Para ver a vida veja o mundo: A fotografia como potência em A vida secreta de Walter Mitty
Por: Leki • 29/11/2018 • Artigo • 3.172 Palavras (13 Páginas) • 234 Visualizações
“PARA VER A VIDA, VEJA O MUNDO” – A FOTOGRAFIA COMO POTÊNCIA EM A VIDA SECRETA DE WALTER MITTY
Alexsander Matheus Nol
Introdução
Desde a sua criação até os dias de hoje, a fotografia exerce extremo fascínio sobre as pessoas (SONTAG, 1977; BARTHES, 1980; DUBOIS, 1994). Entre a arte e a tecnologia, os avanços tecnológicos disseminaram o fazer fotográfico, que na contemporaneidade é responsável por imageticamente mover o mundo e promover uma globalização visual. Pensando sobre essas questões, propomos aqui uma análise comparada de fotos publicadas por uma das mais famosas revistas já existentes, Life, em uma perspectiva da própria evolução do ato fotográfico, a imagens e cenas apresentadas no filme A vida secreta de Walter Mitty (The secret life of Walter Mitty – 2014), de Ben Sitller. O filme apresenta o momento de transição da revista Life de sua versão de publicação física para a versão digital, e as repercussões dessa mudança na vida de um dos fotógrafos da revista, Walter Mitty (interpretado por Ben Stiller, que é também diretor da produção). Durante todo o filme são apresentadas imagens fotográficas – em sua maioria imagens que foram realmente veiculadas na revista Life, as quais movem o protagonista a realizar algumas ações e, também, o fazem se perder no imaginário que a fotografia incita. O que nos leva a analisar e discutir as fotos que são escolhidas para o filme: Qual o poder dessas fotografias? Qual era o poder da revista Life? Como suas fotos marcaram a história mundial e de que maneira elas são ressignificadas pelo filme. O filme nos possibilita assim uma reflexão muito importante e abrangente sobre a contemporaneidade no que tangem nossa relação com as imagens fotográficas, que nunca estiveram tão presentes como agora em nossas vidas. No filme, a grandiosidade das fotografias é usada como um contraponto que ajuda a destacar o quanto as coisas pequenas da vida se perdem. E no filme, não por um acaso, estas situações são salvas pela fotografia. Nesse sentido, queremos promover uma reflexão sobre a mensagem que o filme nos traz em relação à evolução e ao poder da imagem fotográfica, inserida num contexto histórico-social, que traz como referência a revista Life e sua marcante da história.
A fotografia
Por definição, fotografia é, essencialmente, a técnica de criação de imagens por meio de exposição luminosa, fixando esta em uma superfície sensível. A primeira fotografia reconhecida remonta ao ano de 1826 e é atribuída ao francês Joseph Nicéphore Niépce. Contudo, a invenção da fotografia não é obra de um só autor, mas um processo de acúmulo de avanços por parte de muitas pessoas, trabalhando juntas ou em paralelo ao longo de muitos anos. A primeira fotografia reconhecida é uma imagem produzida em 1826 pelo francês numa placa de estanho coberta com um derivado de petróleo fotossensível chamado Betume da Judéia. A imagem foi produzida com uma câmera, sendo exigidas cerca de oito horas de exposição à luz solar. Nièpce chamou o processo de "heliografia", gravura com a luz do Sol. A fotografia colorida foi explorada durante o século XIX e os experimentos iniciais em cores não puderam fixar a fotografia, nem prevenir a cor de enfraquecimento. Durante a metade daquele século as emulsões disponíveis ainda não eram totalmente capazes de serem sensibilizadas pela cor verde ou pela vermelha - a total sensibilidade da cor vermelha só foi obtida com êxito total no começo do século XX. A primeira fotografia colorida permanente foi tirada em 1861 pelo físico James Clerk Maxwell. O primeiro filme colorido, o Autocromo, somente chegou ao mercado no ano de 1907 e era baseado em pontos tingidos de extrato de batata.
Após a invenção da fotografia colorida, há apenas mais um momento na história da fotografia que marcou época: o desenvolvimento da fotografia digital. Desenvolvida em 1975 pelo engenheiro elétrico da Kodak, Steve Sasson, a primeira câmera digital utilizava dispositivos analógicos, captava imagens em preto e branco e levava quase 30 segundos para completar o procedimento. Foram quase dez anos para a fotografia digital ganhar espaço no mercado e isso se deu graças à facilidade de armazenamento e ao baixo custo (ou custo zero) para visualizar as fotografias. Teoricamente, a fotografia digital funciona a partir da sensibilização de um sensor eletrônico que transforma a luz captada em um código eletrônico digital. Mas vale ressaltar que as fotos tiradas em câmeras digitais ainda são de menor qualidade do que as tiradas de câmeras analógicas, texturalmente falando, mas como as digitais atingem quase o mesmo ponto, porém são de mais fácil acesso manuseio são poucos que ainda usem câmeras analógicas.
A fotografia dá início a uma serie de novas invenções relacionadas com a captura e transmissão de imagem, como por exemplo a câmera filmadora, que dá inicio à televisão e o cinema.
A importância da fotografia na história é eminente. Antigamente existiam alguns meios de registrar os fatos, e todos eles levavam influência da interpretação de quem o fazia, como por exemplo, fotografias pintadas (feitas à mão), registros escritos (relatórios, noticias), exceto a fotografia, tirada pela máquina fotográfica, que registrava, e registra, o momento tal como é, sem interpretações, cria a imagem com a máxima semelhança possível (conforme a tecnologia aumenta, as fotos melhor retratam os olhares do fotografo).
Fotos fornecem um testemunho. Algo de que ouvimos falar, mas de que duvidamos parece comprovado quando nos mostram uma foto. Numa das versões da sua utilidade, o registro da câmera incrimina. Depois de inaugurado seu uso pela polícia parisiense, no cerco aos communards, em junho de 1871, as fotos tornaram-se uma útil ferramenta dos Estados modernos na vigilância e no controle de suas populações cada vez mais móveis. Numa outra versão de sua utilidade, o registro da câmera justifica. Uma foto equivale a uma prova incontestável de que determinada coisa aconteceu. A foto pode distorcer; mas sempre existe o pressuposto de que algo existe, ou existiu, e era semelhante ao que está na imagem. Quaisquer que sejam as limitações (por amadorismo) ou as pretensões (por talento artístico) do fotógrafo individual, uma foto — qualquer foto — parece ter uma relação mais inocente, e, portanto, mais acurada, com a realidade visível do que outros objetos miméticos. Os virtuoses da imagem nobre, como Alfred Stieglitz e Paul Strand, que compuseram fotos de grande força, e inesquecíveis durante décadas, ainda tencionavam, antes de tudo, mostrar algo “que existe”, assim como o dono de uma Polaroid, para quem as fotos são uma forma prática e rápida de tomar notas, ou o fotógrafo compulsivo com sua Brownie que tira instantâneos como suvenires da vida cotidiana.” (SONTAG,
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