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Cidadania E Globalizaçao

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Por:   •  5/5/2014  •  9.324 Palavras (38 Páginas)  •  287 Visualizações

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PARTE III

OS (DES )CAMlNHOS DA GLOBALlZAÇÃO ( )

Vi terras da minha terra

Por outras terras andei

Mas o que ficou marcado

No meu olhar fatigado

. Foram terras que inventei.

(Manuel Bandeira)

Precisamos tentar salvar a herança republicana,

mesmo que seja transcendendo os limites do Estado-Nação.

(Jurgen Habermas)

O termo globalização se presta a várias interpretações. É visto como processo fatal e inescapável, ou como mera ideologia, propagandeada pelo Banco Mundial e pelos países dominantes, para servir aos interesses das empresas transnacionais.

Para outros, entretanto, trata-se de um fenômeno real que merece ser levado a sério e analisado com mais profundidade. Nesta perspectiva estão aqueles que veem a globalização como um processo de homogeneização, isto é, de padronização e estandardização das atitudes e comportamentos em todo o mundo, colocando em risco a diversidade cultural da humanidade. A globalização é aqui compreendida principalmente em sua dimensão econômica dominante de interligação mundial de mercados.

Surgem dessa perspectiva algumas noções expressivas como, por exemplo, aldeia global, fábrica global, cidade global, shopping center global, Disneylândia global, macdonaldização do mundo etc. Embora enfatizando aspectos diferentes, essas metáforas parecem sugerir a ideia de uma padronização do comportamento humano.

Uma visão diferente procura mostrar que o processo de globalização não é incompatível com a diversidade cultural, podendo coexistir com a heterogeneidade e pluralidade das diversas culturas existentes no planeta. Algumas expressões parecem estar mais de acordo com essa visão, como, por exemplo, sociedade global, terra-pátria, nave espacial etc.

A globalização é em geral vista como um fenômeno econômico que deve ser combatido, pelas suas consequências nocivas para os países pobres em vias de desenvolvimento. É apresentada ainda como um fenômeno que se contrapõe aos laços de solidariedade social existentes nos planos local e nacional.

Inspirada, talvez, em algumas oposições clássicas das ciências sociais, como grupos primários (família e vizinhança) x grupos secundários, comunidade x sociedade, casa x rua, é comum encontrarmos a ideia de que "o local une, o global separa". Mas se uma indústria química na minha vizinhança polui o ar que respiro e a água que bebo, ela separa, ao mesmo tempo em que posso me sentir unido a um grupo, pessoa, evento, ação ou situação situada a muitos quilômetros de distância e aproximada pelos meios modernos de comunicação eletrônica.

A globalização redimensionou as noções de espaço e tempo. Em segundos, notícias dão volta ao mundo, capitais entram e saem de um país por transferências eletrônicas, novos produtos são fabricados ao mesmo tempo em muitos países e em nenhum deles isoladamente. Fenômenos globais influenciam fatos locais e vice-versa

O global e o local se interpenetram e se tornam inseparáveis. O global investe o local, e o local impregna o global. Não se trata mais de duas instâncias autônomas que se relacionam de uma determinada maneira, influenciando-se reciprocamente mas mantendo cada uma sua identidade. Trata-se agora de um processo que engloba, em seu movimento, o local e o gIobal combinados.

O global e o local se interpenetram e se tornam inseparáveis. O global investe o local, e o local impregna o global. Não se trata mais de duas instâncias autônomas que se relacionam de uma determinada maneira, influenciando-se reciprocamente mas mantendo cada uma sua identidade. Trata-se agora de um processo que engloba, em seu movimento, o local e o gIobal combinados.

Para melhor compreender esse fenômeno, já se propôs o emprego da palavra glocal, que incorpora num conceito único as dimensões do local e do global.O processo de globalização é assimilado por alguns autores à ocidentalização do mundo efetuada pela era moderna, com a expansão do capitalismo sob as formas coloniais, neocoloniais e imperialistas de dominação econômica e política .

Para outros, é fenômeno recente, pelo menos em sua fase atual. Caracteriza-se, entre outras coisas, pelo fim da guerra fria e da bipolaridade entre EUA e URSS, surgimento dos "novos movimentos sociais" (ecológicos, étnicos, de mulheres, descentralização da produção, desterritorialização das empresas multinacionais, tornadas agora transnacionais, fragmentação das grandes ideologias e visões de mundo na multiplicidade "pós-moderna", surgimento das primeiras manifestações de uma sociedade civil mundial e de uma cidadania planetária.

Estamos diante de uma nova revolução, fundada na microeletrônica, na informática e nas telecomunicações, que desterritorializa o indivíduo, configurando um novo modo de vida. Em seu rastro, já se percebe a tendência ao declínio do Estado-Nação, bem como a globalização da pobreza e do desemprego, que torna descartável a maior parte da humanidade. Simultaneamente, surgem condições mais favoráveis para a defesa dos direitos humanos e da democracia.

Eis o desafio da globalização de que trata este livro. A sua leitura requer o abandono de preconceitos para enfrentar os impasses do mundo neste final de século. Requer ainda espírito de aventura, para acompanhar a trajetória humana na terra, que, segundo lembra o pensador francês Edgard Morin, não e mais teleguiada por Deus, pela Ciência, pela Razão ou pelas leis da História. Ela nos faz reencontrar o sentido grego da palavra planeta: astro errante.

1 - O QUE É GLOBALIZAÇÃO?

O paradigma clássico das ciências sociais, baseado nas sociedades nacionais, está sendo substituído por um paradigma emergente, baseado na sociedade global. Começam a sofrer reformulação conceitos clássicos como as noções de soberania e hegemonia, associadas ao Estado-Nação como centro de poder. As novas forças que operam na atual ordem mundial, dominada pela economia capitalista de cunho neoliberal, reduzem os espaços do Estado-Nação, obrigando à reformulação de seus projetos nacionais. As nações buscam proteger-se formando blocos geopolíticos e celebrando acordos.sob o controle de organizações internacionais, como FMI, OMC (ex-GATT), BIRD, ONU etc. Ao mesmo tempo, surgem novos centros de poder que agem em todos os níveis,

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