principalmente após as grandes revoluções tecnológicas, na qual as máquinas informatizadas, a microeletrônica, substituíram a mão-de-obra viva. Para os defensores desta segunda linha de pensamento, em Marx já se vislumbra uma total negação do trabalho.1 Todavia, o que os teóricos de ambas as orientações esquecem é que existe, no pensamento de Marx, uma dialeticidade entre o elemento criador do trabalho e o seu aspecto estranhado, este expresso nas relações modernas de produção. O trabalho possui um momento universal, antropológico, o momento da objetivação e auto-criação humana e um momento particular, histórico, o trabalho assalariado, produtor de mercadorias, a atividade capitalista.2
Essa dialeticidade do trabalho, no sistema da propriedade privada, é fundamental para compreendermos o modo como o jovem Marx trata as questões fundamentais de sua filosofia, como a emancipação, a política, o homem, entre outras. A história humana objetiva-se mediante o ato de produção de sua existência material, que se realiza pelo trabalho. É “o carecimento material, enquanto motor do processo de reprodução individual ou social” que “põe efetivamente em movimento o complexo do trabalho.” (LUKÁCS, 1978, p. 5). No entanto, embora sendo o ponto de partida do processo de humanização, o trabalho, na sociabilidade burguesa, é aviltado, tona-se uma mera atividade de subsistência, de satisfação de carências imediatas. Constitui-se,
1 O debate sobre a negação da centralidade do trabalho ganhou força com a publicação do Manifesto contra o trabalho (Manifest gegen die Arbeit), escrito pelo Grupo Krisis. Atualmente esse grupo tem levado a cabo essa discussão tanto na Europa quanto na América. Para um maior conhecimento das teses contra o trabalho, Cf. KRISIS-GRUPPE. Manifesto contra o trabalho. Tradução de Heinz Dieter Heidemann e Cláudio Roberto Duarte. São Paulo: Editora Humana. 2009. (Coleção Fundamental). Disponível em: <<www.editorahumana.blogspot.com>>. Acesso em: 16 mar. 2009.
2 “O dogma do trabalho libertador e a profecia do final do trabalho têm em comum sua unilateralidade. O primeiro só considera a dimensão antropológica do trabalho, abstraindo seu caráter historicamente determinado. O segundo só leva em consideração seu caráter concretamente alienado e alienante, abstraindo suas potencialidades criadoras. Na realidade, na „imbricação da ação e do trabalho‟, as dimensões antropológica e histórica estão estreitamente combinadas [...] Não se trata de negar essa contradição, mas de se instalar nela para trabalhá-la. Por trás do trabalho imposto persiste, ainda que de forma débil, surda, essa „necessidade do possível‟, que diferencia a atividade humana da plenitude simplesmente vegetativa. É o sinal, mesmo, de sua finitude e de sua capacidade para „ir mais longe‟, para melhorar ou para piorar.” Cf. LÖWY, Michael e BENSAÏD, Daniel. Marxismo, modernidade e utopia. Organização de José Corrêa Leite; Tradução de Alessanda Ceregatti, Elisabete Burigo e João Machado. São Paulo: Xamã. 2000. p. 100.
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assim, a dialética entre a fortuna e a miséria, entre a efetivação e desefetivação do homem. Nessa contradição manifesta-se o princípio emancipatório de Marx. Nas condições degradadas do trabalho capitalista permanece o elemento universal, criativo, dos homens, deixando espaço para uma superação do estranhamento.
Almejo desenvolver, a
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