O Poder Das Organizações

O Poder Das Organizações

Salvador – Bahia

2013

Salvador – Bahia

2013

Entendendo a Pesquisa – Prefacio

Como explicar o tem PODER nas organizações? Esse tem de grande importância prática e teórica. Trata-se de uma pesquisa fundamental sobre os fenômenos de poder nas organizações, cujo objetivo é elaborar um quadro teórico e métodos de investigação que permitem o melhor entendimento desse tema. Esse é o objetivo primário. Há um objetivo secundário, que surge no decorrer da pesquisa, que é o de mostrar o conceito de empresa hipermoderna (ou multinacional), onde se caracterizará as formas de poder deste tipo de empresa e compará-las com as empresas clássicas. Explicar as relações entre executivos, a ideologia da empresa e dos lucros (apesar dos conflitos e dos sofrimentos que os acompanham), identificar os esquemas hierárquicos e como eles funcionam, etc. O poder é habitualmente tratado de forma segmentada: uma perspectiva marxista (um fenômeno de alienação econômica que separa os trabalhadores do produto de seu trabalho); um fenômeno político (imposição, controle sobre as decisões); ideológico (fenômeno de apropriação do sentido e dos valores); e psicológico (como fenômenos de alienação psicológica, dependência, projeção e introjeção). O que difere os quatro são os pontos de partida, as dimensões privilegiadas pela análise e as linguagens teóricas. A ambição aqui era analisar a textura do poder, sua articulação na vida concreta da organização. A grande dificuldade era ter acesso a algumas cúpulas da organização. Primeiro "ensaio" da pesquisa foi iniciado numa cooperativa de pesca na Bretanha. Permitiu estudar uma situação de transição entre uma economia artesanal pré-capitalista e uma economia capitalista. As organizações possuem um papel mediador às contradições sociais. Seu papel e o das outras instituições é administrar as contradições geradas pelo desenvolvimento capitalista, atenuando seus efeitos, evitando que se estourem em conflitos abertos (contradições econômicas, políticas, ideológicas, psicológicas). Ambição de construir uma teoria sistêmico-dialética (não positivista). Após a vivencia da cooperativa decidem estudar uma instituição hipermoderna, a qual dá o nome de código: TLTX. Uma multinacional americana, que emprega grande quantidade de pessoal qualificado, cuja atividade se estende em escala mundial. Produz material de alta tecnologia e lança mão das técnicas mais sofisticadas de administração. O estudo ocorreu em uma filial europeia da TLTX (não tiveram acesso aos dirigentes de cúpula, e ocupava-se principalmente da venda). Comparando com a cooperativa as contradições eram mais profundas e ocultas. Construir um sistema quase perfeito para que se esconda as contradições. A concepção de poder se clareou como a de um sistema econômico-político-ideológico-psicológico de mediação e ocultação de contradições sociais e psicológicas. Quarenta entrevistas não diretivas, para observar reações coletivas e não mais individuais conflitos internos e intergrupais na hora e analisar o resultado das entrevistas. Diversidade ideológica, desejada, na equipe. Essa pesquisa não tem um objetivo prático e imediato e não fornece nenhum guia simples para mudanças das situações de poder nas organizações, mas sim elaborar uma reflexão e uma experimentação em vista de uma prática, pois uma prática eficaz só pode fundamentar-se num conhecimento íntimo e profundo dos processos de poder. SEPARAÇÃO DA PESQUISA.

Introdução:

A Organização Como Sistema de Mediação

Apresentar uma visão do conjunto de poder da TLTX. Impressionados com o discurso de amor e ódio dos TLTXinianos. Não existe um que aprove-a totalmente, tampouco alguma que a odeie por completo. Fortes marcas de satisfação se associam a frustrações e insatisfações. Entrevistam uma alta funcionário da TLTX, Odette. A entrevista dela serve de base para as outras entrevistas, que acabam se mostrando muito parecidas com a de Odette: uma dialética entre frustrações e satisfações; uma batalha de amor e ódio à organização.

Análise da entrevista de Odette

As atitudes contraditórias para com a empresa surpreenderam os pesquisadores. Por exemplo, de um lado temos altos salários, promoções; e do outro ela se sente aprisionada pelas vantagens, a pressão do trabalho. Odette possui uma atitude bivalente, ou melhor: ambivalente. As mesmas políticas da TLTX causam reações positivas e negativas na funcionária. Outra questão pontuada pelos pesquisadores são as contradições do discurso: cada afirmação positiva é acompanhada de uma afirmação negativa, um discurso com altos e baixos. Odette está presa em um conflito interno, um conflito psicológico, o de atitudes ambivalentes para com a empresa.

Mediação

A mediação seria o processo de aliança das restrições (coerções) da empresa e os privilégios oferecidos ao indivíduo. Os privilégios funcionariam como um terceiro termo que vem a ocultar a contradição entre os objetivos da empresa, os do sistema capitalista (o lucro e a dominação) e os objetivos dos trabalhadores. Os termos mediadores respondem às contradições da empresa capitalista: trata-se para ela (a empresa) desenvolver simultaneamente as forças produtivas, ou seja, num sistema de produção moderno desenvolver a iniciativa, a atividade intelectual, a capacidade de criação, satisfação de ordem econômica, política, etc., tudo isso para satisfazer os trabalhadores e aliá-los aos objetivos da empresa e do sistema capitalista. Porém, ao mesmo tempo que a empresa desenvolve essa força produtiva ela desenvolve também o senso crítico e dá um novo meio de luta aos trabalhadores, e novamente a empresa precisa criar meios de controle de sua força produtiva. Essa contradição é resolvida pela própria empresa: pois daí ela vai oferecer privilégios aos funcionários, destituindo seu poder e aos mesmo tempo tornando-os mais submissos e controlados pela organização. A mediação efetua-se através de outros processos: abstração, objetivação, “desterritorialização”.

Os tipos de mediação

Instância econômica: altos salários, boas