Politica Social
Pesquisas Acadêmicas: Politica Social. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: edjunior001 • 10/10/2013 • 8.420 Palavras (34 Páginas) • 331 Visualizações
CAPÍTULO 8
POLÍTICAS SOCIAIS NO BRASIL: PARTICIPAÇÃO
SOCIAL, CONSELHOS E PARCERIAS
Frederico Barbosa da Silva
Luciana Jaccoud
Nathalie Beghin
1 INTRODUÇÃO
A Constituição de 1988 instituiu o arcabouço jurídico que permitiu a conso-lidação do regime democrático no Brasil. Um conjunto de direitos sociais foi
ali estabelecido como resultado de um longo e conflituoso processo de mobi-lizações sociais e políticas que marcaram os anos 1970 e 1980. Nessa trajetó-ria, buscou-se ampliar o envolvimento dos atores sociais nos processos de decisão
e implementação das políticas sociais, respondendo a demandas em torno da
descentralização e da democratização do Estado brasileiro. A partir da nova
Carta constitucional, os conselhos se institucionalizaram em praticamente todo
o conjunto de políticas sociais no país, representando uma nova forma de
expressão de interesses e de representação de demandas e atores junto ao Esta-do. Ao mesmo tempo, proliferam outras formas de participação social na pres-tação de serviços e na própria gestão do social, impulsionando um movimento
que havia adquirido novo vigor desde ao menos o início da década de 1980.
A participação social passou a representar, em suas diversas modalidades,
um elemento estruturante do Sistema Brasileiro de Proteção Social (SBPS). Sua
análise oferece elementos relevantes para o debate atual sobre políticas públicas,
seja no que se refere à sua institucionalização e execução, seja quanto ao
enfrentamento das questões sociais. Para efeitos deste trabalho, a participação
social no campo das políticas sociais será analisada a partir de duas dimensões,
ambas definidas pela Constituição de 1988. A primeira diz respeito à participa-ção social nos espaços de debate, deliberação e controle das políticas, e se
institucionaliza em nível federal nos conselhos1 nacionais das políticas sociais.
1. Faz-se mister destacar que existem diversos outros mecanismos que buscam promover a participa-ção social nestes espaços das políticas sociais, tais como conferências, fóruns, câmaras, comissões e
ouvidorias. A análise destes instrumentos será objeto de pesquisas futuras da Diretoria de Estudos
Sociais (Disoc) do Ipea.
Frederico Barbosa da Silva, Luciana Jaccoud e Nathalie Beghin374
A segunda se refere à participação na execução destas políticas. Neste âmbito
será focalizada, a partir do enfoque da participação social, a organização de par-cerias entre gestores públicos e entidades privadas de fins não lucrativos.
Dessa forma, este capítulo tem como objetivo abordar o processo de par-ticipação da sociedade no âmbito das políticas sociais no que tange à formula-ção, gestão, implementação e controle das políticas sociais, apontando
características, potencialidades e tensões.
O capítulo está dividido em quatro seções, além desta introdução. A seção
seguinte delimita a participação como objeto de análise e descreve o processo de
redesenho do Estado que se desenrolou no período pós-1988, visando à presen-ça da sociedade em face das políticas sociais. Na terceira seção, aborda-se a
dimensão da participação no processo decisório das políticas sociais. Identifi-cam-se os conselhos em áreas selecionadas de políticas sociais e discute-se o
papel dos espaços participativos na orientação e controle daquelas políticas.
Busca-se, ainda, conceituar esta forma de participação, identificar os instru-mentos que permitem sua realização, apresentar uma tipologia de suas formas
de operacionalização e problematizar alguns tópicos. Na seqüência, na seção
4, adota-se procedimento semelhante em relação à dimensão da participação
na execução das ações pela via da institucionalização de parcerias entre o go-verno federal e as instituições sem fins lucrativos. Procura-se ainda realizar um
cotejo entre o exercício das distintas formas de participação e o efetivo alcance
de seus objetivos originais. Por fim, nas considerações finais, são apresentadas
algumas questões para serem abordadas em pesquisas posteriores.
2 PARTICIPAÇÃO SOCIAL, DEMOCRACIA E GESTÃO
O texto constitucional de 1988 é um marco na democratização e no reconhe-cimento dos direitos sociais. Articulada com tais princípios, a Constituição
alargou o projeto de democracia, compatibilizando princípios da democracia
representativa e da democracia participativa, e reconhecendo a participação
social como um dos elementos-chave na organização das políticas públicas.
De fato, com a Constituição de 1988 a participação social passa a ser valoriza-da não apenas quanto ao controle do Estado, mas também no processo de
decisão das políticas sociais e na sua implementação, em caráter complemen-tar à ação estatal.
Desde então, a participação social tem sido reafirmada no Brasil como um
fundamento dos mecanismos institucionais que visam garantir a efetiva prote-ção social contra riscos e vulnerabilidades, assim como a vigência dos direitos
sociais. Com maior ou menor sucesso, esta foi uma das importantes inovações
institucionais ocorridas no Brasil pós-Constituinte. A garantia de direitos sociais
Políticas Sociais no Brasil: Participação Social, Conselhos e Parcerias 375
nos campos da educação,
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