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O Movimento #MeToo e a Carta das francesas

Por:   •  14/9/2018  •  Artigo  •  2.342 Palavras (10 Páginas)  •  352 Visualizações

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Movimento #MeToo e a Carta das francesas

Resumo: Impulsionada pelas denúncias de estupro e assédio em Hollywood, a hashtag #MeToo que traduzida do inglês significa “eu também” se popularizou no Twitter e deu nome a um movimento feminista que se originou nos Estados Unidos e se destacou fortemente em diversos países do globo. Sob a perspectiva sociológica dos autores Berger e Zijderveld e suas definições de relativismo radical, fundamentalismo e ética da moderação, trabalharemos nesse artigo trechos pontuais do posicionamento das francesas em relação ao movimento Me Too, além de discutir a importância desse debate através do ponto de vista sociológico.

Palavras chave: assédio; me too; relativismo; fundamentalismo; moderação.

Desenvolvimento:

Criada no ano de 1996 pela ativista norte-americana Tarana Burke, a expressão #MeToo que traduzida do inglês significa “eu também”, teve por objetivo, através de sua difusão, criar empatia e confiança entre as mulheres vítimas de assédio. Contudo, foi em outubro de 2017, nos Estados Unidos, que o termo se popularizou. Impulsionado pelas denúncias de estupro contra o produtor cinematográfico Harvey Weinstein e por diversas outras denúncias de assédio em Hollywood, o movimento iniciado pela atriz Alyssa Milano através do Twitter assumiu forma com a adesão de diversas personalidades, a exemplo de Angelina Jolie, Rose McGowan e Gwyneth Paltrow, também vítimas de assédio. Alyssa propôs a campanha com o intuito de incitar as mulheres que já houvessem sido vítimas de violência sexual a romperem o silêncio e responder ao seu tuíte com a hashtag “me too”. A intenção era fazer com que, dessa maneira, as pessoas pudessem visualizar a dimensão do problema. Tomando proporções antes inimagináveis, o movimento uniu milhares de mulheres que romperam o silêncio e expuseram, juntas, uma série de experiências de assédio. Possibilitado também pelo avanço da luta feminista, o movimento nomeado "The Silence Breakers”, que através da hashtag #MeToo adquiriu visibilidade global, foi mencionado em mais de 85 mil países e eleito como a "personalidade do ano" da revista Time.

Entretanto, apesar da euforia causada na maior parte das feministas, uma carta escrita por artistas e intelectuais francesas e publicada no jornal Le Monde levantou alguns contrapontos. Na carta, personalidades como Catherine Deneuve criticaram o movimento #MeToo e seu equivalente em francês #BalanceTonPorc atribuindo aos mesmos um caráter totalitário e repressivo. Pois, apesar de reconhecerem que crimes foram cometidos, as francesas argumentam no manifesto que o movimento contou com exageros responsáveis por equiparar erros pontuais a violações sexuais graves, sem oferecer ao acusado a possibilidade de se defender. Dentre os argumentos acionados na carta, defende-se o direito de importunar como essencial à liberdade sexual, afirmando que atitudes como passar a mão no joelho de mulheres e dizer obscenidades em seus ouvidos são práticas comuns e que deveriam ser tratadas com mais naturalidade, visto que fazem parte da expressão sexual. Segundo as signatárias, os movimentos, além de servirem aos interesses dos inimigos da liberdade sexual, como extremistas religiosos e reacionários perigosos, também vitimizam muito as mulheres, colocando-as em uma posição de fragilidade e fraqueza. Despertando a reação de outras ativistas e feministas francesas e americanas, essas acusaram o comportamento das primeiras de misógino e intolerável.

Em resposta à primeira carta, um grupo de 30 outras personalidades públicas, dentre elas a feminista francesa Caroline De Hass, criou um novo texto denunciando a iniciativa anterior e incentivando a permanecia da onda de denúncias nas redes sociais. Essa contra-reação coloca a necessidade de se discutir, levando em consideração os contrapontos levantados pelas francesas, a natureza desse tipo de resposta ao movimento.

Segundo o jornal El País, a campanha #MeToo foi capaz de unir milhares de mulheres assediadas, além de derrubar diversas personalidades famosas. A mudança fez-se presente também nos posicionamentos políticos. Emmanuel Macron, atual presidente francês, propôs a igualdade entre mulheres e homens como a “grande causa” de seu mandato, afirmando que a sociedade está “doente de sexismo”. Classificado por especialistas da ONU como um ponto de inflexão na luta pelos direitos das mulheres, o movimento conta agora com o apoio total dos mecanismos de direitos humanos das Nações Unidas.

Uma boa pista para essa análise são os conceitos desenvolvidos por Berger e Zijderveld em seu livro “Em favor da dúvida”.

Caracterizado como a corrente de pensamento responsável por questionar as “verdades universais”, os autores apresentam o relativismo como inerente à modernidade. Partindo desse ponto de vista, os autores descrevem a tendencia humana a desconstruir as verdades pré-determinadas, isso a partir do contato com diferentes pontos de vista, valores e normas. No entanto o relativismo pode ser radicalizado.

Segundo os autores, os adeptos da ideologia relativista radical reagem à pluralidade defendendo que não há verdade absoluta. É como o caso dos pós-modernistas, para os quais não existem fatos objetivamente verificáveis, mas sim meras “narrativas”. Dessa maneira, não existe uma hierarquia da verdade entre os diferentes pontos de vista. Sendo assim, pelo menos em princípio, é uma futilidade discutir qual narrativa se aproxima mais da verdade (Berger e Zijderveld; 2012; p.51). Para autores pós-modernistas mais radicais como Derrida, é necessário abrir mão de todo e qualquer intuito de elaborar algum consenso quanto à verdade por meio da razão ou da ciência empírica, já que tudo é extremamente relativo. Todas as decisões e atitudes são justificadas com base na afirmativa: “cada um tem a sua verdade”. Assim, o próprio relativismo passa a ser relativizado e questionado, tornando-se, por vezes, inviável.

Por outro lado, se o relativismo radical desemboca no excesso de dúvidas, o fundamentalismo, explicam os autores, se caracteriza pela evitação de dúvidas. A partir da convicção de que são os defensores da verdade, o fundamentalista age no mundo com o intuito de converter tudo e todos aos seus valores e ideais, para ele inquestionáveis. De forma que, ao não admitir qualquer outra interpretação ou alteração nos usos e costumes de seu grupo, o diálogo com um fundamentalista é impossível. Um exemplo de fundamentalismo contido no livro é o que se deu no início do século

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