O Esclarecimento em Kant
Por: taveras • 21/4/2017 • Monografia • 1.339 Palavras (6 Páginas) • 503 Visualizações
Esclarecimento em Kant
Kant, em seu ensaio sobre o que é o Esclarecimento (Aufklärung), inicia o texto com uma definição bem direta e objetiva da própria definição do que realmente é o conceito de esclarecimento:
Esclarecimento é a saída do homem da menoridade, da qual ele próprio é culpado. Menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu próprio entendimento sem a direção de outro individuo. O homem é o próprio culpado por essa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se a si mesmo sem a direção de outrem. Sapere aude! Tem coragem de fazer uso de teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento
(“O que é Esclarecimento?; Kant, Immanuel)
Para entendermos a frase citada acima de Kant, é necessário compreender o termo “menoridade”, já que este é citado diversas vezes no ensaio sobre o Esclarecimento (Aufklärung). A menoridade ocorre quando um individuo não é capaz de tomar atitudes ou até mesmo pensar por si só, tornando-o dependente, por assim dizer, de um outro individuo. Este termo pode ser considerado como o antônimo de Esclarecimento.
O Esclarecimento (Aufklärung) não pode ser considerado uma corrente filosófica, mas sim um processo pelo qual o ser humano deve passar para se tornar autônomo e deixar a menoridade para trás, sendo apto à tomar as decisões que lhe inferem respeito por si próprio. Para Kant, “a transição da menoridade para o Esclarecimento é difícil, e muitas vezes perigosa, já que agora não teremos aquela base sólida que outros indivíduos nos proporcionavam” (O que é esclarecimento?; Kant, Immanuel). Este mesmo embasamento concedido ao individuo durante sua menoridade faz com que este não consiga se libertar facilmente de sua menoridade, mas uma vez que consegue, é quase inevitável que ele atinja o Esclarecimento, pois agora o individuo passará a ter opinião própria e terá um olhar critico sobre os fatos, e não mais apenas acreditar e aceitar o que lhe é imposto por seus respectivos tutores.
Agora, como diria Kant, “o ser já Esclarecido (Alfkläre), cria certos preconceitos sobre seus próprios tutores ou antecessores, julgando-os incapazes de alcançar o Esclarecimento (Aufklärung) absoluto” (O que é esclarecimento?; Kant, Immanuel). E por isso, o processo do Esclarecimento é lento e, talvez através de uma revolução contra a opressão exercido pelo ser sobre o próprio ser, poderá promover uma mudança na maneira de pensar.
Para atingir o Esclarecimento (Aufklärung) proposto por Kant, o individuo deve obter total controle sobre sua liberdade, para que assim este possa se utilizar do chamado “uso público da razão”, assim como explicita Kant no trecho a seguir. Portanto, o “uso público da razão” está diretamente ligado a liberdade, já que esta depende do uso público da razão
“Para este esclarecimento (Aufklärung) porém nada mais exige do que liberdade, a saber: a de fazer um uso publico de sua razão em todas as questões.”
(“O que é Esclarecimento?; Kant, Immanuel)
Neste momento do raciocínio proposto por Kant, o termo “liberdade” estará muito presente na discussão, então, até que ponto a limitação da liberdade pode interferir com o processo do esclarecimento? Kant responde esta pergunta dizendo que “o uso publico da razão do homem deve ser sempre livre e só por meio desta liberdade o homem poderá ser esclarecido”. Para exemplificar o quão prejudicial a falta de liberdade pode ser, Kant usa a imagem de um soldado em serviço, que por uma consciência sobre seu papel na sociedade, escolhe não opinar sobre os assuntos militares considerados acima de sua condição, mesmo este não podendo ser impedido de levar sua opinião a público. Ou um cidadão comum, que assim como todos os outros deve pagar impostos, mesmo tendo total direito e concretizando a ação de expor suas opiniões e insatisfações sobre o assunto; mas de maneira alguma pode ser punido se não parar de cumprir com sua responsabilidade.
O exemplo acima deixa claro o conceito de “uso privado da razão”, posto que o termo significa, na visão de Kant, “aquele que pode fazer de sua razão em um certo cargo público ou função a ele confiado”. Mas, voltando para o exemplo do homem e seus impostos, Kant diz que o ideal é um meio termo entre o uso público e privado da razão. O equilíbrio deve ser feito deste modo: o cidadão não pode parar de pagar seus impostos, mas, como cidadão, este tem o dever de explicitar suas insatisfações em relação ao próprio imposto, e este é o homem esclarecido.
Para Kant, é impossível viver em um mundo totalmente livre de subjetividade e, já que qualquer opinião ou declaração não tem validade alguma sem o esclarecimento (Aufklärung), porque ela não partiu de nenhuma reflexão, ou seja, é um reflexo mecânico
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