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Os Movimentos Sociais Como Política

Por:   •  29/6/2022  •  Resenha  •  907 Palavras (4 Páginas)  •  121 Visualizações

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Em um livro de 1850 intitulado “História do movimento social francês desde 1789 até a atualidade”, o sociólogo alemão Lorenz Von Stein introduziu a expressão “movimento social” nos debates acadêmicos sobre as lutas políticas do povo. Seguiu-se depois que os analistas políticos também falavam de “movimentos socais”, no plural. A partir do final do século XIX, os analistas políticos não somente usavam o plural para se referirem aos movimentos sociais como também ampliaram o espectro do seu significado: agora, não apenas estavam integrados por proletariados organizados, como também por agricultores, mulheres e uma grande variedade de contestadores.

Contextualmente, se recorda que, em 2008, muitos europeus confiavam que as movimentações contra o capitalismo global não somente se converteriam em movimento que haveria de devolver aos trabalhadores europeus suas esperanças como igualmente remediar os problemas do Terceiro Mundo. É uma exemplificação do texto que, em pleno século XIX, gente do mundo todo viu na expressão “movimento social” o chamado do clarim, o contrapeso a um poder opressivo, uma convocação a ação popular contra um amplíssimo leque de pragas.

Porém, nem sempre foi assim. Ainda que se tenha milhares de anos que, em todo o mundo, o povo se rebele por um motivo ou outro, o que o Harare Daily News descreveu como “organizações globais formadas por diferentes grupos de interesses” não existiam até três séculos atrás em nenhum local do planeta. No final do século XVIII, os habitantes da Europa ocidental e América do Norte começaram, em um gesto profético, a dar forma a um novo fenômeno político, com a criação dos primeiros movimentos sociais. O texto trata os movimentos socais como uma forma única de disputa política; disputa porque esses movimentos plantam uma série de reivindicações coletivas que, se aceitas, chocariam com os interesses de outras pessoas; política porque, de um modo ou de outro, os governos, independentemente de suas ideologias, figuram em tais reivindicações, tanto como autores como objetos de tais reinvindicações, ou mesmo aliados dos objetos ou árbitros das disputas.

A história também é importante porque identifica uma série de mudanças significativas no fazer dos movimentos sociais, alertando-nos assim de possibilidades de novas mudanças no futuro. Focando no seu desenvolvimento no ocidente desde 1750, o movimento social foi o resultado da síntese inovadora entre três elementos: 1) as campanhas – um esforço coletivo e organizado; 2) os repertórios do movimento social – criação de coalisões e associações com fins específicos, reuniões públicas, manifestações, declarações e propaganda; 3) demonstrações de “WUNC”.

A campanha sempre vincula, no mínimo, essas três partes: o grupo a quem se atribui a autoridade da reinvindicação, o objeto ou os objetos de reinvindicação e o público, qualquer que seja. O que constitui os movimentos socais não são as ações isoladas dos contestadores, seus objetos ou seus públicos, mas sim a interação entre esses três elementos.

O repertório dos movimentos sociais ganha destaque único e histórico: durante o século XX, as associações, e sobretudo as coalisões transversais, começaram a desenvolver um amplo leque de atividades políticas no mundo inteiro. Contudo, a integração da maioria ou da totalidade dessas atuações em sentido de campanhas prolongadas é o que distingue os movimentos socais de outras formas de fazer política.

A expressão ‘WUNC” é uma tentativa de sigla para os seguintes termos:

  • Valor: o tipo de conduta adotada, os horizontes subjetivos para onde e nos quais se deve mover;
  • Unidade: conjunto de signos que atribuem identidade a um movimento, podendo ser vestimentas, hinos, bandeiras, entre outros;
  • Número: as quantidades mobilizadoras e mobilizantes, podendo ser número de integrantes, locais ou países em que incidem, as mensagens espalhadas, ruas ocupadas;
  • Compromisso: resistência ante a opressão, bandeirar e ostentar o sacrifício por conta da causa, o próprio ato resiliente de desafiar os maus tempos.

O caráter mais distinguível dos movimentos socais não se deve a um elemento, mas sim à combinação de campanhas, repertórios de ações e demonstração de WUNC. Por outro lado, os participantes, os observadores e os analistas que narram ou respaldam um episódio popular coletiva, hoje, lhe chamam sempre de movimento social, tanto quando há elementos de campanhas, de repertório de ação e demonstração de WUNC ou se não. A inflação do termo para que abrace todo e qualquer tipo de protesto, do passado ou do presente e esse tratamento simplório sobre os movimentos sociais os tem afetado negativamente, sobretudo quando o importante é situar os movimentos sociais em uma perspectiva histórica.

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