Análise Semiótica do filme Cisne Negro

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE COMUNICAÇÃO E ARTES

Disciplina: Semiótica - Prof.: Júlio Pinto

Caroline Mércia

Sílvia Pires

CISNE NEGRO

Ficha técnica:

Título: Cisne Negro (Black Swan)

Diretor: Darren Aronofsky

Ano: 2010

Sinopse

O longa-metragem apresenta a trajetória da bailarina Nina, interpretada pela atriz Natalie Portman, em seu processo para encenar o papel principal da peça O Lago dos Cisnes. O enredo conta a história desde os bastidores da seleção do elenco até a noite de estreia da peça.

O espetáculo encena o mito de uma princesa que é transformada em Cisne Branco, e para retornar à vida humana precisa do amor sincero de um príncipe. Porém, esse príncipe é enfeitiçado pelo Cisne Negro, que apresenta o poder da sedução. No final, o Cisne Branco se suicida, o que resulta na morte do amor idealizado.

Para repaginar o famoso  balé de Tchaikovsky, Thomas, o coreógrafo da companhia, decide que a mesma bailarina deve interpretar os papéis de Cisne Branco e Cisne Negro, personagens de caráter completamente opostos. Ao longo da trama, o coreógrafo ressalta que essa montagem exige não só a interpretação da bailarina, mas uma verdadeira entrega aos papéis. É preciso não apenas parecer, mas tornar-se a personagem.

Nina encontra-se, então, em um dilema. Ela é perfeita para o papel de Cisne Branco que é meigo, doce e puro, porém, não tem a sensualidade, paixão e imponência necessárias para a interpretação do Cisne Negro. Aos 28 anos, Nina ainda mora com a mãe, uma ex-bailarina que abandona sua carreira para se dedicar a filha e, de forma possessiva e controladora, a incentiva, busca direcionar sua ambição profissional na filha, numa tentativa de realizar seu sonho.

Eis que surge uma concorrente, a nova bailarina Lily, a própria personificação do Cisne Negro e toda sua sensualidade. As duas desenvolvem uma amizade conflituosa, repleta de rivalidade, e Nina começa a entrar em contato com seu lado mais sombrio, com uma inconsequência que ameaça destruí-la.

Análise

A primeira estrutura semiológica que pode ser identificada no filme são as cores. Na iluminação do cenário e no figurino dos personagens, o diretor explora o contraste entre o claro e o escuro. No espetáculo de balé, os bailarinos usam apenas branco e preto, esse contraste separa os personagens entre bons e maus, certo e errado. A impressão imediata que essa escolha causa é a de uma clara divisão, percebe-se de imediato quem são os personagens bons e os maus na representação do balé, o que pode ser entendido como um exemplo de quali-signo.

Ao longo da trama, Nina usa apenas roupas claras, brancas ou em tons pastéis, enquanto sua rival Lily, o coreógrafo Thomas e sua mãe usam tons escuros. A utilização do branco e do preto, especialmente no figurino de Nina e Lilly aponta, semiologicamente, o que se espera das personagens. O branco rosado de Nina e o preto de Lilly personificam o bem e o mau. A escolha dessas cores pode ser considerada um símbolo. Comumente, o branco é uma cor associada à pureza e inocência, enquanto o preto representa o mistério, fantasia e sofisticação.

A ideia de que o branco transmite delicadeza e deve ser associado à paz, é geral, por isso é comum usarmos esta cor nas passagens de ano. O preto, por sua vez, representa o luto, e em situações fúnebres e tristes o preto é sempre recorrente. Isto é uma lei estabelecida socialmente, além de serem convenções sociais de uma ideia racista. Outro exemplo é o quarto de Nina, este que era rosa e cheio de brinquedos de pelúcia, o verdadeiro “quarto de menina”, ou seja, mais uma ideia geral de que meninas, delicadeza, rosa e pelúcia devem ser associadas. Logo, há a identificação de um legi-signo.

Nina é uma bailarina dedicada e infantilizada pela mãe, que vê na filha a oportunidade de realizar seu sonho de ser uma bailarina famosa. O quarto de Nina e a companhia de balé possuem uma iluminação aberta e clara. A academia principalmente, pois é repleta de espelhos. Mas, sempre que ela está em outros lugares como a cena da boate e o metrô, o ambiente é escuro e fechado. Nina desconhecia esse lado obscuro da sua vida. Para conseguir liberar a energia que ela precisa para encarnar o Cisne Negro, o coreógrafo da companhia passa manipulá-la. Ele a intimida e provoca para que esse lado negro surja. Obcecada pela técnica, Nina ignora o espontâneo e o criativo na dança. Nina sabe disso, e luta para se libertar da opressão materna. Essa relação da personagem com cisne negro é um sin-signo.