O Dinheiro, poder e sexo
Por: Nikos Rodrigues • 6/7/2018 • Resenha • 1.545 Palavras (7 Páginas) • 523 Visualizações
RESENHA DO ARTIGO: ZELIZER, Viviana A. Dinheiro, poder e sexo. Yale Journal of Law and Feminism. Maio, 2009, pág. 135-157.
Inicialmente a autora faz menção de alguns relatos em que é falado sobre a ocupação da pessoa e como isso interfere na relação pessoal da mesma, a primeira pessoa é uma stripper e a segunda são relatos dos imigrantes mexicanos nos EUA, que de acordo com Zelizer os depoimentos dessas pessoas confirmam a crença de que a mercantilização inevitavelmente corrompe a intimidade sexual. Após essa breve introdução Zelizer propõe em pensarmos sobre alguma das complexidades que nos levam a mistura de relações sexuais com atividades econômicas. E começa falando primeiro de “mal-entendidos sobre dinheiro, poder e sexo”, Zelizer começa dizendo que quando se trata da mistura da intimidade (sexual ou outra) com transações econômicas, encontramos enganos generalizados bloqueando a análise do quanto relações intimas e transações econômicas de fato se misturam. Cita ainda a suposição de observadores que dizem que qualquer mistura de laços pessoais íntimos com transações econômicas corrompe inevitavelmente a intimidade, e que invasões das atividades comerciais pelas relações íntimas corrompem igualmente essas atividades. Que de acordo com Zelizer essas preocupações supostas por observadores, derivam de mal-entendidos complementares, mas parcialmente independentes, e denomina-los de “Esferas Separadas” e “Mundos Hostis”, que é conceituado pelo autor que diz que idéias de “Esferas Separadas” identificam dois domínios distintos da vida social que operam de acordo com princípios diferentes: racionalidade, eficiência e planejamento, de um lado; solidariedade, sentimento e impulso, de outro. E as crenças de tipo “Mundo Hostis” dizem que quando tais esferas separadas entram em contato, elas contaminam uma a outra. Sua mistura, continua o argumento, corrompe ambos; a invasão do mundo sentimental pela racionalidade instrumental, o diminui enquanto que a intromissão do sentimento em transações racionais produz ineficiência, favoritismo e cliques, que de acordo com Zelizer existe uma divisão nítida entre relações íntimas e transações econômicas, já que qualquer contato entre as duas esferas contamina ambas. Mais a frente apresenta pensamentos de cientistas sociais sobre as relações econômicas e as íntimas e em seguida comenta que de fato, pessoas que mantém relações íntimas umas com as outras regularmente somam recursos, fazem compras conjuntas, investem em fundos comuns,
organizam heranças e negociam a divisão do trabalho doméstico. E diz que, no entanto, tais relações não são de nenhuma maneira, semelhantes a bolsas de valores ou ações de mercado. Zelizer propõe ainda uma explicação alternativa para a mistura de transações econômicas com relações íntimas, dizendo que boas combinações replica a ambas que a atividade econômica e a intimidade intersectam todo o tempo, não se comportam como mini-mercados, mas apenas funcionam bem quando as pessoas fazem boas combinações das duas., onde a combinação é viável segundo o autor, tonando assim, possível o trabalho econômico da relação e sustenta a relação. Diz ainda que um conjunto de
transações econômicas que reforçaria o laço entre marido e mulher, por exemplo, poderia ser ruinosa para a relação entre patrão e secretário. Mais a frente e finalizando a abordagem sobre “Mal-entendidos sobre dinheiro, poder e sexo”, Zelizer cita tipos de relações íntimas e transações econômicas, que vista de perto dependem muito de negociações entre os parceiros, como: marido-mulher, patrão-secretário, médico-paciente, ou acompanhante-cliente. E finaliza citando principais características que se delineiam em boas combinações, onde comenta que em qualquer situação específica, boas combinações dependem do estoque de significados, marcadores e práticas existentes no meio local. E para além do particularismo cultural, podem-se identificar regularidades que podem ser amplamente verificadas. E no próximo ponto inicia a abordagem sobre “Intimidade: limitada ou ampla, durável ou passageira”, inicia pedindo para o leitor pensar nas relações íntimas como variando ao longo de duas dimensões: amplitude e duração, onde uma relação limitada envolve apenas uma, ou poucas, práticas compartilhadas, incluindo práticas econômicas. Diz que uma relação ampla envolve uma extensa gama de práticas, incluindo práticas econômicas. Da como exemplo a prostituição como relações que envolvem intimidade sexual, colocando a prostituição do lado limitado e a participação numa comunidade promíscua do lado amplo. Uma relação pode permanecer limitada durante um longo período, como é o caso de algumas ligações sexuais. Ou pode ser ampla e durável, como em muitas formas de coabitação, defini que a duração não necessariamente produz a ampliação de uma relação íntima, e a amplitude, no