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BARRIGADA NO WEBJORNALISMO PIAUIENSE: ANÁLISE DA RECEPÇÃO NO FACEBOOK DA FALSA INDICADA AO NOBEL DA PAZ

Por:   •  6/5/2018  •  Artigo  •  4.607 Palavras (19 Páginas)  •  192 Visualizações

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BARRIGADA NO WEBJORNALISMO PIAUIENSE: ANÁLISE DA RECEPÇÃO NO FACEBOOK DA FALSA INDICADA AO NOBEL DA PAZ

Nataniel Rodrigues de LIMA[1]

RESUMO

        

Este artigo analisa a recepção de uma notícia falsa, conhecida no jargão jornalístico como barrigada (quando o jornalista erra ao noticiar um fato, mas não intencionalmente) acerca da indicação da piauiense Lair Guerra de Macedo ao prêmio Nobel da Paz em 2017. Foram analisadas as postagens feitas pelos veículos de comunicação online de Teresina, a saber: Portal GP1, Portal AZ, Portal O Dia, Portal Teresina Diário e Portal OitoMeia em suas fanpages no Facebook. A metodologia utilizada na pesquisa foi a análise de conteúdo baseada em Bardin (2011) que a conceitua como um conjunto de técnicas de análise das comunicações a fim de se obter, através de procedimentos objetivos e ordenados sobre o conteúdo das mensagens, indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção das notícias. Conclui-se que os internautas consumidores de notícia nos portais locais do Piauí têm pouco interesse em questionar a veracidade das informações ao compartilhar conteúdos.  Havendo mais critério por parte dos jornalistas e mais criticidade por parte do público leitor, é possível aumentar consideravelmente o nível de produção jornalística da mídia piauiense, alcançando assim o objetivo primordial do jornalismo: a prestação de serviços, a função social e o fornecimento de informações que ajudem a sociedade a problematizar questões relevantes, cujo impacto é decisivo na qualidade de vida individual e coletiva.

Palavras-chave: Barrigada. Jornalismo. Fake News. Nobel da Paz. Lair Guerra.

1 INTRODUÇÃO

        

Lair Guerra de Macedo é uma mulher piauiense de 74 anos que ficou conhecida nacionalmente por seu trabalho no combate à Aids e outras doenças sexualmente transmissível durante as décadas de 80 e 90. Natural de Curimatá, município a 779 quilômetros ao Sul de Teresina, Lair Guerra é formada em Biomedicina pela Universidade Federal de Pernambuco e pós-graduada no Centro de Controle de Doenças (CCDs) e em Harvard, nos Estados Unidos, segundo artigo de Costa (2004)².

Em 1986 foi convidada pelo Ministério da Saúde para dirigir um programa destinado ao combate à Aids/DST. Geriu por 10 anos o projeto e foi obrigada a encerrar sua contribuição à causa após se envolver em um acidente automobilístico em 1996, quando voltava de um congresso. As sequelas a impediram de continuar. Mas, sua ajuda durante a década que passou a frente a tornou conhecida não só nacionalmente, como mundialmente.

Por conta dos seus feitos, o professor Carlos Henrique Nery Costa, infectologista, e professor da Universidade Federal do Piauí, doutor em Ciências pela Harvard School, em parceria com o Governo do Estado do Piauí tentou indicar a piauiense ao prêmio Nobel da Paz em 2004. No entanto, sem sucesso, segundo ele informou em artigo publicado na época.

No dia 3 de setembro de 2017, Lair Guerra voltou a ser notícia, não nacional, mas regionalmente. Portais de Teresina, como Portal GP1, Portal AZ, Portal O Dia, Portal Teresina Diário e o Portal OitoMeia utilizaram-se de um artigo publicado pelo professor Carlos Henrique Nery para espalhar a informação de que a piauiense havia sido indicada ao prêmio Nobel da Paz deste ano. A chamada “barrigada”, aquela notícia de cunho falso, resultado da falta de apuração, checagem, e que não tem a intenção de enganar o leitor (PAIXÃO, 2017), no jargão jornalístico, fez com que piauienses replicassem nas redes sociais a notícia falsa e parabenizassem a biomédica Lair Guerra por um fato passado.

Este artigo centra-se na recepção por parte do público consumidor de informações na internet do Piauí e, para isso, analisa os comentários e postagens das páginas no Facebook de cinco veículos de comunicação, o Portal GP1, Portal AZ, Portal O Dia, Portal Teresina Diário e o Portal OitoMeia, que compartilharam a notícia sobre a indicação da piauiense utilizando de trechos e fragmentos do artigo publicado por Carlos Henrique Nery, datado de 2004, como se fossem atuais. Entre os cinco, apenas um, o Portal OitoMeia, veiculou a informação correta sobre a falsa indicação da piauiense ao Nobel da Paz. 

No dia a dia de uma redação, os jornalistas recebem a notícia bruta e precisam lapidá-la para entregar a seus leitores, ouvintes, telespectadores. Esse processo de produção de uma notícia pode resultar em como ela chegará ao destino final, o receptor:

Um dos temas mais instigantes em comunicação é o que se refere à busca de novos olhares interpretativos sobre as práticas de recepção aos meios de comunicação social. Essas práticas passaram a ter peso significativo no contexto de surgimento das tecnologias de informação e de comunicação ao longo do último século, peso justificado ainda pelo surgimento de um novo cenário de relações sociais mediado cada vez mais por estas tecnologias. (SOUSA, 2001, p. 47)

A hipótese deste artigo é que a falta de checagem faz com que a informação se espalhasse sem os devidos cuidados por parte tanto dos veículos de comunicação como do próprio público, que absorve os conteúdos sem criticidade. Questiona-se, portanto, qual a reação dos internautas, que seguem páginas de veículos de notícias no Piauí, ao se depararem com uma notícia falsa? O público receptor é capaz de distinguir ou questionar a veracidade do fato ou apenas aceita o que é noticiado sem maiores empecilhos ou dúvidas, dando pleno poder à entidade jornalística?

Os veículos aqui analisados foram escolhidos porque foram os únicos, dentre os portais da capital Teresina, a divulgar alguma informação acerca da indicação da piauiense ao Nobel e publicar em suas redes sociais. O Portal GP1 possui 75 mil curtidas e é um veículo apenas online; já o Portal AZ conta com 90 mil curtidas na sua fanpage oficial; enquanto o Portal O Dia tem 143 mil seguidores e possui um jornal de apoio e uma TV online. Já o  Portal Teresina Diário conta com 35 mil curtidas.

Dentre os veículos de comunicação que repercutiram a notícia, apenas o Portal OitoMeia, com 5 mil curtidores, informou ao leitores que a notícia era falsa. O portal é um veículo de comunicação online e possui menos de um ano de existência. Através da checagem, o veículo de comunicação confirmou que a notícia tratava-se de uma barrigada.

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