Um Sangue Frio por Parte de Todos

Um “Sangue Frio” por parte de todos. Até que ponto um fato real consegue ser relatado sem nenhuma influência?

Intenso e envolvente, A Sangue Frio foi o primeiro livro-reportagem do jornalista americano Truman Capote. Narrado em terceira pessoa, relata a história dos protagonistas de um brutal assassinato ocorrido em 15 de novembro de 1959 em Holcomb, pacata cidade com apenas 200 moradores, no estado de Kansas, Estados Unidos.

Capote dedica uma enorme parte de seu livro descrevendo as vítimas, os quatro membros da família Clutter. Herbert, Bonnie e seus filhos Nancy e Kenyon são apresentados minuciosamente ao leitor, com destaque ao cotidiano, gostos e características únicas de cada um dos personagens. Outro foco da narrativa, é a descrição sobre a vida difícil que supostamente contribuiu para que Perry Smith e Richard Hickock, os assassinos, escolhessem tal forma de vida.

Os quatro membros da família Clutter, conservadora e muito admirada por outras famílias de Holcomb, foram cruelmente assassinados em sua própria casa. Desvendar esse mistério e entender o que motivou Perry e Dick a cometer tal crime, instigou o jornalista a buscar pela verdade.

O relato começa desde a rotina dos Clutter até o desfecho brutal dessa história. Nas primeiras linhas do livro, Capote situa o leitor, narrando coisas comuns da cidade onde será narrada sua história. No interior do Kansas, as pessoas, naquela época, viviam em uma bolha extremamente conservadora, na qual a tradição e a valorização da família contribuíam para uma vida correta. Apesar de serem breves, as primeiras citações do autor sobre os envolvidos, auxiliam o leitor a penetrar na vida dos protagonistas.

A investigação sobre o assassinato da família é narrada sob diversos ângulos, desde por órgãos oficiais até por vizinhos, conhecidos e amigos das vítimas. Cada um deles fornece uma contribuição diferente para o desenrolar da história e para a descrições livres que definem os personagens.

Narrado através de poucos capítulos, Capote mescla cenas vividas antes do crime, tanto pela família, como pelos criminosos. O autor consegue mostrar o lado humano de cada um deles e em consequência o leitor se depara com a visão um assassino por outra perspectiva, como quando cita a história de Perry, que sofreu bastante em sua infância, com uma mãe alcóolatra que partiu levando consigo os filhos e abandonou o pai.

Com um enredo detalhista, rico em forma e conteúdo, A sangue Frio é excelente na apuração jornalística. O leitor se depara com uma história contada de forma diferente, uma história real, mas que não deixa de ser literária. Diversos fatores contribuem para o sucesso da obra: o modo com Capote relata a história, a brutalidade do crime, o sangue frio, tanto dos assassinos quanto do próprio autor ao escrever o livro.

Porém, a história acarreta dúvidas sobre até que ponto é real ou quando a mesma já se mistura com ficção. Um fator que contribui ativamente para essa dúvida é o fato do convívio íntimo que Capote possuiu com os assassinos, em especial com Perry Smith. Logo, o leitor se depara com suspeita de que os fatos nem sempre podem estar sendo narrados com a imparcialidade necessária.

Uns dizem que Capote não foi completamente fiel aos fatos, mas é inegável dizer que a maneira como o autor relatou minuciosamente