- RESUMO DO LIVRO “BREVE HISTÓRIA DO CORPO E DE SEUS MONSTROS”
Por: lvsf • 10/6/2018 • Resenha • 1.643 Palavras (7 Páginas) • 843 Visualizações
I - RESUMO DO LIVRO “BREVE HISTÓRIA DO CORPO E DE SEUS MONSTROS”, DE IEDA TUCHERMAN (1999).
Na apresentação do livro Breve História do Corpo e de Seus Monstros, Ieda Tucherman demonstra ser uma autora alérgica a verdades contumazes e, de forma ensaística, diz que pretende elucidar o momento presente de maneira contrária aos dizeres apocalípticos a respeito da “realidade” de nossa era. É importante dizer que este livro foi lançado em 1999, marco do final de um século e começo de outro, quando o medo do futuro se traduz em um pessimismo nostálgico.
Os diagnósticos da virada do século falam sobre o esgarçamento do humanismo, das ameaças ao eco sistema e da perda de identidade bem como do fim dos processos de subjetivação. Vazio e perda são palavras proferidas de um espaço-tempo que hesita o seu devir e se angustia com a transformação.
Embora saibamos que o marco temporal não altera consigo os modos de pensar e agir por si só, mas que esta mudança provém de longo processo na duração do tempo que nos traz até o presente, o momento do qual Tucherman nos escreve é de um pensar alarmante. Como se o futuro, descontrolado do presente, deixasse ver os males trazidos já em sua véspera.
A autora afirma que este livro nasce deste e contra este ambiente, a começar pelo questionamento da definição do termo “pós-modernidade” que genericamente escolhido para representar a época a qual se refere o texto, segundo Tucherman, é dúbio em seu sentido: “e, se é o depois da Modernidade, é uma continuação no depois, uma evolução, ou uma ruptura? Pós-modernidade seria o nome da crise da Modernidade, ou de sua total superação?” (p. 13) Sendo assim, Tucherman estabelece com o leitor o acordo de que irá usar um termo sem a carga de um enunciado para se referir ao momento presente, tratando-o apenas enquanto “atualidade”.
No texto, o termo “atualidade” é um gancho para pensar as inovações da tecnologia e a inserção do espaço virtual no cotidiano humano. A autora diz
ser impossível não pensar esta relação imediata, uma vez que “neste nosso agora assistimos a reinvenção da cultura onde o ciberespaço e a realidade virtual põe em questão a própria existência do real e de seu sentido.” (p. 13) Isto quer dizer que a antiga noção de real estava ligada a uma presença tangível e que a nova modalidade virtual põe em questão a necessidade da efetuação material para a realização dos acontecimentos.
Tucherman é cuidadosa ao alertar ao leitor que não se detenha a definição ultrapassada do real, dizendo:
“(...) é necessário evitar armadilhas: o virtual não se opõe ao real; a relação que existe é entre o actual e o virtual, um modo próprio de ser do real que se associa a um processo de “desterritorialização” e a novos fenómenos espaços-temporais.” (p. 13, grifo nosso)
A aceleração do tempo é mencionada como um fenômeno espaço- temporal, consequência da inserção das novas tecnologias. A partir de então, a autora nos conta que: “hoje é a velocidade que nos confunde: é que parecemos estar atrasados não ao nosso futuro, mas em relação ao nosso próprio presente.” (p. 15)
Se analisarmos o trecho acima levando em consideração a mudança da percepção humana sobre o tempo, poderemos sentir - colocando-nos no lugar da narradora que representa uma vivente deste período transitório - a sensação de “estar perdido” que esta voz transmite. Neste caso, estar perdido significa perder-se no contínuo deixar de ser do tempo e das inovações que o modificam. Contudo, é precioso observar que sobre o sentimento de perda que a mudança proporciona a autora não apresenta temor e, muito pelo contrário, trata-o com naturalidade. Assim, prossegue dizendo:
diz:
A única certeza que parece lógica é a da perda de tudo o que enquadrou os nossos saberes, as nossas confortáveis referências teóricas, as nossas antigas fronteiras que delimitavam humano e não-humano, e da articulação passado-presente-futuro que nos dotava, ao menos imaginariamente, da capacidade de previsão, da diferença representada pelo novo que destacava real e possível entre outras. (p. 16)
Ainda sobre a mudança e a sensação de estar perdido, Tucherman
As revoluções tecnológicas configuraram um tempo onde as coisas acontecem antes de terem sido desejadas. O novo valor de investimento
do nosso mais imediato ontem é também o nome da angústia do nosso hoje, já que nos inclui a pergunta: Que humanos somos nós? A que nova raça pertencemos? O que é hoje a nossa corporeidade? (p. 17)
Para fechar esta primeira parte, a autora aponta o que tratará ao longo deste livro através das interrogações: “o que é ser um corpo? Ou o que é ter um corpo? Que possibilidades hoje nos estão abertas e que experiências nos são possíveis?” (p.16), uma vez que o corpo - entendido como limite da existência humana - é quem atravessa a atualidade e também por onde atravessam as decorrentes mudanças.
RESUMO DO CAPÍTULO II – BREVE HISTÓRIA DO CORPO
Na primeira parte deste capítulo é retratada a significação do espelho em relação ao corpo ocidental. Uma vez que na tradição ocidental o corpo tem fundamental importância pela característica de sua aparência evidente e que o espelho também pertence ao “reino da visibilidade”, a autora utiliza este exemplo para nos falar da tradição cultural ocidental que atrela a sabedoria ao olhar.
Ou, em palavras próprias, Tucherman diz que na cultura ocidental “ver é conhecer e a aposta é que uma pedagogia do olhar é que constrói a nossa relação com o mundo.” (p. 19) Reforçando esta ideia, a autora cita o desdobramento da palavra espelho descrita por Umberto Eco que diz que “espelho”, em sua origem speculum, tem como derivada a palavra speculatio (estar de observação, pensar vendo).
Apesar da noção de conhecimento estar ligada ao olhar e do espelho representar um lugar de “estar de observação”, Tucherman deixa claro que ainda assim a relação com o espelho escapa ao controle humano - é volátil, esfinge ou miragem que só existe quando se está diante.
Sobre a inconstância do reflexo humano em frente ao espelho, a autora nos fala numa quase metáfora: “depois de eu desaparecer, a pessoa que me seja mais amada e a mais próxima, olhando no espelho em que eu me vi cada
manhã, só encontrará seu “próprio” corpo e minha perda.” (p. 20)
...