Valores e Misérias das Vidas Secas
Por: josueferalogica • 7/6/2016 • Trabalho acadêmico • 28.049 Palavras (113 Páginas) • 819 Visualizações
Vidas Secas
Graciliano Ramos
45 ª EDIÇÃO
ÁLVARO LINSPosfácio
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PDF: Flint Fireforge
“Para que Peter Pan Viaje por outra Terras... SEM PAGAR PEDÁGIO!!!” “Livros Livres, porque cultura não é mercadoria”
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ÍNDICECapítulo I - Mudança 3Capítulo II - Fabiano 8Capítulo III - Cadeia 14Capítulo IV - Sinha Vitória Capítulo V - O menino mais novoCapítulo VI - O menino mais velhoCapítulo VII - Inverno 34Capítulo VIII - Festa 39Capítulo IX - Baleia 47Capítulo X - Contas 51Capítulo XI - O soldado amarelo 56Capítulo XII - O mundo coberto de penasCapítulo XIII - Fuga 65 21 2630 60
POSFÁCIO DE ÁLVARO LINSValores e Misérias das Vidas Secas: Álvaro Lins 7272
Capítulo I - Mudança
verdes. Os infelizes tinham caminhado o diacansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco,haviam repousado bastanteprogredira bem três léguas.sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe,galhos pelados da catinga rala.os-bichos moribundos.mais novo escanchado no quarto e o baúmanchas brancas que eram ossadas.fazia horas que pisavam a margem do rio, a lamaprecisava chegar, não sabia onde.rachada que escaldavamiúdo não era culpado, mas dificultava a marcha, eabandonar o filho naquele descampado. Pensou nosdesgraça. A seca aparecia-lhe como um fato necessário -coração ossadas, coçou a barba ruiva e suja, irresoluto, examinouFabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuianuma correia presa ao cinturão, aombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás.Os juazeiros aproximaram-se,mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.arredores. Sinha Vitóriauma direção e afirmou com alguns sonsperto. Fabiano meteu a faca naacocorou-se, cólera desapareceu eNão obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da facaponta. deitou-se, fechou ospancadas acontecesse, espiou osbaixo.o anjinho aos Anda, excomungado.NA PLANÍCIE avermelhada os juazeiros alargavam duasArrastaram-se para lá,Tinham deixado osO pirralho não se mexeu, e Fabiano desejou matá-lo.-Pelo espírito atribulado do sertanejo A catinga estendia-se,joelhos encostados no estômago, frio como Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.O vôo negro dos urubus fazia círculos altos em redor de Mas grosso, e esperou o pegou bichos pequenoquerianoque Fabiano teve pena. Impossível abandonarcaminhos, cheios de espinho e seixos,do mato. Entregou a espingarda a Sinhaolhos. Fabiano ainda lhe deu algumasirritava-o. Certamente esse obstáculo pulso esperneou quatro cantos, zangado, praguejandode um vermelho indeciso salpicado deestirou o beiço indicando vagamenteele devagar, Sinha Vitória com o filhoresponsabilizar na areia do rio seco, a viagemrecuaram, sumiram-se. O meninoseFazia horas que procuravamdo bainha, guardou-a no cinturão,espingarda de pederneira nolevantasse. menino, acuado, gude folha na cabeça,turais que estavamque alguém depois inteiro, estavamum defunto. Aí aComo se através dospela penduradaencolhia, sossegou,isto mas comomanchasTinha oseca ee asua uma não de
obstinação da criança o vaqueiro
os pés. passou a idéiaurubus, nasosde
Vitória, pôs o filho no cangote, levantou-se,bracinhos que lhe caíam sobre o peito,cambitos. Sinha Vitória aprovou esse arranjo, lançoua interjeição gutural, designou os juazeiros invisíveis.silencio grande.frente E a viagem prosseguiu, mais lenta, maisAusente do grupo.do companheiro, Arqueada, as acostelas E de quando emcachorra moles,à Baleia mostra, arrastada, numagarrou osfiquando senos comotomou de novo corriaa
ofegando, a língua fora da boca.detinha, esperando as pessoas, que se retardavam.Ainda na Coitado, vésperamorreraeram seis na areia viventes, do rio, contando onde com
descansado, a beira de uma poça: a fome apertararetirantes e porjantara os
brilhantes aos objetosbaú de folha a gaiola pequena ondeFabiano ao resto da farinha acabara, não se ouvia umperdida na catinga.chão, as mãos cruzadas segurando os joelhosem acontecimentos antigos que não se relacionavam:lembrança disto. Agora, enquanto parava, dirigiapapagaio. recordação chegava. Tinha antambém pés, a cabeça, os ossos do amigo, evaquejadas, àsali não existia sinal de comida. BaleiaSinha Vitória, queimando o assento novezes familiares, estranhava não ver sobre onovenas, sentia dado a procurar raízes,a ave se equilibrava mal.falta tudo dela, ossudos, pensavanuma berro de rêsnão guardavaas pupilasdemais osmas festas deconfusão.à toa:haviamlogoe oo
casamento, Despertara-a um grito áspero, vira de perto a realidade
numaalimento e justificara-semudo e inútil. Não podia deixar de ser mudo..a família falava pouco. E depois daqueletodos calados,aboiava, tangendo um gado inexistente, e latiapapagaio, cachorra.trouxas, cobriu-os comsombra. Sinha Vitórialadeira, chegaram aossaiu-lhe rouca, medonha. Calou-se para não estragar força.embira esperança de achar comida, sentiu desejo de cantar. ANum cotovelo do caminho avistou um canto de cerca,sangravam.dolorosas. Os calcanhares, duros como cascos,ferimentos. As alpercatas dele estavam gastasaligeirou Deixaram a margem do rio, acompanharamatitude ridícula. ResolveraAs manchas dos juazeiros tornaram atinha-lhe o que passo, raramente soltavam palavras curtas. O louroandavaaberto esqueceu acomodou os filhos, que arriaram comomolambos. O menino mais velho, passada juazeiros. Fazia tempo que não viamfurioso, entredeclarando a si mesma que ele eraa de supetão aproveitá-lo comoos com fome, dedos os a cerca, subiram umaa aparecer, Fabianopés rachaduras desastre viviamcanseira nos saltos, e aOrdinariamentegretavam-se earremedando aapalhetados,encheu-o aemuitovoz os a vertigem quecabeça encostada a uma raiz, adormecia, acordava.abria algumas enroscar-se junto dele.deserto, o chiqueiro das cabras arruinado Estavam os pedras, no olhos, pátio o derrubara, encolhido sobre folhas secas, aum distinguia carro de uma de fazenda vagamente bois. A sem cachorra e também deserto, aum vidamonteBaleia CertamenteO E quandopróximo,curralfoi
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