DAVID HARVEY CONDIÇÃO POS MODERNA

CAPITULO 8

Ao iniciar o capitulo para falar do fordismo, Harvey afirma que este deve ser entendido para além da imposição da jornada de 8 horas por dia com salário de cinco dólares, e que suas inovações e organização estavam ligadas a tendências produtivas já estabelecidas, mas que com a implementação de sua racionalização e divisão do trabalho ganharam aumento de produtividade.

Atrelado a isto surge baseado nas fusões ocorridas entre 1888 e 1902 princípios da administração científica de Taylor que via que a produtividade poderia ter um aumento por meio da decomposição de cada processo de trabalho, seguindo padrões rigorosos de tempo e movimento.

Pode-se dizer que a diferença entre o modelo trazido por Taylor e o que o Ford trazia era essa inovação e o reconhecimento de que se podia produzir em massa, com vistas a se consumir em massa e que isto poderia ser visto como um novo sistema de reprodução da força de trabalho e também como novas maneiras políticas de controle e gerenciamento do trabalho podendo até ser caracterizado como um novo tipo de sociedade democrática racional moderna e popular.

Dispõe que Gramsci, em um de seus escritos^[1], descreveu o fordismo em conjunto com o americanismo como uma forma coletiva de criar um novo tipo de trabalhador, adequado ao novo tipo de trabalho e de processo produtivo, tendo até mesmo suas questões subjetivas vinculadas ao novo modo de produção criando assim a tendência de que são inseparáveis o modo de vida e de pensar dos novos métodos de trabalho.

Outro ponto interessante do texto é esse novo tipo de sociedade proveniente da aplicação do poder corporativo e como as definições de jornada e pagamento, são vistas como uma maneira de obrigar o trabalhador a ser disciplinado para cooperar de maneira adequada no sistema de linha de montagem de alta produtividade.

Dentro do texto Ford é descrito como uma pessoa que acreditava que o poder corporativo tinha tamanha força que conseguiria incidir sobre a regulamentação da economia, por isso na contramão das expectativas do período da recessão ele resolveu aumentar o salário dos funcionários, com vistas a aumentar a demanda efetiva,  vislumbrando que isso recuperaria a economia e o mercado mesmo do mesmo diante do catastrófico cenário da depressão.

No entanto, como isto não ocorreu principalmente devido as leis competitivas que tinham tamanho a força, que para salvar o capitalismo se fez necessário um pacto com intervenção do estado, o New Deal de Roosevelt, como tentativa de recuperação da economia capitalista.

Contudo, notada a incapacidade de transformação dos rumos da economia, Ford se viu obrigado a demitir uma grande leva de funcionários e realizar cortes salariais, ficando bem claro que este não conseguiria sozinho mudar os rumos da economia.

Como resultado das longas jornadas de trabalho, com rotinas pré estabelecidas, nas quais os trabalhadores pouco sabia sobre as demais demandas da produção, com concentração somente na função desempenhada, o que deixava mais que claro que não possuíam domínio algum sobre como se configurava o projeto e organização do trabalho, por isso a rotatividade da força de trabalho era demasiadamente grande.

Para Harvey, esse tipo de organização do trabalho acabou por criar uma resistência e certa hostilidade pelos trabalhadores, contudo, a mobilização no período da Guerra fez com que trabalhadores e capitalistas aceitassem as racionalizações no modo de produção que eram vistas como melhoria eficiente, principalmente diante do cenário posto.

Pode-se dizer que houve dois entraves que impediam a disseminação do fordismo no período entre as guerras sendo estes:

O estado das relações de classe que não aceitava um sistema de produção baseado em longas jornadas de trabalho e na familiarização; sem controle do trabalhador sobre o trabalho executado e o ritmo do processo produtivo, com pouca exigência técnica, o que deixa o trabalhador hostil e resistente a linha de produção projetada por Ford.  

Essa tendência se configurava desta forma, haja vista o resto do mundo capitalista ainda estava baseado em tradições artesanais de organização do trabalho mesmo que com a implementação dos conceitos gerais do fordismo. Isso incidiu diretamente sobre a rotatividade da classe trabalhadora, que fez com que Ford optasse por ter trabalhadores imigrantes em sua maioria.

Outro entrave era os modos e mecanismos de intervenção do estado que necessitavam fazer nascer o novo modelo de regulamentação que foi feito para dar conta da falta de demanda efetiva por produtos.  

Por isso, o segundo entrave é visto como bastante atrativo como solução política, para que os trabalhadores sejam inseridos dentro desses novos sistemas de produção de maneira disciplinada, com o intuito de que as capacidades produtivas excedentes fossem absorvidas por parte de despesas produtivas, tão necessárias para produção e consumo.

Pode-se dizer que a incapacidade democrática dos anos 20 precisava ser superada e que muitos dos políticos e intelectuais concordavam que um pouco de autoritarismo e intervencionismo estatal, seria uma única maneira para enfrentar a crise a qual o capitalismo passava naquele momento.

Portanto, a maturidade do fordismo como regime de acumulação plenamente distinto e pleno, aconteceu após a resolução das configurações dos poderes do estado no pós 1945.  Com isto, entende-se que no período entre 1945 até 1973 houve uma longa expansão desse modelo nos países capitalistas avançados que alcançaram altos índices de estabilidade de crescimento econômico, que fizeram com que os padrões de vida nestes países tivessem características de sucesso econômico e harmonia política, com isso as ditas intenções de desestabilidade eram apartadas por meio da adoção de uma democracia de massa.

Além disso, nesse período o fordismo se aliou firmemente ao keynesianismo e o capitalismo se dedicou a expansões internacionais de alcance mundial, atraindo assim uma gama de nações que recentemente haviam sido descolonizados para dentro de sua rede.

Harvey (1989) menciona que nesse período pós-guerra houve o surgimento de diversas indústrias baseadas em tecnologias e que sua maturação se concentrava em fábricas de carros, navios,  aparelhamento de transporte,  produtos petroquímicos, eletrodomésticos e etc; que se tornaram molas propulsoras da economia do crescimento.

E que por sua vez estas indústrias estavam concentradas em determinadas regiões econômicas mundiais e que por isso as forças de trabalho que estavam nessas regiões tidas como privilegiadas formavam uma demanda efetiva para essa rápida expansão, que acabou o proporcionar uma renovação urbana, por meio de desenvolvimento geográfico dos sistemas de transporte e comunicações.  

Harvey(1989), afirma que o crescimento tão extraordinário dessa expansão, pós guerra , vinha de uma série de comprometimentos e posicionamentos ou melhor redirecionamentos por parte dos principais atores dos processos de desenvolvimento capitalista.