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Análise Fenomenológica do Filme "Cisne Negro"

Por:   •  19/11/2019  •  Pesquisas Acadêmicas  •  2.239 Palavras (9 Páginas)  •  861 Visualizações

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Introdução à Psicologia Fenomenológico-Existencial

Gabriel Trindade da Silva Bezerra

GRR20195647

CURITIBA

2019

INTRODUÇÃO

Este trabalho consiste em analisar sob um ponto de vista fenomenológico-existencial o filme “Cisne Negro”, utilizando-se do destaque de três pontos essenciais presentes na obra, sendo estes, o tema das alucinações, da dança, e da influência e papel da arte na busca do ser-no-mundo. Para que esta análise seja possível e esclarecedora, é importante que hajam alguns termos previamente elucidados, sendo os seguintes:

Intenções cheias e vazias

Por Sokolowski (2004), intenções cheias são aquelas em que o objeto intencionado está presente, e vazias, em que o objeto está ausente. Podemos pegar com exemplo, ainda do autor, as situações de se falar sobre um jogo de basquete e estar neste jogo, na primeira o objeto intencionado está ausente, na segunda, presente.

Conceito de Intencionalidade

Trata-se da “particularidade intrínseca e geral que a consciência tem de ser consciência de qualquer coisa, de trazer, na sua qualidade de cogito, o seu cogitatum em si próprio. ” (Husserl, 2001, p.48). Quer dizer que, sob a concepção de intencionalidade, a consciência dirige-se a algo exterior a ela mesma.

Lados, aspectos e perfis

Segundo Sokolowski (2004), explicando lados e perfis pelo exemplo de um cubo, vemos que o cubo tem 6 lados, e cada lado pode ser dado por diferentes perspectivas, pontos de vista e diferentes modos, e chamamos estes modos de aspectos. Além disso, podemos fechar os olhos por segundos e abri-los novamente, se nada tiver se alterado teremos o mesmo aspecto, porém este aspecto é dado por uma sucessão de aparecimentos temporariamente diferentes, que se denominam perfis.

Presença e ausência

Ainda de acordo com Sokolowski (2004), Presença e Ausência (que compõem as três estruturas formais da Fenomenologia), consistem, no exemplo do cubo, em intencionarmos a face que vemos (presença), e ainda sabermos (ou supormos) a aparência e/ou existência dos outros lados (ausência).

Noção de Temporalidade

Pode-se dizer que:

O continuul formado pela percepção (ordinária) presente e sua "cauda" de retenções é uma série bem ordenada, tendo como primeiro [...] a retenção da primeira percepção, e como último elemento a percepção presente. Os pontos desta série obedecem a uma relação de ordem cuja natureza não é bem explicitada por Husserl; [...] ele afirma que o continuulI de modalidades de fases não contém duas vezes o mesmo modo de fase, que os instantes temporais são únicos (distintos uns dos outros, e não podem ocorrer duas vezes) e que as fases do continuulI temporal estão em "crescimento contínuo", a partir das impressões originárias, formando o degradé retencional. ” (Junior, 1990, p. 79).

Husserl afirma que nossa percepção das coisas é formada por uma sucessão de perfis, os quais tem uma relação de presenças e ausências, e em seus termos, pela retenção captamos o instante imediatamente passado e por propensão, entende-se nossa expectativa instantânea pelo instante imediatamente próximo.

O termo Dasein

Entende-se que:

Para identificar o modo de ser humano, Heidegger emprega o termo Dasein. Literalmente, Dasein significa ser-aí. Na versão brasileira de Ser e Tempo, Dasein é traduzido como “presença”; a tendência internacional é pela manutenção do termo original alemão. Neste texto, Dasein, presença (nas citações da tradução brasileira) e ser humano são utilizados como sinônimos, todos fazendo referência ao modo de ser humano ou modo de ser do homem. (Roehe; Dutra, 2014, p. 107)

OBRA ANALISADA

O filme “Cisne Negro” é de origem norte-americana, que engloba os gêneros de drama, suspense e terror psicológico, tendo sido lançado no ano de 2010 e cujo autor é Darren Aronofsky. A protagonista (Nina), é uma jovem bailarina que sonha em fazer sucesso e ter um grande papel, até que é escolhida para estrear o balé “O Lago dos Cisnes”, fato que muda sua vida completamente.

Sendo escolhida como protagonista, a jovem deve interpretar dois papeis bem distintos: o Cisne Branco e o Cisne Negro. Sendo gentil e determinada, todos acreditavam em sua capacidade para interpretar o primeiro papel, mas duvidavam do segundo. Com o tempo, começa a desenvolver alucinações influenciadas pelo clima constante de tensão, violência psicológica e pressão presentes no ambiente em que trabalha, transformando-se radicalmente ao longo da obra, por conta de ciúmes, medos e inseguranças. Além do contexto profissional, seu estado mental sofre grande influência do seu contexto familiar, que não se distinguia muito do primeiro, sendo exaustivo e opressor.

Nina morava com sua mãe (Erica), que apresentava claros distúrbios psicológicos, vivendo em função e através da filha. Erica foi também uma bailarina, porém frustrada na realização de seus sonhos e seu sucesso profissional, o que faz com que ela projete em sua filha uma espécie de chance de realizar o que não pôde, portanto, de forma sufocante, sempre estimulou Nina a seguir o caminho da dança.

Em meio inúmeras conturbações, como o fato de ter de lidar com sua mãe, criar uma obsessão por sua colega de trabalho e rival pelo papel, fazer de tudo para chamar atenção de seu diretor, Nina ao longo do filme apresenta inúmeras mudanças e instabilidades em sua personalidade, demonstrando um perfil doentiamente focado e crescentemente agressivo. Ao final, em busca da perfeição e ao adentrar tão visceralmente no papel, acaba suicidando-se no palco, tendo o mesmo desfecho do Cisne Negro, uma das personagens interpretadas por ela.

O TEMA DAS ALUCINAÇÕES

Pode-se entender a alucinação como parte de transtornos mentais, porém esta é muito comum. O modo de pensar cotidiano do ser humano é de certa forma delirante, quando criamos visões e pontos de vista alternativos para encaixarmos os fatos em nossas expectativas, para torná-los mais agradáveis a nós. É difícil falar precisamente sobre o que é alucinar, pois esta envolve a relação do sujeito com um mundo objetivo, e a concepção do que é este mundo real e objetivo. Para isso, não devemos adotar um “realismo ingênuo” positivista e nem a “negação do mundo” de um espiritualismo. Na Psiquiatria, por exemplo, não se consideram como patológicas as alucinações hipnagógicas (ao adormecer), as pseudoalucinações em crianças (interpretadas como imaginação) e as alucinações eidéticas (memória ‘fotográfica´), de acordo com Kolb (1986). Ou seja, tem-se alucinações patológicas e não patológicas.

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