Indissociabilidade entre Teoria Antropológica e Método Etnográfico.

A elaboração de uma pesquisa, de um estudo, que tenha cunho antropológico é extremamente complexa. Engloba teoria, métodos, não fixos para sua elaboração. E quando digo não fixos, refiro-me ao fato de que não se usa apenas teoria ou só um método, mais isso é algo que explorarei mais à frente.

Na antropologia vemos que o objetivo é o de buscar um entendimento do ser humano e do conhecimento em um mesmo mundo no qual todos nós habitamos. É uma investigação sobre as condições e possibilidades da vida humana no mundo, o estudo de como escrever etnografia, ou das problemáticas reflexivas da transformação da observação para descrição.

“A antropologia não se define por um objeto determinado: mais do que uma disciplina voltada para o estudo dos povos primitivos ela é, como afirma Merleau-Ponty, ‘a maneira de pensar quando o objeto é outro e que exige nossa própria transformação. ” (MAGNANI, 2002, p. 16).

Essa etnografia, citada no parágrafo interior, trata-se de descrever as vidas das pessoas com uma precisão e uma sensibilidade através da observação detalhada e da experiência de primeira mão. Deste modo é de se notar que a antropologia e a etnografia são de ordens bem diferentes, onde nenhuma é mais importante que a outra. Baseado nos estudos feitos em sala, notamos que é inegável a contribuição da etnografia para o próprio desenvolvimento epistemológico da disciplina, ao se relativizar rígidos padrões e modelos teóricos e metodológicos. O método do trabalho de campo em antropologia é, nesse caso, essencial. Nele, o encontro etnográfico do sujeito e do objeto, transpõe os limites do trabalho de campo para o próprio campo da antropologia, exigindo assim uma dupla hermenêutica enquanto exercício profundo de autorefleexividade. Esse processo da pesquisa antropológica baseia-se na observação, na descrição e a na comparação, porém não se pode dizer onde cada uma termina e a próxima começa. Trata-se de um movimento integral, assumido das particularidades etnográficas às generalidades antropológicas. Assim, a teoria antropológica e a etnografia estarão juntas, não podendo ser separadas. Talvez poça ser difícil tomar ambas ao mesmo tempo, por causa das diferentes posicionalidades que elas implicam, mas como vimos, trata-se de balançarmos de um lado a outro entre elas, como um pêndulo, fazendo com que, nem uma, nem outra se sobreponha, mais sim se complementem.

A etnografia não é um conjunto formal de meios processuais concebido para satisfazer os fins da investigação antropológica. Ela é uma prática por direito, uma prática de descrição verbal. Os relatos que ela rende, das vidas de outras pessoas, são peças de trabalho, não matérias-primas para futura análise antropológica. Na etnografia temos a formação, o trabalho de campo e a escrita. A formação teórica é a bagagem indispensável para ir a campo. Não adianta se apressar para ir a campo sem ela, pois a capacidade de levantar problemas em campo advém da familiaridade com a bibliografia do tema. A “sacada” etnográfica só virá do tempo em campo e de nossa formação. A nossa formação nos familiariza com as “sacadas” que tiveram todas as outras gerações de antropólogos prévias à nossa, com o qual aprendemos a ver. A nossa formação também consiste em, mediante a leitura de textos etnográficos múltiplos, aprender a ver pessoas, não indivíduos, pessoas com nomes, com posições, detentores de palavra, de saber. Somos igualmente ensinados a diferenciar a coisa do significado, o feito do dito.

Como vimos em Magnani essa etnografia tem como base um insight que permite reorganizar dados percebidos como fragmentários, informações ainda dispersas, indícios soltos, num novo arranjo que não é mais o arranjo nativo nem aquele