SOCIABILIDADE E TRABALHO
Exames: SOCIABILIDADE E TRABALHO. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: rictaso • 31/7/2014 • 5.785 Palavras (24 Páginas) • 268 Visualizações
Texto ABESS 23/06/06 18:35 1
O PROCESSO DE PRODUÇÃO/REPRODUÇÃO SOCIAL; TRABALHO E
SOCIABILIDADE1
Qual a relação entre os homens e a natureza? O que torna o ser social distinto da
natureza? Por que o trabalho é a mediação entre eles? E, finalmente, porque o trabalho se
converte em trabalho alienado? Estes são os temas que abordaremos neste texto.
Para compreender a relação entre a sociedade e natureza devemos, inicialmente
caracterizá-los. A natureza é composta pelo ser inorgânico (mundo mineral) e pelo ser
orgânico (animais e plantas). Assim como as plantas se alimentam do reino mineral, e os
animais se alimentam das plantas e dos minerais – os homens apenas podem existir em relação
com a natureza: a começar pelo fato de que sem a reprodução biológica dos indivíduos não há
sociedade possível.
Isto é da maior importância: por mais desenvolvida que seja a sociedade, ela sempre terá
uma base natural. Sem a transformação da natureza pelos homens – e sem a reprodução
biológica – não há história humana. Contudo, o ser social é distinto do mundo natural porque,
na esfera da vida a evolução se faz pelo desaparecimento e surgimento de novas espécies de
plantas ou animais, a história humana é o surgimento, desenvolvimento e desaparecimento de
relações sociais.
É isto que vai distinguir o mundo dos homens da natureza: a história humana é o
desenvolvimento das sociedades mais simples às formações sociais cada vez mais complexas e
desenvolvidas. Desde os bandos e tribos mais primitivas, até a moderna sociedade capitalista, o
que verdadeiramente se alterou foram as relações sociais, e não o animal biológico homo
sapiens.
Por que o ser social é tão diferente da natureza, ainda que não possa se reproduzir sem
ela?
Para responder a esta questão, vamos examinar um fato comum da vida cotidiana de
todos nós.
Imaginemos que alguém tenha necessidade de quebrar um coco. Para tanto, há várias
alternativas possíveis: pode jogar o coco ao chão, pode construir um machado, pode abrir o
coco com os dentes, pode queimar a casca do coco e assim por diante. Para escolher entre as
1 Publicado em Capacitação em Serviço Social e Política Social, Módulo 2, pp. 20-33,
CEAD-UNB, 1999.
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alternativas deve-se imaginar o resultado de cada uma - ou, em outras palavras, antecipar na
consciência o resultado provável das alternativas.
Esta antecipação na consciência do resultado provável de cada alternativa possibilita às
pessoas escolherem aquela que avaliam como a melhor. Escolha feita, o indivíduo leva-a à
prática - ou seja, objetiva a alternativa escolhida.
Vamos imaginar que a alternativa escolhida para quebrar o coco seja a de construir um
machado. Ao construir o machado, o indivíduo transformou a natureza: o machado era algo
que não existia antes.
Vejamos o que de fato ocorreu:
1) há uma necessidade: quebrar o coco;
2) há diversas alternativas possíveis para atender à esta necessidade (jogar o coco ao
chão, construir o machado, etc.);
3) o indivíduo projeta, em sua consciência, o resultado de cada uma das alternativas, as
avalia e escolhe aquela que julga mais conveniente para atender à necessidade;
4) escolhida a alternativa, o indivíduo age objetivamente, isto é, transforma a natureza e
constrói algo novo. Este movimento de transformar a natureza a partir de uma prévia ideação é
denominado por Lukács, depois de Marx, por trabalho.
O resultado do processo de trabalho é, sempre, alguma transformação da realidade. Toda
objetivação produz uma nova situação, pois tanto a realidade já não é mais a mesma (em
alguma coisa ela foi transformada), como também o indivíduo já não é mais o mesmo, pois ele
aprendeu algo ao fazer aquele machado. Quando ele for fazer o próximo machado, ele saberá
utilizar a experiência e a habilidade adquiridas na construção do machado anterior. Ele poderá
também incorporar ao novo machado a experiência de uso do machado antigo (por exemplo,
um cabo feito com uma madeira é pior do que o feito com aquela outra, esta pedra é melhor
que aquela outra, etc.).
Isto significa que ao construir o mundo objetivo o indivíduo também se constrói. Ao
transformar a natureza, os homens também se transformam -- pois adquirem sempre novos
conhecimentos e habilidades. Esta nova situação (objetiva e subjetiva, bem entendido) faz com
que surjam novas necessidades (um machado diferente, por exemplo) e novas possibilidades
para atendê-las
...