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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

Por:   •  4/5/2017  •  Trabalho acadêmico  •  668 Palavras (3 Páginas)  •  408 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

DISCIPLINA: ANTROPOLOGIA I – CIS 130 (2017-I)

Prof. Marcelo José Oliveira

Sobre o contexto e a importância da Carta de Pero Vaz de Caminha: um olhar etno-histórico.

Aproximar-se da antropologia exige mais do que apropriação do conhecimento teórico que faz desta área integrar as Ciências Sociais. É preciso compreender o campo de ideias e contexto que se define como a gênese do conhecimento antropológico, que remete, em termos de registro histórico documental, à Antiguidade e, sobretudo, a Idade Média, por que coloca em evidência o objeto da própria antropologia: a confrontação entre diferentes cosmologias, sistemas econômicos, políticos e de formas de representação sobre a reprodução humana. Situar opiniões e conjecturas desta época sobre os povos encontrados, entre as noções de “mau” e “bom” selvagem, reflete uma maneira de ver o outro do que propriamente o que o outro realmente é. A suposta ingenuidade ameríndia do “ser bom de tão inocente que é”, ou, o seu inverso, a suposta selvageria do “ser mau de tão amoral, arredio e ignorante que é” parece-nos muito mais documentos que explicam o europeu do que propriamente os povos selvagens. Trata-se de impressões, relatos e descrições de importantes personagens da história ocidental da civilização que influencia ainda hoje a imagem e juízo que se faz dos povos indígenas. Uma das maneiras de a antropologia rever esta história é reinventando esta gênese, provocando outros pontos de vista, mergulhando nela, como uma boa etnografia exige em termos da imersão possível na cultura do povo estudado, e entendendo suas peças históricas, documentadas e teorizadas, entre século XV e VI, também como dados etnográficos que se materializam como “escritos” de um povo que descreveu e conjecturou sobre outro a partir de sua experiência de contato.

A provocação de fazer destes documentos históricos o próprio objeto de estudo da antropologia seria uma das maneiras de como se fazer ciência “olhando para o próprio umbigo”. Então, vai a provocação...

Imaginemos que somos uma companhia de teatro. E, honrando a arte em dramaturgia teatral, temos que ser profundos e expressivos no que queremos representar e tocar nosso público, sensibilizá-lo como só o teatro sabe fazer, oferecer os recursos dramatúrgicos para que o próprio telespectador consiga desvelar algo que na vida cotidiana, no mundo ordinário, ele dificilmente teria condições de perceber. Temos que fazê-lo estranhar o seu próprio mundo para que ele no retorno o perceba com outros sentidos. Nossa companhia tem uma missão: transformar a Carta de Pero Vaz de Caminha em espetáculo teatral, de forma que o foco não seria a visão do europeu sobre os índios, mas o contrário, a visão dos índios sobre o europeu. Teríamos ainda o desafio de não fazer dos olhos do índio os olhos disfarçados dos europeus.  Imagino que começaríamos com os seguintes passos:

Conhecer detalhadamente o conteúdo da Carta de Caminha, compreendendo-a no contexto histórico do século XVI, identificando as informações explícitas e implícitas no documento.

Identificar os traços de cultura dos dois povos, em termos materiais e imateriais: de indumentárias, apetrechos, armas, ferramentas e performances de movimento e organização in locus (nas naus ou em terra) (recorrendo inclusive a outros materiais).

Identificar os personagens que aparecem, de ambos os povos, que representam “tipos sociais” em gênero, idade, adornos, status social, referência de relação com outros etc.

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