Endividamento Das Familias Brasileiras
Pesquisas Acadêmicas: Endividamento Das Familias Brasileiras. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: andreia10 • 31/10/2013 • 5.004 Palavras (21 Páginas) • 449 Visualizações
1
SOBRE A POLÍTICA DE ASSISTÊNCIA
SOCIAL NO BRASIL1
Potyara Amazoneida Pereira Pereira
I
Falar de assistência social não é tarefa fácil, porque vários são os
preconceitos e idéias equivocadas que ainda cercam essa matéria. Embora esse
tipo de assistência seja um fenômeno tão antigo quanto a humanidade e esteja
presente em todos os contextos socioculturais, poucas ainda são as contribuições
teóricas que ajudam a melhor precisá-Io do ponto de vista conceitual e políticoestratégico.
Isso significa que a assistência social tem sido sistematicamente
negligenciada, não só como objeto de interesse científico, mas como componente
integral dos esquemas de proteção social pública que, desde os fins do século e,
mais especificamente, a partir dos anos 40 do século XX, expressam
institucionalmente a articulação (nem sempre pacífica) entre Estado e sociedade,
com vista à definição de direitos e políticas de conteúdo social.
Em decorrência desse fato, a assistência social quase nunca é vista pelo
que ela é - como fenômeno social dotado de propriedades essenciais, nexos
internos, determinações histórico-estruturais, relações de causa e efeito, vínculos
orgânicos com outros fenômenos e processos -, mas pelo que aparenta ser, pela
sua imagem distorcida pelo senso comum ou, o que é pior, pelo mau uso político
que fazem dela, por falta referências conceituais, teóricas e normativas
consistentes. Assim, a assistência social é comumente identificada como um ato
subjetivo, de motivação moral, movido espontaneamente pela boa vontade e pelo
1 Política social e democracia / Maria Inês Souza Bravo, Potyara Amazoneida Pereira Pereira (orgs) - 2. ed. –
São Paulo: Cortez; Rio de Janeiro: UERJ, 2002.
2
sentimento de pena, de comiseração ou, então, quando praticada pelos governos,
como providência administrativa emergencial, de pronto atendimento, voltada tãosomente
para reparar carências gritantes de pessoas que quedaram-se em estado
de pobreza extrema.
Isso explica por que a assistência social é geralmente considerada medida
pura e simples de subsistência e, por isso, tida como antítese ou avesso de
categorias teóricas que integram, definem e conferem honorabilidade aos
sistemas de proteção social modernos, tais como: política social, cidadania,
promoção social e trabalho assalariado.
Para muitos, portanto, a assistência social não é política social porque,
além de não lhe serem exigidas sistematicidade, continuidade no tempo e
previsibilidade de recursos, ela não se organiza em torno de decisões informadas
por conhecimentos científicos, mas em torno de uma anomalia social, qual seja:
uma "clientela" negligenciada que, a rigor só existe porque as políticas sociais e
econômicas (saúde, educação, previdência, habitação, trabalho, renda etc.), que
deveriam impedi-la de existir, não funcionam a contento. Sendo assim, a
assistência social não passa de uma incômoda reserva estratégica ou uma
"tapeação" política das elites no poder, que a acionam para encobrir as falhas das
demais políticas socioeconômicas.
No rastro dessa percepção, a assistência social também não é considerada
um direito de cidadania, mas um antidireito, que estigmatiza e humilha quem dele
necessita. Daí a sua incompatibilidade com o valorizado conceito de "promoção
social", presente em quase todas as propostas sociais de instituições
governamentais e não-governamentais. Não é de estranhar, destarte, o fato de, no
âmbito dessas instituições, as atividades que promovem os indivíduos não serem
consideradas de assistência social - mesmo sendo gratuitas, desmercadorizadas e
dirigidas a segmentos populacionais de baixa renda. É o caso das bolsas de
estudo, do incentivo à produção, da renda garantida, da educação básica, do
3
treinamento profissional, da defesa de direitos, da capacitação para o exercício da
cidadania, do acesso à justiça, dentre outros. E a fonte norteadora dessa
diferenciação é a ideologia, que não se baseia em fatos ou em evidências
empíricas, mas em prenoções arraigadas que, apesar de abstratas, têm a força de
legitimar práticas equivocadas, as quais, por sua vez, reforçam a ideologia.
No que se refere ao trabalho assalariado, o confronto ideológico com a
assistência social é mais destacado, principalmente pelos defensores do primado
do mercado no processo de satisfação de necessidades. Nessa confrontação, a
idéia dominante é a de que, se houvesse emprego para todos, a assistência
...