Pensamento Social de Florestan Fernandes
Por: Carla Vandanezi • 8/11/2016 • Resenha • 1.353 Palavras (6 Páginas) • 738 Visualizações
Pensamento Social de Florestan Fernandes
Por Carla Vandanezi, graduanda em Ciências Sociais
Universidade Federal de Juiz de Fora
10 de agosto de 2016
Florestan Fernandes foi um sociólogo e político brasileiro, nasceu em São Paulo, no dia 22 de julho de 1920 e faleceu em São Paulo no dia 10 de agosto de 1995, aos 75 anos de idade. Teve uma vida complicada, criado pela mãe lavadeira e obrigado a trabalhar desde os seis anos de idade. Em 1941, ingressou na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo (USP), formando-se em Ciências Sociais. Doutorou-se em 1951 e foi assistente catedrático, livre docente e professor titular na cadeira de sociologia, da USP. Tem seu nome associado à pesquisa sociológica brasileira, com mais de cinquenta obras publicadas. Ele transformou as Ciências Sociais no Brasil e estabeleceu um novo estilo de pensamento.
Florestan tem como uma de suas principais obras A Revolução Burguesa no Brasil publicado em 1974, mas que começou a ser escrito em 1966. Ele emprega o conceito de “revolução burguesa” como “tipo ideal”, isto é, como princípio heurístico e fio investigativo da origem, natureza e desdobramentos do capitalismo no Brasil.
No livro aborda sua interpretação sobre o processo histórico da formação e transformação da sociedade brasileira. Para ele, o Brasil desde o seu descobrimento, não era considerado uma nação capitalista e só foi conhecer este sistema tempos depois. Tinha como sua estrutura social a aristocracia agrária, ou seja, estavam no poder os grandes latifundiários que originaram a burguesia no Brasil. Em suas palavras:
“O desenvolvimento desigual e combinado do capitalismo transmuta-se em sinônimos como estrutura composta e duplamente articulada, e a revolução passiva vira um processo de revolução burguesa de longa duração” (FLORESTAN: 1974).
Florestan busca a partir da história do Brasil, o que causou e quais foram as razões das deformações do período contemporâneo, marcadas principalmente pela ditadura militar e por um desenvolvimento econômico desigual, lento e dependente internacionalmente. Isto é, o Brasil implantou em sua nação o modelo capitalista, que logo se adaptou a uma burguesia, que ainda estava ligada a estrutura agrária. O capitalismo brasileiro para ele é “incompleto e tardio, subordinado ao imperialismo e de insuficiente mutação burguesa das estruturas de dominação" (FLORESTAN, 1974).
No seu livro, ele muda o conceito de seus discursos, no qual varia de Weber e Durkheim à Lenin, apontando o dilema entre a objetividade científica e a opção política. O conceito de revolução burguesa não é considerado precisa, e sim, varia entre uma definição socioeconômica e política. Deste modo, para ele, primeiramente surge à emergência e consolidação capitalista para no final surgir a crise do poder burguês.
“A revolução burguesa constitui um fenômeno estrutural, que pode se reproduzir de modos relativamente variáveis dadas certas condições ou circunstâncias, desde que certa sociedade nacional possa absorver o padrão de civilização que a converte numa necessidade histórico-social” (FLORESTAN: 1974).
O autor sugere a diferença entre o modelo clássico de revolução burguesa, que ocorreu na Europa e América do Norte, onde proporcionou um modelo de capitalismo independente e a democracia política, com a revolução burguesa periférica, que ocorreram nos países da América Latina, onde foi instituído um modelo de capitalismo dependente, de dominação externa e a autocracia burguesa. E por não ter um modelo já estabelecido do processo de modernização das estruturas sociais, políticas e econômicas das formações capitalistas, o Brasil mesmo com suas limitações impostas, conseguiu ocasionar uma revolução econômica autentica, mas não teve como repetir o capitalismo da Inglaterra, da França e dos Estados Unidos aqui, devido à preservação da articulação entre o latifúndio e o imperialismo.
Florestan destaca que o Brasil, a partir da década de 1930, progride devido a industrialização, porém, a tecnologia usada vem de países desenvolvidos, e com ela a estrutura passiva e subserviente. Portanto, a economia periférica tende a se tornar ainda mais dependente, impossibilitando o desenvolvimento capitalista autônomo e que se sustente por si próprio.
Pensando sobre o modelo democrático burguês de transformação capitalista, Florestan se coloca contrário a repetição, negando a existência de determinantes universais nesse processo. Sintetizando, a tese de Florestan possui duas premissas, a primeira seria de que as transformações capitalistas expõem um caráter burguês em todos os lugares, e a segunda se refere a dominação burguesa ser inevitável, independente das formas políticas específicas que é utilizada.
Deste modo, a ideia de uma organização de classes que é considerada uma característica das sociedades capitalistas, que se relacionam de forma a contribuírem ou lutarem entre si tanto para preservar, fortalecer, e aperfeiçoar, quanto para extinguir determinado regime social de produção econômica. Isso não ocorre apenas entre as classes, mas também entre a burguesia no sistema capitalista, no qual temos uma essência hegemônica e suas versões periféricas que são identificadas como capitalismo selvagem para Florestan.
Conforme esta teoria, é possível notar que os que possuem poder neste modelo de capitalismo, exploram e dominam o povo para se assegurarem de seus privilégios e a divide do excedente econômico com as burguesias hegemônicas, porém, ao certo este excedente teria que ser destinado às classes trabalhadoras.
O autor associa progresso econômico dependente com miséria e exclusão despótica, no qual estas classes dominadas possuem direitos. Deste modo,
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