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Em Busca de emancipação política e humana

Por:   •  6/6/2018  •  Artigo  •  3.271 Palavras (14 Páginas)  •  127 Visualizações

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Disciplina: Tópicos Especiais em Política Social: Emancipação política, Emancipação Humana e Direitos Sociais

Docente: Prof. Dr. Paulo Cesar Duarte Paes

Discente: Alexsandro E. P. de Souza

Em busca de emancipação política e humana:

Lutas por redistribuição e reconhecimento no século XXI

Resumo

Imersos no automatismo imposto pela vida cotidiana, cujo parâmetro é a sociabilidade burguesa, nos vemos alienar dia-após-dia, seja no âmbito individual quanto no social. Foi Karl Marx, no século XIX, um dos principais teóricos a explicitar está triste realidade na qual os seres humanos se perdem cotidianamente de si mesmos, traçando no âmbito teórico estratégias para uma subversão social cujo resultado seria a restituição dos indivíduos a sua essência de seres genéricos. A essa restituição Marx denomina emancipação. Nos dias atuais ouvimos pouco falar de emancipação, não obstante, tanto no campo teórico-acadêmico quanto no político-militante o que seus atores almejam é uma maior autonomia dos indivíduos aos quais representam. Isto posto, buscamos, nas linhas se seguem, estabelecer um diálogo entre as lutas por distribuição e aquelas que visão o reconhecimento, presentes no âmbito teórico-prático do século XXI, e perceber como estas propiciam a busca por emancipação política e humana suscitada por Marx.

Palavras-chave: Emancipação, Distribuição, Reconhecimento            


Introdução

A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer dinheiro
E felicidade
A gente não quer
Só dinheiro
A gente quer inteiro
E não pela metade...

(Música: Comida, Composição: Arnaldo Antunes/Sérgio Brito/Marcelo Fromer)

Em nossa época, por oposição a momentos sócio-históricos anteriores, o vocábulo e categoria analítica emancipação tem sido pouco evocada nos discursos teóricos e mesmo militantes. Vemos, por vezes, como aproximação conceitual àquela, expressões como liberdade, empoderamento, reconhecimento e insubmissão. Tal fato se deve, a nosso ver, devido, sobretudo, as novas conjunturas socioeconômicas e político-culturais engendradas no contexto da segunda metade do século XX, o que por sua vez demandou a abrangência e o refinamento teórico-conceitual no que diz respeito ao conjunto de opressões vivenciadas pelos diferentes grupos sociais, em substituição a exclusividade dada as análises sobre as opressões imputadas às classes assalariadas.

Esta nova realidade, suscitada com o estágio capitalista em seu momento neoliberal, tem chamado a atenção de acadêmicos e militantes que integram os mais diversos movimentos sociais e, por conseguinte, fomentando intensos debates entre os diferentes atores, cujo ponto fulcral é a antítese entre distribuição econômica e reconhecimento de status no que tange a quebra dos grilhões que limitam a vida cotidiana de distintos grupos, historicamente subalternizados. Esta antítese se deve ao fato de que para alguns, guiados pela concepção materialista, a redistribuição econômica através da limitação da propriedade privada é o meio mais acertado afim de um profícuo estabelecimento de justiça social; em oposição a esta concepção teórica, hegemônica por mais de um século, verifica-se a percepção de alguns teóricos e militantes alinhados as teorias culturalistas, segundo a qual é pela extinção dos privilégios simbólicos monopolizados por um determinado grupo cultural, que os demais grupos, em sua totalidade, poderão usufruir do respeito a suas singularidades e, consequentemente, a condições iguais de desenvolvimento socioeconômico.

Não objetivamos aqui pormenorizar as contribuições, nem mesmo elaborar uma crítica a tais concepções teóricas, mas sim resgatar algumas possibilidades que esses arcabouços teóricos nos propiciam afim de vislumbrar no horizonte meios para se galgar a emancipação política e quiçá humana, guiada aqui pela perspectiva marxiana, que salienta:

A emancipação política de fato representa um grande progresso, não chega a ser a forma definitiva de emancipação humana em geral, mas constitui a forma definitiva de emancipação humana dentro da ordem mundial vigente até aqui. Que fique claro, estamos falando aqui de emancipação, de emancipação prática (Marx, 2010, p.41).

Introduzimos aqui a perspectiva marxiana - que pretendemos desenvolver ao longo deste ensaio - de emancipação, apresentando-a em duas categorias, a saber: emancipação política e emancipação humana. Sabemos, Marx utiliza essa categoria analítica com maior propriedade em seu A questão Judaica de 1843. Não obstante, as concepções ali compreendidas são, mesmo diante das novas perspectivas socioeconômicas dadas pela dinamicidade social, passíveis de serem revistas e utilizadas em nossa época, pois verifica-se, mais de um século e meio após sua utilização como categoria analítica afim de indicar os caminhos para a vida plena dos indivíduos, esta, mesmo sendo pouco evocada, não se tornou obsoleta.

Lutas por redistribuição e por reconhecimento: uma falsa antítese

 

A expansão econômica ocorrida após a Segunda Guerra Mundial, expressão da tríade fordismo, keynesianismo e Estado de Bem-Estar Social, trouxe consigo a sensação de amenização dos conflitos político-econômicos suscitados com a Grande Depressão, deixando intocado o fator que acabou por engendrá-la, a essência da sociedade capitalista, a exploração do trabalho e como consequência, o lucro. Com efeito, os Trinta Anos Gloriosos (1945-1975) possibilitaram, como pano de fundo, com que os perversos efeitos da Crise de 1929 fossem mitigados e que o desenvolvimento do capitalismo, agora em seu estágio financeiro, fosse levado a cabo.

Resultado deste Ciclo de Prosperidade foi o fortalecimento dos sindicatos, a fim da manutenção e avanço das conquistas sociais adquiridas pelas classes trabalhadoras e, atrelada a esse fortalecimento, uma maior consciência de classe, possibilitada pela junção dos trabalhadores nas grandes fabricas, o que por sua vez lhes permitiram visualizar uma condição de igual exploração (Hobsbawn, 1995; Mota, 1995).

Simultaneamente a este processo de mobilização da classe trabalhadora e, consequentemente, do tensionamento entre classes, houve a maior inclusão de coletividades sociais que se encontravam até então, em sua maioria, excluídas das forças de produção e, como resultado, da parte benéfica do fortalecimento industrial, a exemplo das mulheres e dos negros[1] (Fraser, 2002; Fernandes, 2008). Entretanto, a continuidade das desigualdades socioeconômicas e culturais no período de Bem-Estar Social, que afetavam de modo mais específico as coletividades sociais “recém” inseridas à classe proletária, permitiu com que outras questões, para além das suscitadas pela divisão de classes, tomassem maior proeminência no interior desses grupos, daí o surgimento nas décadas de 1960 e 1970, comitantemente a crise da Era de Ouro do capitalismo, dos chamados movimentos identitários e culturais no âmbito dos continentes americano e europeu (Harvey, 1993).

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