entanto, requer duração. Zelizer se questiona porque amplitude e duração são importantes, e diz q embora amplitude e duração de modo nenhum garantam harmonia e felicidade, ambos tornam muito mais extensas as ramificações das interações correntes. O autor ainda define que quando as relações são limitadas e por um período curto, tendemos a chamá-las de trabalho sexual, e quando elas são amplas e de longa duração, tendemos a chama-la de unidades domesticas. Finaliza dizendo que no nosso espaço conceitual identifica quatro tipos bem diferentes de relações: limitado e breve; limitado e durável; amplo e breve; amplo e durável, onde os trabalhadores do sexo vivem num mundo de laços sociais altamente diferenciados e bem demarcados. Em seguida o próximo ponto vem abordando ”Relações sexuais de longa duração, mas limitadas”, nesse ponto inicialmente cita um caso de um homem casado e com filhos, que se interessa por outra mulher e chega a fazer um contrato onde ele a pagava como se ela fosse uma empregada de um de seus negócios. Após dois anos ele suspeita que ela estivesse com outro caso e a partir daí para de pagar seu aluguel e outras despesas. Com isso a mulher o coloca na justiça, o juiz finaliza que ele deverá pagar mais de cinquenta mil reais em alugueis atrasados, levando em conta o equilíbrio entre as considerações comerciais e morais. Zelizer comenta que muitos processos legais lidam com este tipo de relação delicada entre negócios e prazer. Outras relações sexuais de longa duração, mas limitadas, levam muitas das questões morais e legais. De uma perspectiva diferente, podemos considerar a relação entre uma mulher e seu ginecologista, ou entre um homem e seu urologista. Zelizer diz que relações duradouras, mas limitadas, evocando as relações sexuais, existem e, como o trabalho com sexo, tem suas próprias características específicas. Que para o autor é claro que ambas diferem significativamente de relações duradouras, amplas que envolvem atividade sexual. Para Zelizer viver junto necessariamente produz problemas, oportunidades, direitos e obrigações econômicas compartilhadas por todos os envolvidos. E quando uma unidade domestica contem maus de um casal, as coisas se tornam mais complicadas: relações com terceiros envolvidos, tais como crianças, empregados ou parentes idosos, começam a influenciar significativamente a sua dinâmica, no interior de unidades domesticas complexas, o trabalho de estabelecer relações nunca termina. No penúltimo ponto Zelizer aborda “Sexo Intermediário”, onde diz que no espaço definido por duração e amplitude existem casos intermediários. Zelizer menciona três observações de Edin e Lein sobre mulheres que são mães de baixa renda e que estabelecem uma gama de laços econômicos com os homem em suas vidas, na primeira diz que as relações com homem representavam uma parte significativa nas finanças domiciliares dessas mães; na segunda, diz que as mulheres estabeleciam nítidas distinções entre variadas relações com homens que são, ou tinham sido, seus parceiros sexuais, e o terceiro, diz que elas desenvolveram diferentes sistemas de pagamento e obrigações correspondentes a essas diferentes relações. No ultimo ponto Zelizer finaliza falando sobre “Combinações boas, más e incertas”, faz alguns questionamentos sobre situações econômicas que confirmem seu entendimento sobre o que define a relação e o que a sustenta, fazendo indagações como por exemplo: esta relação sexual implica em respeito ou em exploração? Quando é aceitável que um homem dê presentes, ao invés de dinheiro, para uma trabalhadora do sexo? Quando um casal de namorados se envolve sexualmente um com o outro, como eles devem gerenciar seus gastos com lazer? E faz a seguinte análise que a combinação de sexo, dinheiro e poder mostra que ela compartilha propriedades comuns com uma ampla variedade de relações interpessoais que envolvem atividades econômicas. E finaliza dizendo que, o processo de cominação sempre envolve algum exercício de poder pelas pessoas diretamente implicadas nas relações e, às vezes, por terceiros. E o gerenciamento da intersecção de sexo, dinheiro e poder apresenta sérios problemas, mas são problemas que segundo Zelize nós e outras pessoas resolvemos todos os dias. Longe de ser um tabu, essa intersecção pertence à própria vida. Para a maioria das pessoas a intersecção de dinheiro, poder e sexo é um tabu, e o autor vem trabalhando isso durante todo o seu texto com análises em cima de opiniões e relatos, trazendo a concepção de que nós precipitamos muitas vezes ao falar sobre tais assuntos, pois tratamos essa intersecção de forma preconceituosa e percebemos ao final da leitura que é algo que esta presente em todas nossas relações cotidianas. A forma que o autor se comunica com o leitor facilita o entendimento que ele propõe que é em poucas palavras quebrar o pensamento generalizado negativo sobre a intersecção entre dinheiro, poder e sexo, que na minha opinião seu objetivo foi alcançado.
...