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Resenha- Conversas com quem gosta de ensinar

Por:   •  8/11/2015  •  Resenha  •  2.225 Palavras (9 Páginas)  •  10.694 Visualizações

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Resenha por: Alexia Cristina Amaral

ALVES, Rubem. CONVERSAS COM QUEM GOSTA DE ENSINAR. 1. ed. Guarulhos -SP: Editora Cortez, 1980.

Rubem Alves nasceu na cidade de Boa Esperança (Minas Gerais) em 15 de setembro de 1933. Tendo se mudado em 1945 para o Rio de Janeiro. Rubem Alves foi educador, escritor, psicanalista e professor. É na verdade um dos educadores mais famosos e requisitados atualmente no Brasil. É autor de mais de sessenta livros, entre os quais se encontra uma prolífica literatura infantil e vários livros voltados para a área da educação.

        O livro de Rubem Alves é dividido em capítulo com nomes bem incomuns: Sobre jequitibás e eucaliptos – amar; Sobre o dizer honesto – acordar; Sobre palavras e redes – libertar; Sobre remadores e professores – agir.

        Inicia-se com uma pequena autobiografia e uma justificativa de não ter optado pelo prefácio “Conversas não devem ser prefaciadas. A gente simplesmente começa e a coisa vai.”(Pagina 07).

        No primeiro capítulo “Sobre jequitibás e eucaliptos – amar”, o autor relata um acontecimento pessoal, onde seu pai colecionava um almanaque que catalogava os município e Minas Gerais, e dentre eles uma cidadezinha de seu pai, chamada Boa Esperança. Que aos percorrer o almanaque percebe que os tropeiros, não só dessa cidade, mas também de todas não existem mais.

        Mediante o acontecimento o autor se coloca a pensar em outras profissões que com o tempo foram se acabando como: os médicos que atendiam em fazendas, os boticários, o artesão, os tocadores de realejo e do caixeiro-viajante. Pensando nisso ele diferencia “professor” de “educador”, onde educador é vocação porque envolve amor e professor é profissão.

        Diante dessa analogia Rubem Alves compara o professor e o educador ao eucalipto e o jequitibá. Ambas são árvores que dão madeira, mas não são a mesma coisa. Compara ainda o educador a uma árvore velha que tem nome e história para ser contada, já o professor se interessa apenas pelos créditos, ou seja, a disciplina apreendida pelo aluno.

        Ainda nesse capítulo ele explica que a ética religiosa transformou a pessoa em uma “identidade de função”. Pois atualmente quando alguém nos pergunta quem somos, respondemos imediatamente com a profissão que exercemos na sociedade. Nisso temos o professor como entidade comandada pelo sistema e o educador definido pelas suas visões, paixões e esperança.

        Alves acredita que o próprio sistema é responsável pela “criação” do professor no lugar do educador, já que o professor é avaliado pelo seu serviço, pontualidade, formação acadêmica e artigos publicados. Segundo ele isso é de responsabilidade da lógica das instituições.

        Entre o professor e o educador, segundo Alves, há uma dialética no meio da inexistência e do heroísmo. Isto torna cada um de nós professores e educadores ao mesmo tempo, já que um está implícito no outro.

        Para Rubem Alves o amor se esvai diante a rotina tão árdua do professor. Ironiza o profissional que aos 25 anos de trabalho, se sente exaurido e pronto para a aposentadoria. O mundo da burocracia, dos projetos e relatórios (os donos do poder) é que transformaram o educador em meros professores.

        O autor questiona a possibilidade de um retorno aos “anos de paixão religiosa”. Instiga a possibilidade de voltarmos a ser educadores e não somente professores. Para isso, segundo ele, é necessário que o professor reaprenda a “falar”, pois além de ser o instrumento do educador, as palavras têm um poder criador. Nisso, ele vê como necessário voltar-se para o passado, pois é relembrando que percebemos nossos erros e acertos.

        O professor, então é um especialista em reprodução enquanto o educador é pastor (guia) de projetos. Sendo assim, temos que “acordar” o educador que há em nós.

        No segundo capítulo “sobre dizer honesto-acordar”, nos compara à rãs no fundo do poço e acrescenta que devemos nos paltar em nossa própria ideologia.

        Propõe uma análise no nosso lugar ideológico “nosso poço” e que recuperemos a coragem de falar com honestidade o que vimos, ouvimos e pensamos, pois as palavras podem até matar.

        Segundo Alves, o destino daqueles cujos corpos se libertaram do religioso parece ter uma nova dependência, agora da ciência. Entende a classe social, como instrumento de manipulação do “corpo”. E esse corpo serve como apropriação de objetos e a educação, em seu sentido mais amplo, para manipulação e controle do corpo.

        Para o autor, o corpo só preserva as ideias que lhe sejam úteis. A fala só existe na intenção de exprimir aquilo que falta no corpo. Enfatiza que no Brasil, há ideologia impregnadas no passado que devem ser renovadas.

        Nisso o autor nos compara à “protestantes ouvidores da palavra” e ressalta que a palavra não pode ser simplesmente ouvida e “acreditada”, mas sim interpretada, selecionada e analisada. Diz ainda que, se o corpo contém a verdade do que dizemos, o caminho para a verdade sobre a educação deverá passar pelo corpo do educador.

        De acordo com Rubem Alves, o que é imediatamente experimentado não precisa ser ensinado, nem repetido para ser memorizado. Nossa educação, atualmente, mandem um grande abismo entre o que é falado e o que é vivido.

        Fala ainda sobre palavras que usamos diariamente sem analisar o seu real significado, que o autor chama de “palavras, Cavalo de Troia” (página 43). Com isso, discutimos verdades que são totalmente independentes do sujeito.

        Alves entende que o cientista natural não pode alterar as leis da natureza por meio de sua ação, mas a sociedade é um produto humano que pode ser mudado. Nisto está a concepção do que vem a ser professor e educador.

        O discurso ideológico, segundo o autor, não é um discurso da realidade, mas ele cria a própria verdade.

        Em seu terceiro capítulo “Sobre palavras e redes-Libertar”, ele nos compara às vespas que põe suas larvas e deixam-nas crescer sem mestre. Carregamos, segundo ele, uma carga biológica de conhecimento, pois livre do passado, esta vespa gozaria a liberdade absoluta, liberdade que terminaria em morte, porque não saberia como perpetuar-se.

        Os seres humanos, por sua vez precisam ser ensinados e para isso utilizam a linguagem. Para ele, a educação é o processo pelo qual aprendemos uma forma de humanidade. E ele é mediado pela linguagem, portanto aprender o mundo humano é aprender uma linguagem.

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