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O Desenvolvimento em Celso Furtado

Por:   •  27/3/2019  •  Resenha  •  1.226 Palavras (5 Páginas)  •  314 Visualizações

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Universidade Federal do Pará

Instituto Amazônico de Agriculturas Familiares

Programa de Pós-graduação em Agriculturas Amazônicas

Doutorado em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável

Evandro Carlos Costa Neves

Disciplina: Teorias do desenvolvimento e agricultura familiar na Amazônia

Professores: Maurício Torres e Noemi Porro

Belém, 2019

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1967. p. 1-42, 97-113, 137,143.

FURTADO, Celso. Raízes do subdesenvolvimento. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003. p. 87-108.

Resenha dos textos e uma relação com a Agenda 2030.

De acordo com Celso Furtado, o desenvolvimento aplicado aos países centrais não pode ser o mesmo encontrado em países subdesenvolvidos, pois nestes o crescimento econômico capitalista apresenta características e consequências peculiares. Na formação econômica de países subdesenvolvidos, a fase de elevação da produtividade e dos ganhos monetários como decorrência da participação de suas economias em mercados internacionais por intermédio da exportação de produtos primários – mediante utilização intensiva dos recursos naturais – foi sucedida por retrocessos econômicos, cujos reflexos se associaram à própria instabilidade econômica no mundo. Diante disso, a exemplo do Brasil do século XIX, passados os auges das economias açucareira e cafeeira, esta economia viu-se em face da necessidade de transformar suas estruturas econômicas.

Nesse contexto, a diversificação da estrutura do sistema de produção significou o fortalecimento de um mercado de manufaturas que pudesse satisfazer, parcialmente, as necessidades que antes eram supridas pela importação. Baseada na industrialização, tal diversificação foi expressão de um desenvolvimento que seria caracterizado posteriormente como industrialização substitutiva.

Dois fatores são importantes para pensar tal modelo de desenvolvimento: primeiro, a industrialização de caráter de substituição só foi possível em razão do declínio da demanda mundial pelos produtos primários produzidos e ofertados nos países subdesenvolvidos e do próprio atrofiamento que estas economias subdesenvolvidas passaram a enfrentar. Segundo, o processo de inovação tecnológica presente nessa industrialização subdesenvolvida é resultado de uma assimilação do fruto tecnológico dos países desenvolvidos. Concebe-se, dessa maneira, um modelo de desenvolvimento industrial em que a tecnologia utilizada e o seu próprio sentido apresentam caráter exógeno e não possibilitou uma relação entre a produtividade dos fatores e suas remunerações respectivas, pois ao mesmo tempo em que se aumentou a produtividade do fator trabalho, ampliou-se os problemas sociais, como o do excedente estrutural da mão de obra.

Esta é uma das faces dos problemas do desenvolvimento em economias subdesenvolvidas que as tornam peculiares. Em países desenvolvidos, por exemplo, as formas de pressão da população para ter acesso ao trabalho e aos frutos do aumento da produtividade foram facilitadas pelo próprio progresso tecnológico. Já nas economias subdesenvolvidas, o progresso tecnológico constituiu desde sempre a fonte dos problemas, cuja solução, segundo Celso Furtado, deve ser buscada no plano político.

Assim, observa-se que os argumentos aduzidos pelo autor para abordar a noção de desenvolvimento revelam que este é causa de condições peculiares de adaptação e problemas associados de economias locais à economia capitalista mundial. Para o autor, o aumento da produtividade do fator trabalho não leva necessariamente ao desenvolvimento se não houver um alinhamento com as adaptações sociais às possibilidades que o progresso tecnológico e os benefícios da produtividade propiciam às sociedades. Caso não haja essa relação, o subdesenvolvimento se caracteriza como efeito do próprio crescimento econômico, cujas consequências tendem a aprofundar as desigualdades sociais presentes em economias periféricas.

Assim, os argumentos do autor apoiam o entendimento de que existem diferenças em relação às transformações sociais provocadas pela assimilação do progresso tecnológico pelos países subdesenvolvidos e por aqueles desenvolvidos, cuja diferenciação se reforça na contribuição deste progresso como indutor de problemas sociais em economias capitalistas periféricas e como facilitador para soluções de problemas sociais em países centrais.

Diante do exposto, o desenvolvimento não se conceitua apenas pelo aumento da produtividade do fator trabalho, mas também por um processo adaptativo das estruturas sociais preexistentes às possibilidades novas. Seu entendimento perpassa a necessidade de captar as dimensões econômica e social em conjunto. No entanto, infelizmente, “ a interação do econômico com o não-econômico, seguramente o que é mais importante no processo de desenvolvimento, desaparece do campo de observação” (FURTADO, 2003, p. 102) de muitos estudiosos que se dedicam à análise dos aspectos mensuráveis e das expressões quantitativas do fenômeno.

No livro Formação Econômica do Brasil, Celso Furtado se propõe a analisar especificamente o caráter mensurável do crescimento econômico que formou as bases da economia brasileira. Já no livro Raízes do Subdesenvolvimento, o autor relaciona a quantidade de bens e serviços produzidos pelo crescimento econômico com a coletividade em seu conjunto e indaga: em benefício de quem se faz o desenvolvimento? Por que se produz determinadas constelações de bens e não outras?

Considerando-se que a formação econômica do Brasil se realizou mediante interesses específicos, concentração de renda e de terras e, como consequência, aprofundou as desigualdades sociais, a resposta do autor é: o sentido real do desenvolvimento decorrerá do projeto de autotransformação de uma coletividade humana e nos grupos que nela exerçam atividade política. Nesse sentido, o ponto de partida para o estudo do (sub)desenvolvimento não são as suas expressões mensuráveis, mas as não-mensuráveis, como as aspirações da coletividade em questão.

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