Historia do Cinema Brasileiro - Bressane - Educação Sentimental

História do Cinema Brasileiro

Educação Sentimental (2013) – Julio Bressane

Apoiado no mito grego de Endimião, jovem amado pela deusa Lua e punido por Zeus por ter sido tocado por ela, Educação Sentimental trata da relação entre Áurea, uma professora, com Áureo, um rapaz bem mais jovem. Nessa relação, embora a atração mutua seja evidente, temos uma predominância não de relações sexuais (as quais nem temos certeza se ocorrram) mas sim de conversas onde Áurea fala sobre arte e sensibilidade, e Áureo escuta durante quase todo o tempo, de forma que quase todo o filme trata-se de um monólogo.

Filmado em película, que inclusive é exaltada pela personagem de Áurea em uma de suas “lições”, o filme todo é voltado para mostrar como a sensibilidade tem sido deixada de lado em nossa sociedade atualmente, dando lugar a formas mais “utilitárias” de se fazer arte. Assim, tanto em sua forma como em seu conteúdo, temos constantes demonstrações da forma de sensibilidade valorizadas por Bressane, o que já pode ser visto na escolha de se utilizar película ao invés do digital, na forma teatral com que praticamente tudo é falado no filme, na escolha da locação e dos objetos de cena (mais antigos, tradicionais), e sobretudo nas verdadeiras aulas dadas por Áurea, que fala de literatura, de cinema, de música, de porcelana, e que dança diversas vezes durante o filme. Ainda quanto ao aspecto teatral do filme, temos inclusive uma cena na qual os dois personagens principais são mostrados após um abrir de cortinas vermelhas, em analogia nítida ao que ocorre no começo de peças de teatro.

Vemos também uma certa valorização do sentir, do experienciar, se comparado ao pensar. No filme, Áurea fala sobre sua mãe, uma pessoa muito culta, doutora em filosofia, mas alguém que Áurea odiava, tendo dito inclusive que ficou feliz quando ela morreu, o que, aliado à grande valorização que vemos no filme das artes associadas ao drama, nos levam a concluir que Bressane vê o sentir como sendo essencial, porém pouco valorizado na sociedade contemporânea, em oposição ao pensar, que predomina atualmente e acaba limitando as pessoas em suas sensibilidades.

O fazer cinematográfico também é constantemente trazido à tona por Bressane em Educação Sentimental. Quando Áurea fala sobre a película e mostra uma a Áureo, ela também demonstra como era o movimento desta durante a projeção, em uma cena na qual apenas a película em movimento fica em foco, de forma a destacar essa forma de se fazer cinema. Temos também algumas cenas nas quais Áurea fala sobre sons, cenas estas seguidas de planos onde é mostrado um boom, tipo de microfone muito usado no cinema, acompanhado do som em questão, como que mostrando que aquele som estava sendo gravado por aquele microfone, dando detaque assim mais ao registro do som do que à fonte do som em si (que nem é mostrada em tais cenas). Temos ainda alguns momentos nos quais os personagens olham diretamente para a câmera, o que nos faz lembrar da existência da câmera e consequentemente de que aquilo é um filme, o que não é tão comum no cinema, pois não colabora para a imersão no filme, mas sim dá destaque ao fazer cinematográfico, que é uma das formas de arte valorizadas por Bressane.

Vale destacar também o papel