A Introdução aos Meios
Por: Lucas Adeniran • 20/10/2022 • Artigo • 1.527 Palavras (7 Páginas) • 121 Visualizações
Aula 6 introdução aos meios
Baseada no livro Uma história social da mídia
Comunicação oral
Muitas vezes diz-se que a invenção do jornal impresso não alterou fundamentalmente a natureza oral da cultura europeia. A afirmação é exagerada, mas por trás do exagero se esconde um ponto notável. Apesar da vasta literatura sobre a importância da comunicação oral — em especial o que é muitas vezes chamado de literatura oral —, a posição desse meio de comunicação e sua relação com as mudanças na cultura visual tem recebido na história do início da Europa moderna menos atenção do que merece.
Na idade média, o altar, mais do que o púlpito, ocupava o centro das igrejas cristãs. No entanto o sermão dos padres já era obrigação aceita, e os frades pregavam nas ruas e praças das cidades, assim como nas igrejas. Havia distinções entre os sermões dominicais os sermões para os vários dias de festa, sendo que o estilo de pregação — simples ou rebuscado, sério ou divertido, contido histriônico— era conscientemente adaptado às plateias urbana ou rural, clerical ou leiga. Em suma, as possibilidades do meio oral eram conscientemente exploradas pelos mestres do que era conhecido no século XVI como a retórica eclesiástica.
Após a Reforma, que veremos nas próximas aulas, o sermão dos domingos se tornou parte cada vez mais importante na instrução religiosa, tanto para protestantes quanto para católicos. Embora Martinho Lutero saudasse a nova técnica de impressão como a maior graça de Deus, ele ainda considerava igreja uma casa da boca e não da pena. A função pública do sermão também era reconhecida pelos católicos romanos, especialmente depois do concílio de Trento, e houve grandes pregadores católicos.
Os governos tinham plena consciência do valor do púlpito para difundir informação, especialmente nas áreas rurais, e estimular a obediência. A rainha Elizabeth primeira falou da necessidade de sintonizar os púlpitos, e Carlos I concordou declarando que em tempos de paz as pessoas são mais governadas pelo púlpito do que pela espada, uma clássica e primeira declaração da ideia de hegemonia cultural.
- Contextualização e comparação com a atualidade -história papa João Paulo 2 (visto na aula 5).
- Outro tipo de comunicação oral era a acadêmica. O ensino nas universidades era baseado em palestras, debates ou disputas testando a habilidade lógica dos estudantes, e discursos formais ou declarações. A arte da fala, a retórica, era tão importante quanto a da escrita. O exame escrito era praticamente desconhecido dos círculos acadêmicos da época. Hoje ignorado, o latim era importantíssimo no currículo dos estudantes, os professores compunham diálogos e peças para que os estudantes praticassem a fala.
- O canto também era uma importante comunicação oral, especialmente a balada que contava uma história. No filme A revolução em Paris veremos como o canto é difundido como forma de expressão das pessoas na modernidade e posteriormente. É só pensarmos nos cânticos em estádios de futebol, por exemplo. Isso sem falar no bel-canto como forma de expressão artística (que não nos aprofundaremos aqui).
Os boatos foram descritos como no serviço postal oral, funcionando com velocidade admirável. As mensagens transmitidas nem sempre eram espontâneos. Algumas vezes se disseminavam por motivos políticos e em tempos de conflito um lado acusava o outro de espalhar boatos.
O desenvolvimento do comércio trouxe notáveis consequências para a comunicação oral sobretudo o aumento das trocas de valores e mercadorias. No contexto de uma linha do tempo de mão dupla, podemos pensar em três situações recentes em que boatos foram usados com fins políticos. Na votação do Brexit, que decidiu pela saída da Grã-Bretanha, todo tipo de fake news foi espalhada sobre os perigos da “invasão” ao Reino Unido por parte de pessoas de outros países mais pobres da Europa. Donald Trump se valeu do mesmo expediente de propagar mentiras para vencer a eleição americana em 2016. Em 2020, tentou empregar a mesma estratégia, mas foi rechaçado pela opinião pública e pelas instituições americanas e teve que aceitar a derrota. Jair Bolsonaro também seguiu a cartilha de difusão de mentiras na rede em 2018. No Brasil, os boatos e notícias falsas viraram literalmente caso de polícia.
O Mercador judeu sefaradim José Penso Delavega em um diálogo em espanhol intitulado confusão das confusões (1688) deu uma vívida descrição de uma “sessão” na bolsa de valores de Amsterdã mostrando que a prática de especulação com ações de companhias e mesma classificação dos compradores e vendedores já eram comuns na sua época e também o hábito de lançar boatos de modo a forçar os preços para cima e para baixo. O comportamento volátil das ações e sua dependência das mudanças de humor do maníaco para o depressivo, mas obviamente perceptível nesse período devem ser em parte explicados pelo meio oral o fenômeno ainda é observado atualmente nas bolsas de valores.
Clubes e cafés inspiraram a criação de comunidades originais de comunicação oral da mesma maneira alguns jornais do século XVIII também ajudaram a criar comunidades locais da mesma forma. O jornal do século XIX contribuiu para formação de uma consciência nacional por tratar seus leitores na condição de comunidade, um público nacional
- Comunicação escrita
A escrita se tornou muito importante no contexto comercial da Europa moderna. E diferentemente de hoje em dia, a escrita e a leitura eram ensinadas separadamente.
Em Florença, por exemplo, escolas especializadas ensinavam escrita e aritmética com base em exemplos comerciais para meninos queriam se tornar comerciantes ou contadores. Florença era conhecida como a cidade dos notários, na qual documentos escritos tinham função indispensável, sobretudo para registrar transferências de propriedade por ocasião de mortes e matrimônios. Formaram assim o que mais tarde se chamou de cartórios. A escrita incrementava a burocracia e o aumento do patrimônio da burguesia requeria mais controle das instituições estatais. Por outro lado, a literatura laica era relativamente numerosa na cidade. A prática de escrever diários ou crônicas encontrava-se bastante difundida. Exemplos desse tipo de documento pessoal podia ser encontrada em outras cidades europeias Barcelona, Londres e Paris. Usualmente essas “autobiografias” focalizavam mais as famílias ou as cidades e menos os indivíduos.
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