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INTERSSECIONALIDADE – VISIBILIDADE NEGRA NA MÍDIA

Por:   •  1/9/2019  •  Artigo  •  1.421 Palavras (6 Páginas)  •  277 Visualizações

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O presente trabalho pretendeu abordar brevemente a interseccionalidade existente nos meios de comunicação/mídia através da presença de mulheres negras na web. Por um lado, a mídia nos mostra em grande maioria pessoas brancas e, nas pouquíssimas vezes em que pessoas negras aparecem, elas estão dentro de estereótipos raciais. As redes sociais através de blogs, Twitter, Facebook, Instagram, Youtube podem ser ferramentas estratégicas como um meio de confrontação a esses estereótipos, pois possibilita agência das pessoas no sentido de poderem contar suas histórias a partir de si mesmas, da produção de discursos próprios horizontais, trazendo dessa forma práticas plurais e heterogêneas, além de articulação com setores diversos da sociedade.

Interseccionalidade (ou teoria interseccional) é o estudo da junção de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação e/ou discriminação. A teoria sugere e procura examinar como diferentes categorias biológicas, sociais e culturais, tais como gênero, raça, classe, orientação sexual, religião, idade e outros eixos de identidade interagem em níveis múltiplos e muitas vezes simultâneos. O conceito de interseccionalidade foi batizado desta maneira por Kimberlé Williams Crenshaw, feminista e professora especializada nas questões de raça e de gênero. Crenshaw usou este termo pela primeira vez em uma pesquisa datada de 1991 sobre as violências vividas por mulheres de cor nas classes desfavorecidas nos Estados Unidos. Segundo Crenshaw, as interseccionalidades são formas de capturar as consequências da interação entre duas ou mais formas de subordinação, como: sexismo, racismo, patriarcalismo. A noção de ‘interação’ entre formas de subordinação supera o efeito de superposição de opressões.

Existem distintas abordagens sobre interseccionalidade, embora façam uso dos mesmos termos para referir-se à “articulação entre diferenciações”. As interpelações diferem quanto à compreensão e emprego de diferença, poder e “margens de agência” concedidas ao sujeito (PISCITELLI, 2008). Piscitelli (2008), afirma que algumas autoras trabalham também com o termo “categorias de articulação”.

Hoje em dia, em uma rápida navegação na internet é possível encontrar um grande número de mulheres brancas cis produzindo conteúdo, reflexões, promovendo debates, desenvolvendo textos, imagens e campanhas de conteúdo em várias vertentes. A mídia nos bombardeia diariamente com corpos estereotipados, pertencentes aos padrões que correspondem a referência da ordem social das interconexões que preenchem (se adequam) a matriz de heterossexualidade entre sexo, gênero e o desejo. Mulheres, heterossexuais, brancas, magras, objetos de desejo de homens, heterossexuais, brancos, “sarados”.

Em frente a isso nos perguntamos: O quanto somos influenciados por esses padrões estereotipados? O quanto a mídia dá espaço para corpos fora dessa “matriz”? Quem são as referências, de hoje, em moda/beleza/influenciadora digital?

Por isso, ao realizar o trabalho desta cadeira perguntamos ao grupo de alunos: “Quando você pensa em modelo/atriz/influenciadora, quem te vem à cabeça?”, usando o software Mentimeter, disponível em: https://www.mentimeter.com

As pessoas citadas foram: Gisele, Djalma Ribeiro, Kim Kardashian, Bruna Linzmeyer, Brie Larson, Blogueirinha de Merda, Jout Jout, “Alguma branca de Instragram”, Tyra Banks, Nataly Neri e Jéssica Lopes.

Podemos observar que no grupo utilizado para o trabalho (n=18) é possível notar o efeito da tendência midiática em apontar quem são nossas referências de beleza/moda/celebridade pois a maioria de pessoas citadas foram mulheres brancas cis.

Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2011) a população negra representa 54% dos brasileiros. Ainda assim, o grupo é um dos menos representados na publicidade e na mídia. De acordo com o estudo TODXS – “Uma análise de representatividade na publicidade brasileira”, a publicidade brasileira ainda reforça estereótipos e continua a não representar a real diversidade presente na sociedade. Os dados da 6ª onda do relatório Todxs por elas, disponibilizado em 2018, indicam que do total de protagonistas homens na publicidade brasileira veiculada na TV (que correspondem a 21%), 11% são negros e 14% são diversos, a maioria é de brancos. Dentre as mulheres protagonistas (que correspondem a 20% do total), 16% são negras e 11% são diversas, novamente a maioria é branca.

Os meios de comunicação vêm se constituindo em um espaço de interferência e agendamento de políticas do movimento de mulheres negras, pois a naturalização do racismo e do sexismo na mídia reproduz e cristaliza, sistematicamente, estereótipos e estigmas que prejudicam, em larga escala, a afirmação de identidade racial e o valor social desse grupo (CARNEIRO, 2003).

A presença minoritária de mulheres negras nas mídias, bem como a fixação dessa presença em categorias específicas (a mulata fogosa e sensual, a empregada doméstica, a durona, a melhor amiga da protagonista branca, a escravizada, a barraqueira e/ou arretada a mãezona) foi um dos assuntos mais explorados nesse aspecto (CARNEIRO,2003).

Citando Evaristo, C. (2006): “Percebe-se também que na literatura brasileira a mulher negra não aparece como musa ou heroína romântica, aliás, representação nem sempre relevante para as mulheres brancas em geral. A representação literária da mulher negra, ainda ancorada nas imagens de seu passado escravo, de corpo-procriação e/ou corpo-objeto de prazer do macho senhor, não desenha para ela a imagem de mulher-mãe, perfil desenhado para as mulheres brancas em geral. Personagens negras como Rita Baiana, Gabriela, e outras não são construídas como mulheres que geram descendência. Observando que o imaginário sobre a mulher na cultura ocidental constrói-se na dialética do bem e do mal, do anjo e demônio, cujas figuras símbolos são Eva e de Maria e que corpo da mulher se salva pela maternidade, a ausência de tal representação para a mulher negra, acaba por fixar a mulher negra no lugar de um mal não redimido”.

As redes sociais provocaram a descentralização da produção de conteúdos o que abriu caminhos para que as negras criassem

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