Festa de Santo Antônio: O Limiar entre o Sagrado e o Profano; Religiosidade e Cultura Popular em Barbalha de 2000 a 2012.
Por: Hermes Cezar Limaverde Starkey • 1/9/2017 • Artigo • 10.457 Palavras (42 Páginas) • 490 Visualizações
“Festa de Santo Antônio: O Limiar entre o Sagrado e o Profano; Religiosidade e Cultura Popular em Barbalha de 2000 a 2012.”
RESUMO: Este artigo científico discute o limiar entre o sagrado e o profano na religiosidade e cultura popular dentro da festa de Santo Antonio em Barbalha, tomando por referencial teórico principalmente as obras de Emile Durkheim em “As formas elementares da vida religiosa” e Mircea Eliade em “O Sagrado e o Profano”, bem como outros estudos ligados a essa temática. Percebe-se que a festa de Santo Antônio começou de forma simples, mas a partir do momento que o Padre José Correia de Lima instituiu o carregamento do “pau sagrado” para o hasteamento da flâmula do “Santo Casamenteiro”, a história começou a tomar a forma da qual é conhecida hoje. Dessa forma, faz-se um paralelo entre as duas visões, de um lado está o Catolicismo Oficial, e de outro, está o da religiosidade popular. Portanto, O Sagrado e o Profano tornam-se elementos que convivem em uma harmoniosa simbiose apesar de serem construções que nasceram com aspectos diferentes, porém apesar de não se misturarem totalmente, o sagrado e o profano convivem nas múltiplas representações folclóricas e culturais populares.
PALAVRA-CHAVE: Barbalha, festa, Santo Antônio, pau-da-bandeira, sagrado, profano, convivência, tempo, espaço, expressão cultural.
O presente material intitulado “Festa de Santo Antônio em Barbalha: O limiar entre o sagrado e o profano na religiosidade e cultura popular” tem como objeto de investigação as diferentes manifestações religiosas e culturais na Festa do Pau da bandeira, que está inserida nos festejos de Santo Antonio, padroeiro daquela Cidade, que nos dias atuais é considerada a maior festa de padroeiro do Nordeste Brasileiro.
Barbalha está localizada no Sul do Estado do Ceará (É integrante da Região Metropolitana do Cariri criada em 2009, sendo a segunda maior aglomeração urbana do Estado, ficando atrás apenas da Região Metropolitana da capital Fortaleza). Aquela urbe está inserida num expressivo espaço ecológico da chapada do Araripe que possui um dos maiores acervos paleontológicos do Brasil. Reconhecida por cientistas renomados na especialidade, sendo portadora de prédios típicos da arquitetura colonial, como o “Casarão Hotel”, construídos em 1859, abrigava senzalas no subsolo, armazéns no térreo e residência no primeiro andar, onde hoje esta instalada a secretaria de Cultura e Turismo, bem como a casa da Câmara e a cadeia Pública, com porte habitacional médio em torno de 55mil habitantes ocupa a 14º colocação, no Estado em termos de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) geral e a 10º posição em se tratar de IDH- Educação.
Dessa forma Barbalha é portadora de espaços turísticos de fácil acesso por estradas asfaltadas, todas em bom estado de conservação. O aeroporto apresenta infraestrutura satisfatória localizado na cidade de Juazeiro do Norte, a 12 km da mesma, há ainda uma diversidade de transportes alternativos além de linhas de ônibus regulares. Como espaço de lazer, destaca o balneário de Caldas e o Arajara Park sendo estes de propriedade privada. De acordo com opinião de moradores a rede hoteleira, e as pousadas são de porte razoável. A cidade também dispõe de restaurantes especializados na gastronomia regional, que satisfaz a população em geral e especialmente aos turistas. Como já foi mencionado Barbalha é uma cidade histórica que apresenta patrimônio arquitetônico, paisagens especiais, meio ambiente preservado, onde a beleza natural encanta a todos, pois oferece ao turista visitante uma viagem pelo cenário ainda vivo de um passado tão impressionante, como foi o do Brasil Colonial e Imperial. Dessa forma, os moradores permitem uma profunda interação, o que possibilita a obtenção de conhecimento acerca da história e da cultura regional. (Outra fonte que permite uma visão do quadro cultural é o documentário “Memória dos Prédios históricos de Barbalha” do cineasta Rosemberg Cariry). A hospitalidade é uma característica marcante o que torna o lugar propício para os turistas que buscam bem estar, ou seja, lazer e entretenimento.
Porém, além de tudo isso a referida cidade é possuidora de um diferencial das demais da região, que é a tradicional festa de Santo Antônio realizada no final de Maio para o inicio de Junho. É uma festividade tradicional que ocorre anualmente há mais de 100 anos e conta com um público variado de mais de 300 mil pessoas oriundas de cidades circunvizinhas bem como de número expressivo de visitantes de outras partes do Nordeste, assim como, de todo o País. A abertura desses festejos tem início a partir do último domingo de maio ou do primeiro domingo de junho, estendendo-se até o dia 13 de junho, ou seja, dependendo do calendário.
“Barbalha hoje tem uma manifestação cultural muito grande e muito importante, não só para a Região do Cariri como também para o estado do Ceará e por que não dizer para o Brasil. Nós já tivemos há três décadas atrás, aproximadamente cem grupos da cultura popular, onde nós tínhamos reisados, penitentes, bandas cabaçais, lapinhas, maneiro pau, são diversos grupos né? Que permeiam a cultura popular de Barbalha e hoje com a ajuda da Secretaria de Cultura nestas três décadas tem sido também de organizar os seus movimentos procurando da forma mais justa desenvolver um trabalho onde todos eles consigam mostrar essas manifestações da forma mais pura e mais interessante possível. Então a festa de Santo Antônio tem sido um dos momentos onde esses grupos buscam se apresentar e mostrar a sua tradicionalidade, a sua cultura a todos os turistas que aqui passam né? E que nos deixam um legado muito importante, porque todos eles vem em busca de fazer um documentário, registros e isso é muito importante na difusão desses grupos e da cultura popular de Barbalha.” [1]
Barbalha, nesta oportunidade, polariza a multiplicidade de manifestações culturais que se apresentam na festa do “Pau da Bandeira” onde ocorre mutuamente o sagrado e o profano, ou seja, no mesmo espaço e ao mesmo tempo existindo assim uma convivência entre os dois. É considerada a maior atração turística do município, com abertura por ocasião do cortejo do referido “Pau da Bandeira”, um mastro com mais de 20 metros, pesando em torno de 2,5 toneladas. O pau “sagrado” é transportado ao longo de nove quilômetros nos ombros de cerca de 200 carregadores, como forma de penitência e tradição, até ser fincado em frente à Igreja Matriz.
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