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PODER PRIMITIVO E APOIO CARISTICO

Por:   •  13/7/2017  •  Projeto de pesquisa  •  2.754 Palavras (12 Páginas)  •  179 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS – FCL/AR – CAMPUS ARARAQUARA

VITOR TEIXEIRA ABRANTES

O PODER PRIMITIVO E A DOMINAÇÃO CARISMÁTICA

Trabalho final do Curso de Introdução à Política.

Araraquara, julho de 2017

Introdução

        O presente trabalho se propõe estabelecer uma relação entre o poder nas tribos primitivas e o conceito weberiano de dominação carismática. Para realizar tal tarefa partir-se-á da análise da obra de Bertrand de Jouvenel, O Poder. Neste livro o autor procura realizar uma busca sobre as origens do poder, abordando, entre outros assuntos, o tema aqui de grande interesse: as tribos primitivas. Será também utilizado o texto do sociólogo alemão Max Weber, Os três tipos puros de dominação legítima. Em sua obra Weber diferencia as bases, em forma pura, sobre as quais um poder possuiria legitimidade: legal, tradicional e carismática. A última obra a ser utilizada é a de Pierre Clastres, A arqueologia da violência. Clastres faz uma análise sobre o mundo primitivo e seu sistema político.

         

 

        

Análise bibliográfica: Análise e relação do poder nas tribos primitivas e da dominação carismática de Weber.

Antes de estabelecer a relação entre o poder em tribos “primitivas” e o conceito de dominação carismática de Weber é necessário explicar em que se constituía e como era fundado o poder nas ditas tribos “primitivas”. Para empreender tal tarefa, partir-se-á da ideia de que nenhum poder se funda somente na força. Ele necessita de outras bases para a sua legitimação. É possível dizer que toda forma de poder político busca o consenso, ou seja, necessita ser reconhecido como legítimo para transformar a obediência em adesão.

        Bertrand de Jouvenel, em sua obra “O Poder”, procura definir as origens do poder, “qual foi seu primeiro aspecto, e por quais meios ele obteve a obediência.”. (JOUVENEL, 2011, p. 93). Bertrand começa explicando a concepção clássica da origem do poder, que reinou soberana até o século XIX. Nessa concepção o poder teria se originado na autoridade paterna. Pensava-se que, como o pai era a primeira autoridade conhecida pelo homem em usa vida, analogamente ele seria também a primeira autoridade conhecida pela sociedade.

Em nossa vida humana, a autoridade paterna é a primeira que conhecemos. Como não seria ela também a primeira na vida da sociedade? Desde a Antiguidade até a metade do século XIX, todos os pensadores viram na família a sociedade inicial, célula elementar do edifício social subsequente; e na autoridade paterna a primeira forma de comando, suporte de todas as outras. (JOUVENEL. 2011, p. 96).

Com a chegada do século XIX se inicia a “era iroquesa”. Essa época de novos descobrimentos, novas teorias e novas concepções para o surgimento do poder recebe esse nome devido a uma tribo, os Iroques, estudada nessa época. Essa tribo possuía características que colocou abaixo o reinado da concepção clássica da origem do poder e, com isso, abriu espaço para que novos estudos fossem possíveis, criando novas concepções sobre essa origem. O mundo primitivo passa a ser estudado novamente, mas agora com um olhar diferente.

Com base nesses novos estudos possibilitados pela “era iroquesa”, que Bertrand de Jouvenel analisa as tribos primitivas. O autor explica que essas sociedades primitivas possuiriam uma existência estritamente coletiva, e essa existência só se manteria por uma constante vigilância a todos os perigos.

Mas esse pequeno grupo, que vive uma existência estritamente coletiva, só se mantem por uma vigilância contra tudo o que, na natureza, o ameaça – a morte, a doença, o acidente, testemunhos de uma malignidade ambiental. O selvagem não vê o acaso em parte alguma. Todo mal resulta de uma intenção de prejudicar: e o pequeno acontecimento infeliz não é senão uma advertência dessa intenção que logo e manifestará com toda sua força. Cumpre então neutralizá-la por ritos que sejam capazes disso. Nada, nem o prolongamento inabitual do inverno que esgota as provisões do grupo, nem a seca tórrida que extermina o gado e os homens nem as fomes e epidemias, nem mesmo a criança que quebra uma pera, nada é fortuito. E todo infortúnio pode ser prevenido por uma conduta e por cerimónias apropriadas. (JOUVENEL, 2011, p. 102-103).

É possível compreender a partir da citação, que, nas tribos primitivas, tudo estava relacionado com o divino, com o mágico, nada acontecia por acontecer. Governaria, então, nessas sociedades, quem fosse capaz de interpretar, domar e controlar as forças invisíveis colocando-as a favor do grupo.

Teria sido reconhecido como rei, e eventualmente teria sido forçado a cumprir essa função, um homem capaz de comandar não os homens, mas as forças invisíveis a fim de torna-las favoráveis. Sua função era desarmar as más intenções, atraindo-as, se necessário, apenas para si, e sacrificando-se. (JOUVENEL, 2011, p. 103).

A capacidade de controlar essas forças seria, então, a base da legitimação de mando do governante (podendo ser entendida como uma forma de dominação carismática, como veremos mais a frente). Por essa ser sua base de legitimação, o poder do governante apenas existe enquanto ele for capaz de dominar essas forças invisíveis, podendo ser deposto (na maioria das vezes é morto) se for julgado ineficiente ou danoso pela comunidade. Pierre Clastres, em seu livro “Arqueologia da violência”, analise o papel do líder primitivo. Segundo ele o governante deveria manter-se fiel as vontades da tribo, podendo também ser “eliminado” caso coloque suas próprias vontades à frente das vontades da tribo. Ele representaria as vontades coletivas da tribo.

Tendo o rei que domar constantemente as forças más, causar a multiplicação das coisas boas, além de manter a força da tribo, compreende-se que ele possa ser morto por ineficácia. Ou, ainda, que se julgue desvantajoso para tribo o declínio de seu poder. (JOUVENEL, 2011, p. 104).

Essencialmente, compete-lhe assumir a vontade da sociedade de mostrar-se como uma totalidade una, isto é, assumir o esforço concentrado, deliberado, da comunidade, com vistas em afirmar sua especificidade, sua autonomia, sua independência em relação às outras comunidades. Em outras palavras, o líder primitivo é principalmente o homem que fala em nome da sociedade quando circunstancias e acontecimentos a colocam em relação com os outros. (CLASTRES, 2004, p. 147).

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