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Racismo, Pós-Racismo: uma discussão histórica e atual dos pilares da Antropologia Cultural

Por:   •  5/12/2018  •  Trabalho acadêmico  •  6.790 Palavras (28 Páginas)  •  249 Visualizações

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Racismo, Pós-Racismo: uma discussão histórica e atual dos pilares da Antropologia Cultural

Camila Gaido GRIZZO1 Jacqueline ARANTES2

“Somos prisioneiros da Universidade, porque supomos que ela contém os anéis de mudança intelectual. Mas o sistema reprodutivo que garante à Universidade a sua permanência também é aquele que impede o progresso do pensamento. O que é grave é que as necessidades das empresas globais, e isso o território mostra, arrastam os governos - nacional, estaduais, no caso do Brasil, e locais (SANTOS,1999,p.21)”.

Resumo

O presente artigo é produzido com a intenção de compreender sumariamente as origens das desigualdades raciais no território brasileiro através da perspectiva da escola norte americana de antropologia cultural e de que maneira tais desigualdades perpassam pelo nosso cotidiano através da comunicação de massa contribuindo para uma naturalização e tipificação das desigualdades candentes dos dias atuais.

1 Por que precisamos produzir com qualidade ?

Estimuladas a pensar e a escrever por nós mesmas, Milton Santos (1926-2001) considera necessário que tenhamos noção sobre o conceito de periodização, pois é por meio de espaços de tempo que é possível perceber a realidade. A realidade que se encontra aberta para ser compreendida sobre as diversas técnicas racionais e incompatibilidades, que assim retratadas por Francis Wolff (1950-), vão justamente constituir seus conflitos e crises. Crises que permearam a coerência da sua existência e negaram que possa haver uma única razão em prol de um único tipo de técnica argumentativa a ser utilizada.

Essa limitação, ou prova da liberdade de não possuir um dogma, está no estabelecimento de um previlégio de um dos princípio fundador do julgamento democrático que é o diálogo e aprovação do discurso, por isso a crise encontra-se em uma relação simbiótica porque “jamais houve uma maneira de estabelecer racionalmente verdade, mas[pic 1]

1 Graduada em Comunicação Social com habilitação em Publicidade e Propaganda pelas Faculdades Integradas de Jaú e graduanda em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquista Filho”.

2 Educadora Popular e graduanda em Ciências Sociais na Universidade Estadual Paulista “ Júlio de Mesquita Filho”.


necessariamente várias verdades (WOLFF,1996,p..78)”. Na contemporaneidade a discussão ainda se faz presente sobre a objetividade e subjetividade dentro da razão sob sua episteme e doxa na produção do conhecimento.

A procura por uma ruptura excessiva por meio das descobertas etnográficas deve questionar a busca de afirmação categórica e indagar pertinência da descontinuidade das coisas como necessária. Essa descontinuidade contribuirá na fomentação atual de que tolerar uma diferença não garante o seu respeito, por isso o processo de tolerância deve ser questionado de uma maneira que reelabore dissolvendo o racismo dele também propagado. Aprendizagem deve fomentar as sensações de tato que permite as pistas necessárias para uma lição, por isso a transdisciplinaridade deve ser acionada na cientificidade contemporânea.

Por isso esse artigo de referências históricas e discussões antropológicas da vertente cultural e social atentou-se a formular a si mesmo e ao outro uma questão de existência recíproca na tentativa de expor a arrogância das universalidades que suportam crenças e costumes diferentes de quem detém o poder nas relações humanas no mundo.

  1. Uma visão histórica: O Brasil e o Mundo num contexto colonizador

O Brasil, enquanto pertencente ao grupo daqueles que foram explorados e colonizados por europeus, assim como se deu com outros países da América Central e Latina, África Subsaariana, Ásia e Oceania, possui um comportamento, ainda em 2017, bastante racista e repulsivo em relação ao desconhecido, ao outro, àquele diferente de mim – mesmo que a miscelânea cultural em solo brasileiro seja uma das marcas mais fortes na identidade nacional. Atualmente, a desigualdade social tem auxiliado na estagnação dessa característica tão própria de nosso país uma vez que é notável o caráter de exclusão pelos métodos meritocráticos para a ascensão social como o acesso às universidades públicas ou até mesmo a inserção no mercado de trabalho quando se é negro e/ou possui baixo nível de escolaridade.

Tal feição se instalou ainda em 1500, segundo o calendário gregoriano, com a entrada de exploradores e outros aventureiros a mando de uma classe hegemônica (não em  quantidade representativa, mas, em influência econômica, política e intelectual) pertencente à elite europeia que ao iniciar seus processos de descobrimentos e de contato nos territórios onde nunca antes haviam pisado depositaram, sem pedir licença, doenças, culturas, valores


morais e simbólicos relacionados à sua própria cosmogonia. A supressão realizada a grupos indígenas e de grupos africanos não foi exclusividade de nossa história, e inclusive aqui, se postergou até o atual momento em que é escrito este artigo.

[...] um processo continuado e violento de unificação política, logrado mediante um esforço deliberado de supressão de toda identidade étnica discrepante e de repressão e opressão de toda tendência virtualmente separatista. Inclusive de movimentos sociais que aspiravam fundamentalmente edificar uma sociedade mais aberta e solidária. [...] Conforme se vê, a população original do Brasil foi drasticamente reduzida por um genocídio de projeções espantosas, que se deu através da guerra de extermínio, do desgaste no trabalho escravo e da virulência das novas enfermidades que os achacaram. A ele se seguiu um etnocídio igualmente dizimador, que atuou através da esmoralização pela catequese; da pressão dos fazendeiros que iam se apropriando de suas terras; do fracasso de suas próprias tentativas de encontrar um lugar e um papel no mundo dos "brancos". Ao genocídio e ao etnocídio se somam guerras  de  extermínio,  autorizadas  pela  Coroa contra índios considerados hostis,

como os do vale do rio Doce e do Itajaí. Desalojaram e destruíram grande número

deles. Apesar de tudo, espantosamente, sobreviveram algumas tribos indígenas ilhadas na massa crescente da população rural brasileira. [...] Esses, ainda que crescentemente mestiçados e aculturados, permanecem sempre "indígenas" na qualidade de alternos dos "brasileiros", porque se vêem e se sofrem como índios e assim também são vistos e tratados pela gente com que estão em contato. (RIBEIRO, 1995, pp. 13 e 144)

Este processo muito defendido pelos colonizadores como civilizatório e até mesmo de emancipação aos selvagens que encontravam se deu de maneira violenta e mortífera para com os seres humanos nativos das terras onde aqueles eram recém-chegados, vide o encontro de portugueses e índios brasileiros e depois a tentativa de domesticação jesuítica. O sentimento de aversão ao outro, da mesma maneira o racismo, tem suas origens aqui, uma vez que o único contato possível com as populações diferentes era à base da exploração, dominação e, quando houvesse resistência, do massacre como forma de defesa da sua própria cultura e do progresso através do desenvolvimento do crescente capital mercantil.

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