Feminismo Radical

O que significa ser uma feminista radical

Posted on January 6, 2014 by juliadiv

Texto de: Mary Daly

Essa passagem foi retirada de uma palestra dada por Mary Daly na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) em 1987. É mais relevante hoje do que nunca.

Ser uma feminista radical envolve um senso de alienação radical, incrível, extasiada do que o patriarcado quer que eu seja. Eu não sou uma mulher patriarcal. Eu não quero nada disso. Quero menos ainda suas paixões plásticas; a amargura, a depressão, a resignação, a satisfação. Que espaço sobra pra nos movermos?!

Implica um conhecimento das sanções do patriarcado. Mas eu tomo essa decisão mesmo assim, porque eu sei que serei punida tanto se for um pouquinho feminista quanto se for até o fim. Então eu vou até o fim.

Feminismo radical significa eu experimentar insulto em prol de mulheres ENQUANTO MULHERES. Não sou desviada a outra categoria. Eu não me distraio com nenhuma categoria de homens. Sinto muito pelas mulheres da China, que, por mil anos, tiveram o pé de três polegadas. Sinto muito pelas mulheres genitalmente mutiladas da África, há pelo menos 30 milhões delas. E eu não me rebaixarei por afirmações ridículas de que isso é RACISTA. Sinto muito pelas mulheres, as irmãs que foram massacradas como bruxas na Europa ocidental durante a tal suposta “Renascença” e por aquelas mulheres hoje massacradas na perpétua caça às bruxas do patriarcado.

Feminismo radical significa que eu me identifica com mulheres acima de quaisquer barreiras raciais, étnicas, de classe ou idade. Significa que eu vejo a opressão da ginecologia e da nossa medicina Ocidental, pelo sutee Indiano [1] que ainda continua, pelas mortes por dote [2] acolá, pelo incesto aqui, pelo espancamento de mulheres aqui, acolá e em todo lugar, eufemisticamente chamado de “violência doméstica,” – aquele tipo de linguagem reversa, e por mulheres que são estupradas, e por mulheres que são vítimas de abuso pornográfico.

Feminismo radical envolve firmeza, e isso significa constância, significa persistência, significa que quando não é legal ser feminista radical, e nunca realmente é, eu serei de qualquer forma por um motivo muito simples – e isso me torna a Lunática que sou: que mesmo que eu fosse a última, eu ainda seria, PORQUE EU SOU UMA MULHER! É ISSO QUE SOU!

Não sou outra coisa pra me identificar com outra coisa, pra estar sempre apoiando a causa de outro alguém; Marchar, marchar, marchar. Lutar, lutar, lutar – a guerra de um outro homem. EU SOU UMA MULHER!

É isso que é feminismo radical.

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[1] Sati ou sutee: prática em que a mulher viúva deve cometer suicídio no funeral do marido.

[2] Morte por dote: assassinato ou suicídio de jovens mulheres após sessões de tortura, geralmente praticadas pelo noivo e cunhados, afim de obter um dote maior para o casamento.

LINK: https://feminismoasraizes.wordpress.com/2014/01/06/o-que-significa-ser-uma-feminista-radical/