Después de Levi-Strauss: Por Uma Antropologia de Escala Humana
Por: patriciabahari12 • 26/4/2019 • Resenha • 6.171 Palavras (25 Páginas) • 274 Visualizações
Aluna: Patrícia Torme de Oliveira
BENSA, Alban. Después de Levi-Strauss: Por una antropologia de escala humana. México:FCE, 2015.
1-Depois de Levi-Strauss: Regressar ao real
Richard Bertran é entrevistador de Alban Bensa nesta obra, e o indaga sobre como se encontra a antropologia, vinte anos depois de ter experimentado uma crise importante, no qual o antropólogo Luc de Heush declara em debate, que a antropologia havia se tornada duvidosa tanto com relação ao seu objeto como em seu espírito, logo após a morte de Claude Levi-Strauss, que o entrevistador qualifica como figura tutelar da antropologia. Alban Bensa coloca que a crise é resultado em parte do desajuste entre os grandes textos fundadores da antropologia, bem como a situação concreta do mundo contemporâneo, mas em profundidade se explica principalmente pelo distanciamento e a ruptura progressiva entre a antropologia e a história, e que a ambição fundadora da antropologia era a mesma da sociologia durkheimiana, porém, as ciências sociais do século XIX eram indistintamente históricas e teóricas e este foi o grande erro da antropologia. O autor afirma que quando lemos os grandes pensadores das ciências sociais, todos analisam o mundo a partir de sua história, e não lhes veio à mente a ideia que poderiam obter leis gerais independentes de toda temporalidade.
Para o autor a questão da descontextualização da sociologia e antropologia, sem dúvidas tem a ver com a questão de adquirir consistência da verdadeira ciência, e para isso a antropologia teve que se assemelhar as ciências naturais, tomando-as como modelo e como referencia. Para Bensa, o pai da sociologia Émile Durkhein conserva um modelo evolucionista, mas separa a atividade do sociólogo e de historiador, argumentando que tem que tratar os feitos sociais como coisas, desta forma se instaurando um positivismo calcado nas ciências sociais. O autor destaca que a distinção entre as ciências da natureza e ciências da sociedade, mantém contrariamente uma generalização tipológica, e a atenção nas interações em toda sua especificidade e historicidade. O autor destaca que a trajetória de Levi-Strauss é bem conhecida, pois, durante a segunda guerra mundial em Nova York ele descobre a linguística estrutural de Romam Jakobson, leva ao extremo a ideia de correspondência estrutural dos fenômenos sociais assimilados aos elementos de uma língua a partir da qual havia que idealizar a fonologia e a gramática antropológica, como se a lógica linguística e a lógica social pudessem ser confundidas. Este enfoque confere um poder enorme ao antropólogo, que exclui desta forma a sua disciplina da temporalidade e a consciência de quem podem ter e ser os atores de suas intervenções no mundo social. A ruptura com a história se consome, e justamente o que Strauss amava absolutamente era a filosofia da história fundada no prenúncio dos sucessos, tanto que em sua obra “O pensamento selvagem” afirma que a história conduz a qualquer coisa, na condição que se saia dela.
Alban Bensa descreve que Levi-Strauss se negava a reconhecer a ruptura, porque era apaixonado pela história, e afirmava que esta era o principal objeto da atividade de leitor. O autor coloca que Levi-Strauss, queria por ordem e mostrar que a vida social tinha certa estabilidade formal, aonde não se interessou nos conteúdos e sim nas formas, não nos indivíduos concretos, mas nas totalidades e tenta nos mostrar que as estruturas de um mito são homologas e aquelas de outro mito, são simétricas e inversas as de um terceiro. Mas uma vez exposta de maneira brilhante à arquitetura destas formas, persiste o problema de saber qual é seu suporte. Bensa coloca que os mitos são relatos, feitos de palavras, de linguagem e também fatos históricos e jamais puramente pensamentos. Para diferenciar que as formas não são figuras retóricas conscientemente elaboradas e contextualizadas, e que são categorias a priori da mente, Levi-Strauss deve supor que existe em um tipo de pensamento selvagem que resiste ao tempo, o mito é sem dúvida primeiramente um objeto literário, e colocado em cena de um relato em um momento particular da história da coletividade ou do indivíduo que se converte em seu eco. Já contrariando esta ideia, o pensamento do autor das “Mitológicas” brota de um universo mental pre-estruturado, de uma mente autônoma que engloba as práticas e que não se fala de nada mais do que si mesma. Bensa explica que no modelo levistraussiano não existe a angustia, nem medo ou dúvida nos indivíduos, visto que não fazem mais que executar o programa previsto para estes pobres atores submetidos a instancias que desconhecem.
Bensa descreve que Levi-Strauss em “As estruturas elementais de parentesco” queria demonstrar que as diferentes formas de se casar são as consequências lógicas de um pequeno número de princípios universais que se atualizam localmente nas sociedades, as quais formam um todo, portanto a história passa por um segundo plano, embora os humanos vivam na terra do fogo, na península de Kamchatka ou em Nova York, o homem em sociedade funciona com base em uma reserva comum de opções possíveis, atualizadas passe o que passe por cada universo social singular. Bensa destaca que frente à tarefa levistraussana pela busca da lógica cultural, sustentada em um pequeno número de princípios universais, o trabalho do antropólogo é descrever práticas históricas, o que supõe fazer uma história social das opções humanas, E, supostamente estas opções “lógicas”, são políticas mais que estruturais, e é neste sentido que considera irrelevante o debate holismo-individualismo retomando a Foucault, e defende a história da subjetivação como processo social. O autor coloca que a maior crítica é que a aplicação desse modelo levou a antropologia estrutural francesa a opiniões cada vez mais distantes daquelas dos atores e da vida real onde prima o modelo com consequências teóricas terrivelmente redutoras.
Bensa explica que uma postura como esta permite falar no lugar do outro e reduzir a diversidade a modelos simples, sendo este último objetivo reafirmado incessantemente por Lévi-Strauss, desta forma se ganha autoridade e efetivamente inteligibilidade, e o autor destaca sua opinião e diz que a retirada sobre si mesmo rejeitando o debate, e a operação que o acompanha fazem que se perca no processo uma dimensão essencial do social, a saber de sua historicidade, e que o feito de que os indivíduos tomam decisões, e que tem margens de manobra , que são indecisos, que trocam de opinião, em resumo que teçam sua história, ao navegar entre restrições e oportunidades, além de se se perder pelo caminho toda afetividade.
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