Ela vai cair: o fim da monarquia no Brasil
Por: Pâmela Cristina de Lima • 16/4/2020 • Bibliografia • 4.406 Palavras (18 Páginas) • 169 Visualizações
UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
CURSO DE HISTÓRIA
DISCIPLINA: HISTÓRIA DO BRASIL II
PROFESSOR: LUIZ CARLOS GOLIN
ACADÊMICA: PÂMELA CRISTINA DE LIMA
SÚMULA
Ela vai cair: o fim da monarquia no Brasil[1]
A década de 1870 chegou em tom de turbulência no Brasil imperial. Em 1865, a Guerra do Paraguai teve início, marcando o envolvimento das forças e recursos brasileiros num conflito que não seria breve, e muito menos, fácil. Aliado a Argentina e Uruguai, o capital fora usada para custear as despesas da guerra, restando pouco para investir internamente. O déficit orçamentário, de onze vezes o orçamento do governo, viria a persistir até o fim da Monarquia.
Não foi o conflito com o Paraguai que gerou desencadeou as complicações na política internacional brasileira. Antes mesmo de este ocorrer, ocorrera a Questão Christie (em 1862), no contexto de preparação do Brasil para exibir a importância da agricultura tropical em Londres. Willian Christie, representante da Inglaterra no império, julgou uma ofensa a prisão de três ingleses bêbados, no Rio de Janeiro. Em represália, ordenou que a esquadra inglesa no Rio bloqueasse o porto e apreendesse navios mercantes brasileiros (cinco, ao total). O problema foi de grandes proporções, e por muito pouco não se converteu em guerra. A zombaria para com o modo como o inglês conduzia sua diplomacia era constante. O imperador, Pedro II, decidiu romper as relações pela diplomacia, e Christie acabou cedendo quando o rei da Bélgica, chamado para arbitrar a questão, deu ganho ao Brasil, obrigando a Inglaterra a se desculpar formalmente. As relações entre os dois países ficaram suspensas por dois anos.
A década de 1860 fora turbulenta, ainda, do ponto de vista social (e econômico): cada vez mais ocorriam apologias e apoios à abolição da escravidão. Nos EUA, ao fim da Guerra de Secessão (1865), a Constituição abolira a escravidão, assombrando as elites locais, cujo sustentáculo era justamente o trabalho dos escravizados. A esta altura, apenas Cuba era mantenedora do sistema, além do Brasil. Esta questão, porém, viria a ser adiada, dada a crise na região do Prata e o envolvimento brasileiro no contexto. A Guerra que estava para começar, da Tríplice Aliança, se transformaria numa questão nacional, além de suprapartidária.
Em torno dos Rios Paraguai e Uruguai, quatro nações disputavam terras, recursos e riquezas: Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. O acesso à navegação pela bacia platina estava em jogo, bem como a hegemonia sobre o local e a conformação de processos nacionais diferentes. A região, historicamente, apresentara outros conflitos, demonstrando-se como área de interesses. Os brasileiros, atentos ao fantasma da abolição, perceberam que os negócios do Prata eram assuntos de trato imediato e, a partir de 1851, passaram a figurar dentre os principais temas da política brasileira, ignorando-se os censos que apontavam para um exorbitante número de escravizados em relação a pessoas livres. O Prata havia chamado a atenção. Envolvido na Guerra do Prata desde 1851, em 1852 ocorreu a capitulação de Rosas, ditador argentino. Neste mesmo contexto, o Uruguai passava por uma guerra civil, dividida entre o polo do Partido Blanco (liderado por Aguirre) e do Partido Colorado (liderado por Flores), este último apoiado por Brasil e Argentina. Em 1865, Aguirre assinaria um acordo de paz com o Brasil.
Para além dos conflitos entre estes três Estados, um quarto apareceria no tabuleiro: o Paraguai. Em solo argentino, Bartolomé Mitre candidatava-se com o intuito de centralizar o Estado. No Brasil, era a vez de o Partido Liberal chegar ao poder, após anos de conservadorismo. No Paraguai, entre sucessões presidenciais, assumiria Francisco Solano Lopez, que se chocaria com o Império brasileiro, sobretudo porque este não aceitava a mediação de Lopez nos conflitos com o Uruguai, buscando Montevidéu para si, como uma alternativa ao comércio com o exterior. A região da capital uruguaia era requisitada, também, pelos argentinos. Estavam formados, assim, os dois blocos: federalistas argentinos, blancos uruguaios e o Paraguai; Império brasileiro, colorados e governo argentino.
O cenário sul-americano, deste modo, funcionou como local de experiência e construção de uma ordem política, marcada pelas nações recém-independentes e, ainda, pelas disputas entre ambos pela imposição hegemônica. Os conflitos internos logo apareceram, evidenciando as diferentes tendências dos diferentes governos: tinha-se um Império e três repúblicas estáveis, no contexto do conflito, opondo civilização e barbárie, o imperador contra os caudilhos (na interpretação historiográfica tradicional, a la IHGB). O cenário estava pronto, e o estopim não demoraria: em solo uruguaio residiam brasileiros, que recorreram ao império para relatar abusos contra si, bem como pressões aos criadores de gado do Rio Grande do Sul. O Império exigiu providências, mas não foi atendido, ocorrendo uma invasão ao Uruguai. Entram em jogo, também, as intenções paraguaias de obter uma saída para o mar. Com isso, a guerra teve início, e em 1864 foi aprisionado um barco brasileiro, bem como se deu a invasão de Lopez ao Mato Grosso. Em abril de 1865, este general invadiu a Argentina (Corrientes e Entre Rios), províncias até então aliadas a seu exército. Tal ato isolou-o em meio a um campo minado.
No Brasil, Pedro II partiu para a região de fronteira com a área platina em julho de 1865, na figura de “voluntário nº 1 do exército”. Chegando a Uruguaiana, encontrou os chefes militares aliados. O conflito, porém, dividia opiniões, dada a decisão difícil de nele ingressar e as dúvidas quanto ao como sair. Muitos viram na ambição e autoridade desmedida de López os motivos principais, acusando o presidente da ocorrência da guerra, em muito pautando-se na opinião “anti-caudilhista” do imperador brasileiro. A política imperialista da Inglaterra é outra das explicações: dada a influência do local em suas finanças, o país teria selado amizades e permeado discórdias, vitimando López em meio a tal “conspiração”. A terceira intepretação atenta às particularidades dos processos históricos de cada país envolvido, verificando-se a importância da navegação na região ao Brasil, conectando-o ao comércio e ao Mato Grosso (por via fluvial). A Argentina, por sua vez, visava à ampliação de suas possessões e esfera de influência. López sentira-se afetado pelos interesses de navegação e fronteiras das demais nações vizinhas, além das desconfianças comuns que as repúblicas americanas tinham para com o Império escravocrata brasileiro.
...