O MOVIMENTO DOS DESIGREJADOS
Por: shribeiro • 12/11/2019 • Trabalho acadêmico • 3.356 Palavras (14 Páginas) • 528 Visualizações
3. O MOVIMENTO DOS DESIGREJADOS
Uma pesquisa realizada pelo IBGE em 2010 e divulgada em 2012 chamava à atenção o crescimento da subcategoria denominada “evangélica não determinada”. Assim que os dados foram divulgados, uma série de reportagens, livros e sites começou a circular, tentando entender o fenômeno. Entendeu-se que este, se referia ao que hoje é conhecido como “Os desigrejados”.
Sobre eles, o teólogo e cientista religioso Idauro Campos, no site editora “ultimato”, no artigo intitulado por “Niilismo eclesiástico: uma análise sobre os desigrejados” , diz que
De acordo com o IBGE, já são mais de quatro milhões de evangélicos em tal situação. São cristãos protestantes, identificados com as doutrinas fundamentais de fé cristã, mas que se recusam a congregar, pois não acreditam mais na necessidade e relevância da igreja institucional.
Diante disso, o presente capítulo tem como propósito analisar estes indivíduos, expondo qual seja sua história no Brasil. São poucas as literaturas impressas que existem sobre o tema, contudo, será zelado a busca pela fidelidade histórica, afim de que se compreenda sua origem, o que os influenciou, quais suas características, e qual a situação atual no país.
No intuito de retrilhar o caminho do movimento intitulado como “Desigrejados” no Brasil, foram feitos usos de diversas referencias teórico-bibliográficas, por meio de consultas em livros na biblioteca do seminário Presbiteriano Reverendo José Manoel da Conceição, assim como em bibliotecas virtuais, em artigos científicos disponibilizados na internet, e na sua grande maioria, recursos publicados na internet pelos próprios adeptos ao movimento.
3.1. DEFININDO OS TERMOS: Desigrejados
[...] Esse grupo são os chamados desigrejados, evangélicos que continuam a seguir os preceitos da religião, mas que não pertencem a nenhuma denominação. Esse número é algo em torno de 4 milhões de pessoas. Entre essas pessoas estão tanto aqueles que frequentam duas e até mesmo três igrejas, sem criar vínculo com nenhuma, como quem desistiu de se tornar membro de uma igreja e prefere não ir para nenhuma denominação. (JM, 2018)
Dados divulgados no último censo demográfico (2010) pelo órgão oficial brasileiro responsável, o IBGE , aponta que os que se declaram fiéis às doutrinas cristãs, nos mais variados recortes históricos, teológicos, e denominacionais, são mais de 90% do contingente de toda população do Brasil. Desde 1980, tem-se observado uma tendência na diminuição do número de católicos e o aumento do número dos evangélicos, alavancados principalmente pelo numero de pentecostais. Enquanto os católicos, passavam de números referentes a sua hegemonia no país em 1980 de 89,2%, para 64,6% em 2010, os evangélicos neste mesmo período, saltavam de 6,6% para 22,2% .
Dentre este apanhado, foi notável o crescimento da subcategoria “evangélica não determinada” entre todas as pertenças declaradas, passando de 1.627.869 para 9.218.129 pessoas. Uma informação que intrigara os pesquisadores de religião do país, fato este comprovado pela quantidade de material produzido, após a divulgação dos números supracitados. Indaga-se que dentre estes, estariam os desigrejados.
Conforme o cientista social, Douglas Santos, “entende-se por desigrejado o individuo que decide exercer a sua fé cristã evangélica fora do ambiente eclesiástico” . Ou seja, é aquele que por algum motivo, deixa a igreja evangélica convencional, ou institucional, e diz não deixar de exercer a fé que nesta igreja é praticada, assumindo-se como verdadeiros cristãos, e alguns rebelando-se contra a estrutura convencional denominada Igreja.
Fala-se sobre a origem da expressão “desigrejados” ser desconhecida no Brasil, contudo, Hermes Carvalho Fernandes, Bispo da Igreja Reina (2013, apud CAMPOS, 2017, nota 17.) declarou nas mídias eletrônicas ter sido o primeiro a fazer uso do termo, empregando-o em seu artigo, intitulado “Desigrejado sim, desviado não!”, publicado nos Estados Unidos da América em 22 de junho de 2010:
“Acredito ter sido o primeiro a usar a expressão ‘desigrejados’. Estava em busca de uma palavra que expressasse a condição de muitos cristãos de nossos dias, daí surgiu esse neologismo. Aqui nos Estados Unidos, cunhou-se a expressão ‘churchless’ para designar esta enorme massa de crentes que deixaram os currais denominacionais para servirem a Deus em seu próprio ambiente doméstico”
Segundo Idauro Campos , um dos documentos que popularizou tanto o conceito quanto o uso do termo no Brasil, foi o Artigo do Dr. Augustus Nicodemus Lopes, que tem como título “Os Desigrejados” publicado no blog Tempora-Mores, em abril de 2010, por ser uma das primeiras reflexões sobre o tema, logo após a divulgação dos dados estatísticos. Nele, o Dr. Augustus Nicodemus, refletindo sobre algumas características do grupo, supostamente novo no Brasil, diz que
Alguns simplesmente abandonaram a igreja e a fé. Mas, outros, querem abandonar apenas a igreja e manter a fé. Querem ser cristãos, mas sem a igreja. Muitos destes estão apenas decepcionados com a igreja institucional e tentam continuar a ser cristãos sem pertencer ou frequentar nenhuma. Todavia, existem aqueles que, além de não mais frequentarem a igreja, tomaram esta bandeira e passaram a defender abertamente o fracasso total da igreja organizada, a necessidade de um cristianismo sem igreja e a necessidade de sairmos da igreja para podermos encontrar Deus.
Por certo, conforme declara o Dr. Augustus, existem motivos que são pertinentes à pesquisa e análise sobre o porquê da existência e crescimento alavancado deste movimento, as indagações que se fazem pertinentes e que se pretende responder no seguimento deste capítulo, são: Quais as influências que originaram este movimento? Quando e como, de fato iniciou-se o movimento no Brasil? Quais os argumentos levantados pelos adeptos que justificam seus posicionamentos quanto a igreja? Como se caracterizam os desigrejados? Qual a situação, e quem são alguns dos seus representantes no Brasil?
3.2. A ORIGEM DO MOVIMENTO.
Apesar de ser um movimento recente no Brasil, pelo menos no que concerne um registro estatístico, é possível averiguar movimentos anteriores que trouxeram influências para o surgimento dos desigrejados. Além dos motivos apresentados (motivos estes que serão tratados mais adiante) pelos adeptos a esta nova faceta do evangelicalismo, o movimento dos desigrejados se desenvolveu sob grande
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