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Resenha do livro "A Vida que ninguém vê"

Por:   •  28/4/2016  •  Resenha  •  1.357 Palavras (6 Páginas)  •  1.036 Visualizações

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BRUM, Eliane – A Vida Que Ninguém Vê, resenha por Ana Paula Pimenta

“O que é pauta? Tudo.” Essa é uma das perguntas e respostas mais debatidas no campo jornalístico. A conversa de duas senhoras no ônibus, ou a falta de idosos nos ônibus; a quantidade de carros que se amontoam nas avenidas e as imprudências causadas por pedestres. Tudo o que pode ser questionado é pauta. Porém, mesmo nesse universo de possibilidades e inclusão, ainda existe o invisível. A tragicidade do comum que condena milhares ao esquecimento diário. Aqueles que ninguém vê ou se dá conta, mas que possuem uma história. E como toda, merece ser contada.

A Vida que ninguém vê traz à tona todos os personagens invisíveis que compõem nossa rotina. Alguns deles não tão invisíveis, mas que insistimos em, literalmente, não enxergar. Eliane Brum, jornalista, escritora e documentarista que coleciona prêmios literários, jornalísticos e histórias (principalmente histórias) permitiu-se notar e relatar a existência dos ignorados. O drama de um senhor que é obrigado a enxergar a mulher e filho morrer, enquanto ele não pode fazer nada para mudar seu destino; o homem tido como louco, por que resgata histórias alheias e as amontoa em sua casa, decorando sua própria vida com experiências que não o pertencem; a criança que, vendo-se em um mundo onde ela é só mais uma atrás do vidro do carro, inventa um bordão e faz-se memorável, mesmo quando ninguém a conhece de fato.

Compondo-se de 23 pequenos contos antes publicados no jornal Zero Hora, por 11 anos local de trabalho de Brum, A Vida que Ninguém vê foi uma proposta jornalística feita à autora de noticiar o comum. Fazer o mesmo caminho de volta, mas, dessa vez, prestando atenção no que sempre esteve ali.

Eliane Brum, no fim de seu curso de jornalismo, não acreditava que se encaixaria no perfil dos profissionais. Porém, após conhecer o professor Marques Leonam, que segundo ela, mostrou-lhe como a reportagem poderia ser, Brum encontrou-se na escrita jornalística, criando uma identidade que, mais tarde, lhe renderia prêmios e condecorações.

Nascida no interior do Rio Grande do Sul, a autora deixou a filha que teve aos 15 anos, com os pais, enquanto iniciava seus estudos em Porto Alegre. Ao formar-se, trabalhou por 11 anos no jornal Zero Hora, e durante 10 atuou como colunista na revista Época. Publicou seis livros, sendo um de ficção e o os outros de jornalismo literário. Desde pequena apaixonada por histórias comuns, Eliane Brum destacou-se no estilo jornalístico que produzia. Sua primeira grande matéria foi para o Zero Hora. Brum foi escalada para cobrir a abertura do primeiro McDonalds de Porto Alegre, mas ao invés de relatar o fato em si, a jornalista ficou do lado de fora conversando com as pessoas que estavam na fila. Um ato ousado, mas que a diferenciou em meio a tantas outras matérias. Eliane Brum seguiu então sua carreira, buscando sempre contar o comum, que para o jornalismo clássico, não resulta em matéria.

A vida que ninguém vê situa-se na tênue linha entre literatura e jornalismo, integrando então o chamado “New Journalism”, estilo que surgiu nos E.U.A, em meados dos anos 60, que propunha contar a realidade da época através da escrita literária. O jornalismo clássico, apresentando o famoso lead e seu desenvolvimento, não seria capaz de relatar a existência quase perdida dos “personagens” de Eliane Brum. Da mesma maneira que a literatura não causaria a mesma sensação de espanto que o discorrer de uma vida real nos traz. A partir do momento em que a veracidade dos fatos é confirmada, a história muda. Ali, não é apenas ficção, e sim a vida de alguém sendo posta em linhas, e desse modo, eternizada.

Dentre as 23 crônicas dispostas na obra, há aquelas com o poder de chocar. Espantam pela sua naturalidade, pela certeza de que aquilo pode estar se repetindo agora mesmo, em algum canto escuro desse país. Histórias como a relatada em “Sinal Fechado para Camila”. A crônica expõe o dia-a-dia de Camila, 10 anos, que foi mandada às ruas para obter dinheiro nos sinais de trânsito. A garota constituía-se apenas como mais uma em meio a tantas outras que baixam aos vidros erguidos, procurando através da inocência quase perdida um triunfo diário. Para destacar-se, ela cria um bordão simplório, que fica conhecido por toda a Porto Alegre. Porém, antes da personalidade por detrás da cantiga aparecer, Camila morre afogada. Em todos os sentidos que a palavra permite, ela sucumbe à realidade esmagadora, que tomou a forma do Lago Guaíba. Eliane nessa história, faz mais do que apenas relatar. Ela nos propõe à reflexão. É muito pouco provável que alguém nunca tenha tido contato com “alguma Camila”. É um tanto quanto raro encontrar aqueles que abrem o vidro, e oferecem,

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