PROJETO CINECOM CINEMA PARA TODOS E A EXPERIÊNCIA CINEMATOGRÁFICA
Por: ufmg2016 • 2/2/2017 • Artigo • 5.925 Palavras (24 Páginas) • 340 Visualizações
Projeto CineCom: Cinema para todos e a experiência cinematográfica como ponte entre a cidade e a Universidade
Laene Mucci Daniel[1]
Hideide Brito Torres[2]
Resumo: Este artigo pretende analisar a relação entre a Universidade Federal de Viçosa e a comunidade viçosense, com base na experiência de um projeto de extensão, intitulado CineCom Cinema e Cultura para Todos. Contempla-se não apenas a estrutura e o desenvolvimento do projeto, mas também são expostas as inquietações e pesquisas vivenciadas pelos seus integrantes. Ao apresentar a experiência extensionista, este artigo pretende ainda discuti-la sob a perspectiva teórica de Michel Mafessoli, especificamente, pelos conceitos de laço social, sociabilidade e prazer estético. Desta forma, num segundo momento, se propõe a refletir sobre o ideal extensionista[a].
Palavras-chaves: cinema, interação, exclusão; extensão
Áreas temáticas: Comunicação e Cultura
Cinecom: cinema for everyone and the movie experience as a bridge between city and university
Abstract[b]: This article aims to analyze the relationship between the Federal University of Viçosa and the community, based on the experience of an extension project, titled Cinecom Cinema and Culture for All. Includes not only the structure and development of the project, but the concerns and research experienced by its members are also exposed. This article presents the experience extension and intends to discuss it from the theoretical perspective of Michel Mafessoli specifically the concepts of social ties, sociability and aesthetic pleasure. Thus, second, intends to reflect on the ideal of extension.
Key words: cinema, interaction, extension.
Thematic area: Communication and Culture
Cinecom: cinema para todos y la experiencia fílmica como una puente entre la ciudad y la Universidad
Resumen[c]: Este artículo tiene como objetivo analizar la relación entre la Universidad Federal de Viçosa y la comunidad, con base en la experiencia de un proyecto de extensión, titulado Cinecom Cine y Cultura para Todos. No sólo la estructura y el desarrollo del proyecto, pero las preocupaciones y las investigaciones que experimentan sus miembros también están expuestos. En este artículo se presenta la experiencia de la extensión y tiene la intención de hablar de ello desde la perspectiva teórica de Michel Mafessoli específicamente los conceptos de las relaciones sociales, la sociabilidad y el placer estético. Por lo tanto, en segundo lugar, se propone reflexionar sobre el ideal de la extensión.
Palabras clave: cinema, interacción, extensión
Área temática: Comunicación y Cultura
Introdução
Localizada no Estado de Minas Gerais, na Zona da Mata, entre as serras da Mantiqueira, do Caparaó e da Piedade, a cidade de Viçosa, MG, possui 72.220 habitantes, segundo o censo 2010 (site IBGE). Cerca de 20 mil pessoas constituem uma população flutuante, formada pelos estudantes da Universidade Federal existente na cidade. Sua economia baseia-se no setor de serviços, sendo reduzida a presença da indústria e da agropecuária. A maioria da população é urbana neste município cujas origens remontam a 1800. Apesar de suas características, as oportunidades para acesso a expressões culturais e de lazer com maior qualidade são escassas, particularmente para aqueles que se interessam mais diretamente por cultura e arte. Por exemplo, em se tratando de cinema, há na cidade somente duas salas de exibição: uma no centro da cidade e outra no Cine Carcará[3] que, após o incêndio nos porões do Centro de Vivência[4], encontra-se ainda desativada. As sessões no cinema do centro, além de serem pagas, priorizam os filmes do circuito comercial, os sucessos de bilheteria. As sessões do Carcará, em seus períodos de atividade, são mais variadas, porém partem do ponto de vista temático e teórico, e, propondo Mostras por diretores, por exemplo, atendem quase que exclusivamente à comunidade da UFV (Universidade Federal de Viçosa), amantes e estudiosos da Sétima Arte. Existe ainda a Casa da Mãe Jeane, que realiza várias atividades artísticas, entre elas, sessões pagas de cinema. Localizada em um bairro afastado do centro, não abrange um público de maior proporção.
Nesse contexto, o projeto CINECOM – Cinema para Todos foi idealizado para incluir os moradores de Viçosa, de modo mais amplo, no mundo do cinema. A inclusão audiovisual é um processo que envolve “ações e políticas voltadas para a inserção de classes sociais menos favorecidas em projetos que envolvem o ensino e a difusão audiovisual” (VILAÇA, 2006, p.16).
Este artigo busca apresentar o projeto de extensão, em sua estrutura e desenvolvimento, expor as inquietações e pesquisas vivenciadas pelos seus integrantes e refletir sobre o ideal extensionista conforme expresso no Plano Nacional de Extensão Universitária (PNE) e incentivado pela Política de Extensão da Universidade Federal de Viçosa, de modo a contribuir na articulação do diálogo entre a Universidade e a comunidade viçosense (que é composta por moradores e acadêmicos). A partir desta apresentação, este artigo pretende ainda discutir o projeto extensionista sob a perspectiva teórica de Michel Mafessoli, especificamente, pelos conceitos de laço social, sociabilidade e prazer estético.
A experiência do Cinema
Conforme alguns pesquisadores afirmam, o cinema foi criado com um objetivo muito mais acadêmico do que comercial. “Os Lumière acreditavam que seu trabalho com imagens animadas seria direcionado para a pesquisa científica e não para a criação de uma indústria do entretenimento” (TURNER, 1993, p.10).
Porém, em seu desenvolvimento, a arte cinematográfica revelou sua capacidade de educar, informar e entreter também (cf. LOPES, 2009, p. 3). Isso acontece de várias formas, tanto por meio dos recursos tecnológicos cada vez mais avançados e que também deslumbram as pessoas, quanto pelas histórias que se reinventam, pelos novos espaços visitados e gerados, bem como pelos discursos e representações que atravessam as narrativas cinematográficas. Walter Benjamin, apesar de seu tom crítico à perda da aura da arte no contexto da reprodutibilidade, afirma que, na modernidade, o cinema possui uma capacidade de exercício para a sobrevivência do homem em meio aos cotidianos da vida moderna:“O filme serve para exercitar o homem nas novas percepções e reações exigidas por um aparelho técnico cujo papel cresce cada vez mais em sua vida cotidiana. Fazer do gigantesco aparelho técnico do nosso tempo o objeto das inervações humanas – é essa a tarefa histórica cuja realização dá ao cinema o seu verdadeiro sentido” (BENJAMIN, 1987, p.174).
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