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Cultura e Natureza

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Por:   •  10/11/2013  •  Tese  •  1.775 Palavras (8 Páginas)  •  466 Visualizações

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COMUNICAÇÃO E CULTURA – Módulo 1

Cultura e Natureza

Raiz etimológica latina colere: cultivar, habitar, proteger, honrar com veneração.

Século XVI – o sentido correspondia ao “cultivo que cresce naturalmente”, derivado, portanto da natureza.

Raymond Williams (2007): no séc. XVII o termo passa a incluir “o processo de desenvolvimento humano” e se fortalece no século XVIII: o termo passa a englobar cultura como estado, atividade de cuidado com algo, cultura como ação, cultura da terra à cultura do espírito.

Cultura e cuidado ativo

Diferencia-se de tudo que cresce naturalmente ou ao naturalmente dado: dialética entre o artificial e o natural, entre o que fazemos ao mundo e o que o mundo nos faz (...), requer trabalho de elaboração numa forma humanamente significativa.

Cultura X Natureza

Séc. XVIII: mudança histórica da humanidade, da existência rural para a urbana, da criação de animais para a arte, do lavrar o solo à divisão do átomo.

Cultura passa a ser sinônimo de civilização: processo geral de progresso intelectual, espiritual e material, estreitando as esferas de decisão, pensamento e gestão.

A oposição à natureza se fundamenta no iluminismo: cultura passa a ser considerada como a totalidade, se aplica ao que é unicamente humano, à unidade do homem na diversidade dos seus modos de vida.

Iluminismo e otimismo

Contexto de avanço intelectual e material, de transformação social: novas classes sociais, complexidade do tecido urbano nas cidades europeias.

Confiança no futuro do homem que deveria se espalhar para todas as sociedades.

Diferenciação fundamental entre rural e urbano.

Cultura e intelectualidade

Inclusão do termo no Dicionário da Academia Francesa (1718) marca o novo significado: refinamento espiritual e intelectual, sentido de educação, de civilização.

Oposição definitiva entre natureza e cultura.

Cultura e civilização

Cultura liga-se ao auto-cultivo, ao processo de refinamento intelectual, estético, político.

Refere-se, portanto, a um processo de busca e empenho individuais, algo que fazemos por nós mesmos, mas também algo que passa a ser feito por nós, em que entra decisivamente o papel do Estado: o auto-cultivo passa a ser experienciado em grupo, em nome do crescimento e refinamento coletivo, formador de cidadanias.

Cultura e civilização: sinônimos?

A civilização resultaria de um processo que arranca a humanidade da ignorância e da irracionalidade.

Civilização enfatiza, portanto, um estado de ordem social e refinamento, em contraste com a ideia de barbarismo.

Nesse caminho, o processo civilizatório constitui um direito a todos os povos, até os mais selvagens, e caberia aos povos mais avançados o dever de ajudar os mais atrasados.

Cultura e Civilização

Para Eagleton (2005), os dois termos guardam diversas implicações:

1. Evolucionismo cultural

2. Expansionismo e imperialismo

3. Etnocentrismo europeu

Para Muniz Sodré (2005), em um sentido individual, cultura passa a uma acepção de distinção social, e que gradativamente passa a ser aplicado também ao sentido de civilização:

“a civilidade era, ao mesmo tempo, um estado de distinção entre as camadas nobres e as outras. É como estratégia de distinção social que o termo se expande até civilização”.

Cultura como poder

Ainda para Sodré, no contexto da revolução industrial se consolida a ideia de progresso, em que surge uma nova classe, a burguesia, onde a cultura se consolida como estratégia de poder: “consolida- se a separação entre o sublime e o vulgar, entre cultura elevada e cultura popular, entre superior (universal) e o inferior das massas desprovidas de altos padrões de excelência social”

Século XIX: Sigmund Freud

É no século XIX que a cultura se estabelece como ideal de aperfeiçoamento humano, tendo em Freud um dos principais propulsores dessa ideia.

Para ele, a cultura é “a promoção da vida humana acima de suas condições animais”, implicando a retomada do distanciamento entre o que é natural e cultural.

Freud concebe, nesse sentido, o estado civilizatório/cultural como um “imenso edifício construído sobre o princípio de renúncia às pulsões instintivas, naturais”

Sínteses

O terreno da cultura seria o lugar da pedagogia dos instintos, da conformação social, da adequação, do controle, da renúncia e do recalcamento. O corporal passa, portanto, a estar ligado ao que é baixo, inferior, aos indivíduos que não tiveram acesso, ou não passaram pelo processo civilizatório que a cultura passa a compreender. A aproximação entre cultura e civilização naturaliza a divisão entre o corporal e o mental, entre o material e o espiritual, abrindo caminho, portanto, à divisão do trabalho entre classes sociais.

O debate entre cultura e civilização não apenas se situa como marco definitivo entre o natural e o cultural, mas também forma a base fundamental para a consolidação do eurocentrismo como marco definidor de hierarquias culturais ao encontro do que vem a se estabelecer como ‘civilização ocidental’.

Uma vez amparados pelos ideários “eurocentrados” que se constituem em valores a serem propagados e diversificados para as sociedades atrasadas, o discurso eurocêntrico se torna a escusa fundamental para a abertura do processo expansionista de conquista e colonização realizado pelas nações europeias.

Eurocentrismo

O eurocentrismo seria o amálgama do próprio espírito geral do Iluminismo, e sintetizaria o desejo de progresso alcançado pelas nações europeias, que se cristalizam como modelo de superação e conquista. Assim, ao consagrar-se como ideologia legitimadora dos valores resultantes de anos de evolução, surge como balizador e símbolo completo da modernidade,

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