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Luta por reconhecimento - Axel Honneth

Por:   •  27/5/2017  •  Pesquisas Acadêmicas  •  7.071 Palavras (29 Páginas)  •  295 Visualizações

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O Luta por reconhecimento

Axel Honneth

Capítulo 5

Com a inclusão da psicologia social de Mead, a ideia do jovem Hegel pode se tornar o fio condutor de uma teoria social de teor normativo: a reprodução da vida social se efetua sob o imperativo de um reconhecimento recíproco porque os sujeitos só podem chegar a uma autorrelação prática quando aprendem a se conceber, da perspectiva normativa de seus parceiros de interação, como seus destinatários sociais.  

Essa teoria é remetida de maneira sistemática a processos no interior da práxis da vida social: as lutas moralmente motivadas de grupos sociais, lutas pelo reconhecimento recíproco. Hegel desenvolvendo a teoria do reconhecimento chega a um modelo de conflito, de maneira idealista; Mead o fez de uma maneira que já se pode dizer materialista. Ambos não estiveram em condições de definir de forma mais adequada as experiências sociais sob cuja pressão a asseverada luta por reconhecimento deve se originar no processo histórico.

Tanto na teoria de Mead, quanto na de Hegel, distingue-se três formas de reconhecimento recíproco, aos quais devem corresponder respectivamente um potencial particular de desenvolvimento moral e formas distintas de autorrelação individual. De maneira ampla essas pretensões podem ser apresentadas como: do amor, do direito e da solidariedade.

Por relações amorosas devem ser entendidas todas as relações primárias, na medida em que elas consistam em ligações emotivas fortes entre poucas pessoas, relações de parentesco, sexuais ou de amizade. Para Hegel, o amor representa a primeira etapa de reconhecimento recíproco, porque em sua efetivação os sujeitos confirmam mutuamente na natureza concreta de suas carências. O amor como uma relação interativa à qual subjaz um padrão particular de reconhecimento recíproco.

Passa-se a uma análise terapêutica dos relacionamentos patológicos: a teoria das relações de objeto infere as condições que podem conduzir a uma forma bem-sucedida de ligação afetiva com outras pessoas. Há indícios acerca do significado independente de ligações emocionais para o desenvolvimento da primeira infância, a isso acresce-se: o bebê humano desenvolve, já nos seus primeiros anos de vida, uma disposição ativa pra o estabelecimento de proximidades interpessoais que oferece a base para todas as formas posteriores de ligação emotiva. A relação entre mãe e bebê é altamente complexa, ambos se exercitam mutuamente na capacidade de vivenciar em comum sentimentos e percepções. A criança aprende a se conceber como um sujeito autônomo por meio da relação emotiva com outras pessoas.

Winnicott: o que distingue de imediato da abordagem da tradição ortodoxa da psicanálise é o quadro teórico formulado por Hegel e Mead. A assistência que a mãe desenvolve com o bebê em vida não se conecta ao comportamento infantil como algo secundário, mas torna plausível supor uma fase de intersubjetividade indiferenciada, de simbiose, portanto.

Para ele o processo de amadurecimento infantil é uma tarefa que só através da cooperação intersubjetiva de mãe e filho pode ser solucionada em comum: eles de certo modo precisam aprender do respectivo outro como eles têm de diferenciar-se em seres autônomos. A primeira fase, “dependência absoluta”, é a de comunidade simbiótica que principia logo depois do nascimento. A mãe adapta toda sua assistência e cuidado ao bebê, pois vivenciará o estado carencial precário do bebê como uma necessidade de seu próprio estado psicológico. E o completo estado de desamparo do bebê, ainda incapaz de expressar por meios comunicativos suas carências físicas e emotivas. Só no abrigo físico representado pelo “colo”, o bebê pode aprender a coordenar suas experiências motórias e sensórias em torno de único centro de vivências.

Posteriormente, quando mãe e criança conseguem chegar a um termo, quando ambas obtêm de si um pouco de independência, passa-se para a fase de “dependência relativa”. Nessa fase ocorrem todos os passos decisivos no desenvolvimento da capacidade infantil para a ligação. Para a criança, resulta do processo de desilusão, quando a mãe já não pode estar à sua disposição em virtude do novo aumento de sua autonomia de ação. Assim, a criança desenvolve dois mecanismos psíquicos que servem em comum à elaboração efetiva da nova experiência: “destruição” e “fenômenos transicionais”. 

Na experiência de destruição a criança rebela-se contra a experiência do desvanecimento da onipotência: aplica golpes, mordidas e empurrões. Esses atos destrutivos e lesivos formam os meios construtivos com base nos quais a criança pode chegar a um reconhecimento da mãe, como um “ser com direito próprio”. Então se torna capaz de amá-la sem fantasias narcisísticas de onipotência. Nessa luta com a mãe a criança vivencia o fato de que ela depende de atenção amorosa de uma pessoa existindo independentemente dela, como um ser com pretensões próprias.

O segundo mecanismo, que apresenta pelo conceito de “objeto transicional”, consiste na forte inclinação das crianças de pousos meses de idade para contrair uma relação afetivamente investida com objetos de seu ambiente material. Tais objetos são tratados como posse exclusiva, amados temporariamente com ternura, mas também destruídos com paixão. Esses objetos são formas substitutivas para a mãe, perdida na realidade exterior. Os objetos transicionais seriam de certo modo elo de mediação ontológica entre a vivência primária do estar fundido e a experiência do estar separado. A criança tenta lançar pontes simbólicas sobre o abismo dolorosamente vivenciado da realidade interna e externa.

Essa tarefa de aceitação da realidade, da aceitação do estar só, se realiza somente através da confiança elementar da disposição da pessoa amada para a dedicação. A capacidade de estar só depende da confiança da criança na durabilidade da dedicação materna. Se o amor da mãe é duradouro e confiável, a criança é capaz de desenvolver ao mesmo tempo, à sombra da sua confiança intersubjetiva, uma confiança na satisfação social de suas próprias demandas ditadas pela carência. Esse poder-estar-só, comunicativamente protegido, é a matéria de que é feita a amizade. Assim, pode-se partir da hipótese de que todas as relações amorosas são impelidas pela meniniscência inconsciente da vivência de fusão originária que marcara a mãe e o filho nos primeiros momentos de vida. 

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