Estrutura e Dinâmica Social
Por: Luiz Gonzaga • 22/8/2016 • Dissertação • 1.775 Palavras (8 Páginas) • 406 Visualizações
Trabalho da disciplina Estrutura e Dinâmica Social – Prof. Claudio
Aluno: Luiz Gonzaga de Lima Neto – 21016215
TEXTO: Olhares antropológicos sobre a família contemporânea – Claudia Fonseca
O texto em questão trata de como a estrutura familiar é tratada no período chamado de “pós-moderno”, e as mudanças no conceito e imagem da família com a qual temos contatos: De uma estrutura nuclear, composta pelo casal heterossexual e seus filhos, originada no período moderno, passamos hoje a uma pluralidade de formas que mesmo com alguns traços comuns, não possui características que possamos encaixar num Tipo Ideal weberiano (modelos conceituais construídos pela sociologia para compreender a realidade) da “família pós-moderna”. Por outro lado, diversos autores encaram justamente essa própria falta de modelo como um traço característico da família contemporânea.
O artigo também demonstra que, apesar de posto em xeque, ainda existe um conceito de estrutura familiar nuclear que possui certo grau de hegemonia e é encarada por grande parte da sociedade como um modelo para ser seguido, principalmente em ambientes mais conservadores, o que gera uma certa resistência ante o caráter desintegrador e descentrado possuído pela estrutura familiar pós-moderna. Essa resistência pode ser expandida com uma análise pautada na visão da sociologia de Émile Durkheim, onde a estrutura familiar nuclear poderia ser considerada um Fato Social, ou seja, um fenômeno externo ao sujeito que “molda” seu comportamento, seja através de regras, tradições ou crenças, de acordo com um modelo que permita o bom funcionamento da Sociedade. O indivíduo, nesse caso, teria um caráter passivo, sendo constrangido pelas normas que a Sociedade já teria prontas e que garantiriam seu funcionamento saudável.
Para Durkheim, então, a família pós-moderna seria encarada como um grande problema, já que para o autor o Fato Social é o objeto de estudo principal da sociologia, e conforme descrito anteriormente, ele precisa ser um modelo que já é encontrado pronto e exterior ao indivíduo. Ora, se na família pós-moderna o que nós encontramos é justamente a ausência de um padrão, de normas que a moldam, o “Pai da Sociologia” iria considerar esse conceito um perigo para a ordem social. É preciso lembrar aqui da influência positivista na sociologia de Émile Durkheim, influência esta que acabou por tornar o método investigativo da Ciência Social dessa época deveras parecido com o das Ciências Naturais. Um corpo saudável era um corpo que funcionava com todas as suas partes em harmonia, assim como uma sociedade saudável era aquela onde todas as suas “partes” funcionavam de maneira ordenada.
Durkheim chama de Anomia o estado onde a sociedade não se comporta dessa maneira harmônica e ordenada, estado esse gerado pela ausência de regras e normas regulatórias implícitas ou explícitas que visam nortear o bem-estar social, regras essas podendo ser os próprios Fatos Sociais. É preciso levar em conta nesse tipo de análise, todavia, o período histórico no qual se encaixa o autor estudado, bem como a convicção de Durkheim de que a sociedade precede ao indivíduo e se relaciona com este de maneira essencialmente normativa e coercitiva.
Voltando ao texto de Cláudia, a autora chama a atenção ao fato de que embora o conceito da estrutura familiar nuclear “tradicional” venha perdendo força na pós-modernidade, a família propriamente dita passa ao mesmo tempo por uma ressignificação, onde alguns laços outrora menos importantes como as redes de parentesco (tios, avós, primos, etc.) ganham um maior destaque, em grande parte devido à facilidade de comunicação dos tempos atuais, e por um reforço dos laços afetivos, onde, parafraseando a autora, “o valor central de um relacionamento não é mais a linhagem ou o nome da família, mas sim a felicidade dos indivíduos”, com afeto sendo o ponto caracterizador de matrimônios e relacionamentos. A autora cita que essa mudança de paradigma quanto aos valores que caracterizam a base da vida familiar colocando o afeto (ou amor romântico) como norteador de relacionamentos começou com o advento da revolução industrial, e que as mudanças que foram ocorrendo gradualmente nas dinâmicas familiares na Europa e América do Norte foi uma extensão desse ideário moderno iniciado na revolução industrial.
Essa mudança de paradigma (dos valores que pautam a formação e união de uma família, e não no da família nuclear em si) abre um questionamento ante o conceito durkheiniano de Consciência Coletiva, que pode ser resumido como “o conjunto cultural normativo comum aos membros de uma sociedade, e que existem de maneira exterior e anterior a estes”, e que segundo Durkheim, submete o indivíduo, deixando-o sem autonomia frente a sua estrutura ou tecido social. Mas se as mudanças desses valores em relação à formação familiar mudaram de acordo com pretensões individuais, será que o indivíduo não possui, realmente, grau de autonomia suficiente para que seus desejos, quando agrupados em um coletivo, possam mudar essa sociedade? Alguns sociólogos do Século XX, como Norbert Elias em seu livro A Sociedade dos Indivíduos e Pierre Bourdieu, com sua teoria acerca do Habitus dentro dos mais diversos Campos estudaram de maneira mais aprofundada, e que não cabe a esse trabalho, sobre as fronteiras dessa relação entre o indivíduo e a sociedade e suas influencias entre si.
Finalmente, podemos relacionar a mudança da identidade conceitual da família, de uma ideia nuclear e patriarcal para uma “ausência de identidades fixa” pós-moderna com a obra do sociólogo contemporâneo Zygmunt Bauman, que traz ao debate o conceito do sujeito líquido, ou seja, aquele que possui múltiplas identidades que se alternam dependendo do contexto em questão. A imagem rígida do pai de família, autoritário e provedor, dá lugar ou se junta a inúmeras outras, como a do torcedor de seu time, a do engajado social, dentre diversas outras até mesmo conflitantes, e sem necessariamente existir uma hierarquia dentre elas. Não existindo, então, uma figura central na qual podemos construir a identidade familiar, é possível compreender a dificuldade, e até mesmo a falta de necessidade de se criar uma base indentitária para a família pós-moderna, pois esta se dará num ambiente onde as identidades são alternantes todo o tempo, conforme o contexto social necessário. Bauman é pessimista, porém, quanto ao afeto e o amor nas relações, pois crê que que justamente devido a essa multiplicidade de identidades e mudanças dentre elas que o indivíduo está sujeito, não seja possível criar vínculos e laços duradouros. Claudia não compartilha essa visão pessimista, crendo que a busca individual pela auto-realização e satisfação emocional leva tanto à maior facilidade de criação desses vínculos relacionais quanto seu rompimento, já que existe uma maior aceitação lógica de que, se o amor acabou, o relacionamento não precisa continuar.
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