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Resenha de Farenheit 451

Por:   •  22/2/2017  •  Resenha  •  2.910 Palavras (12 Páginas)  •  168 Visualizações

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Resenha de Farenheit 451

Introdução

Nas linhas abaixo discorro sobre o livro Farenheit 451 e estabeleço algumas relações com conceitos antropológicos e sociológicos, além de fazer uma breve análise, nas entrelinhas, sobre as semelhanças encontradas entre a distopia de Bradbury e a sociedade atual. Deixo explícito, desde já, que não mencionarei todas personagens, nem a história em sua totalidade. Escolhi os pontos que ao meu ver são mais interessantes e tem maior impacto durante a leitura.

451 ºF

Parte l – Sobre o mundo distópico

C6H10O5 + 6 O2 → 6 CO2 + 5 H2O

Essa é a reação de combustão da celulose. Os bombeiros do esquadrão Farenheit 451 usavam uma combinação como esta para iniciar um incêndio. Colocar fogo? Mas bombeiros não apagam o fogo? Sim, colocar fogo; e não, os bombeiros, nesse caso não apagam fogo, não mais. Todas as casas e edifícios são a prova de fogo. A profissão citada teve sua função reestruturada, ao invés de apagar, esses profissionais passaram a atear fogo. Contudo não se trata de incendiar qualquer coisa, o alvo são os livros, 451 ºF ou 232 ºC é a temperatura de queima do papel.

Essa é a base da narrativa da famosa distopia de Ray Bradbury, em que adentramos em um mundo fictício onde o conteúdo midiático e a publicidade são onipresentes no cotidiano, através da exibição de programas em grandes telas e da comunicação interpessoal por estas mesmas telas em conjunto com um aparelho semelhante a um fone de ouvido. Entenda como: nessa história, as mídias são o novo ópio do povo.

Para que esses novos atores protagonizassem a vida social, outros deveriam ser descartados, colocados de lado, no caso, quem perdeu o papel foram os livros. Os mesmos eram a recordação de um passado sombrio, em que as pessoas tinham ideias próprias e as debatiam. Com a repressão do pensamento individual em conjunto com a manipulação por parte da mídia, as pessoas tornaram-se vazias (contudo eram felizes, ou tinham a sensação de sê-lo, já que as telas incutiam isso).[pic 1]

Nesse mundo as relações interpessoais, em consequência do uso dos citados aparelhos, tornaram-se, virtuais, haja visto que o contato e interações sociais são demasiadamente superficiais. A comunicação dá-se, principalmente, por meio dos aparelhos que ficam no ouvido e também pelas telas, seria algo como o Skype de hoje, ou, até mesmo, o whatsapp (no que tange a máxima sociabilidade com o mínimo de contato real).

Parte ll – Sobre Montag e Clarisse

Agora que te deixei a par de como é o mundo de Farenheit 451, vou contar um pouco sobre o protagonista, sobre alguns personagens, e sobre o desenrolar da história.

O protagonista é Guy Montag, um bombeiro do esquadrão 451. Logo no início testemunhamos um incêndio.

“Queimar era um prazer.

Era um prazer especial ver as coisas serem devoradas, ver as coisas serem enegrecidas e alteradas.[...] a grande víbora cuspindo seu querosene peçonhento sobre o mundo[...]

Montag abriu o sorriso feroz de todos homens chamuscados e repelidos pelas chamas.”

O que se segue ao seu dia de trabalho que é surpreendente. Montag, a caminho de casa, depara-se com Clarisse McCleallan, a nova vizinha, uma garota de 17 anos e que é doida, de acordo com a caracterização feita por ela mesma. Ao meu ver McCleallan é uma jovem com questionamentos e pensamentos pouco usuais quando comparada com outros da narrativa, e com uma clareza no que tange o entendimento da realidade circundante. Ela e o bombeiro têm uma breve conversa no caminho de casa, uma conversa simples, mas que, dadas as perguntas feitas por Clarisse, estimulaa o pensamento de Guy.

“ –Você nunca lê nenhum dos livros que queima?

Ele riu.

–Isso é contra a lei! ”

 [Montag nunca havia lido os livros, mas já havia furtado alguns antes de queimar]

“[...] –Estranho. Uma vez me disseram que, muito tempo atrás, as casas pegavam fogo por acidente e as pessoas precisavam dos bombeiros para deter as chamas.”

Abro um parênteses aqui. Leia novamente a fala anterior de Clarisse. Como leitores e observadores da narrativa, sabemos que a garota está certa, e que, em algum momento anterior na linha temporal que antecede os acontecimentos do livro, as casas pegavam fogo e os bombeiros o apagavam. Mas Montag, o bombeiro, não acredita na garota. Para ele seus companheiros sempre atearam fogo nos livros. Podemos relacionar essa passagem ao conceito de habitus e de técnica do corpo de Marcel Mauss. Para o antropólogo, as técnicas do corpo, ou seja, o modo conjunto de indivíduos efetua a manipulação de um instrumento, no caso, o corpo, determina a maneira como os indivíduos se comportam, varia conforme as sociedades, a educação, a moda e o prestígio[1]. Para Guy, seu hábito e sua técnica incendiários são normais e sempre foram; para Clarisse não. Notamos aí uma mudança cultural que resultou na alteração de uma técnica e, por conseguinte, no habitus e até mesmo na crença da sociedade, que se adaptou aos novos tempos. Fecho aqui o parênteses.

A conversa foi uma faísca para o que se sucede na narrativa. A partir do momento citado, Montag começa a refletir sobre a sociedade, sobre a função que ele desempenha e as atitudes e o modo como cada um sobrevive, sobre a rapidez com que as coisas acontecem, sobre como a destruição pode ser rápida e insignificante – exemplificado na guerra e no fim da cidade como veremos mais adiante – a relevância de cada um no corpo social e a importância da leitura nesse mundo.

Clarisse conversa mais algumas vezes com Montag, mas desaparece repentinamente, levando a acreditar que ela morreu. No posfácio descobrimos, que em uma peça sobre o livro, o autor menciona  que a garota surge ao final para saudar Montag. No filme, de título homônimo, a garota figura entre os Homens-Livros que vagavam pela floresta, recitando repetidamente trecho de seus livros[2].

Parte lll – Sobre o Sabujo Mecânico

As inovações tecnológicas de controle interpessoal, de vigilância, no livro, são representadas pela figura do sabujo mecânico. Uma criatura de aparência medonha que investiga os possíveis suspeitos de possuir livros. O sabujo lembra, no que tange a vigilância, o Grande Irmão, do livro 1984 de George Orwell, sempre alerta. Guy, por esconder alguns dos livros que deveria queimar, sente medo da máquina.

“Montag tocou em seu focinho.

O Sabujo rosnou.

Montag saltou para trás.

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