Sobre Ética e Imprensa
Por: liviafsmoura • 14/5/2019 • Trabalho acadêmico • 1.187 Palavras (5 Páginas) • 211 Visualizações
A ética no meio jornalístico
A imprensa venceu grandes limitações ao decorrer da história brasileira, como a censura, fortemente exercida durante a ditadura, que encobria a realidade. Agora ela se depara com outra questão: a ética nos meios de comunicação. Para compreender esse contexto, o jornalista Eugênio Bucci escreveu o livro “Sobre Ética e imprensa” levantando questionamentos de como é e de como deveria ser utilizada a ética dentro das redações.
No seu primeiro capítulo Bucci questiona: “Faz sentido falar de ética na imprensa?”. Para ele é uma questão fundamental e urgente. A fim de explanar melhor o assunto, ele retoma a história: “No dia 25 de janeiro de 1984, o Jornal Nacional tapeou o telespectador. Mostrou cenas de uma manifestação pública na praça da Sé, em São Paulo, e disse que aquilo acontecia em virtude da comemoração do aniversário da cidade. A manifestação era real: lá estavam dezenas de milhares de cidadãos em frente a um palanque onde lideranças políticas discursavam. Mas o motivo que o Jornal Nacional atribuiu a ela não passava de invenção. Aquele comício nada tinha a ver com fundação de cidade alguma. A multidão estava lá para exigir eleições diretas para a Presidência da República. O Jornal Nacional enganou o cidadão naquela noite – e prosseguiu enganando por semanas a fio, ao omitir informações sobre a campanha por eleições diretas.” (BUCCI, 2000, p. 29).
O telejornal de maior audiência do país, na tentativa de manipular as informações e de defender os seus interesses, escondeu o maior ato político ocorrido nos primeiros 20 anos da ditadura brasileira. O foco da reportagem naquela noite foi a comemoração do aniversário de 430 anos da cidade de São Paulo. O autor traz dois outros momentos em que a Rede Globo foi antiética com o seu público: em 1989 nas eleições presidenciais e em 1992 no impeachment do presidente Collor. O slogan utilizado até hoje “O povo não é bobo, abaixo a Rede Globo” surgiu nesta época, impulsionado pelo sentimento hostil dos manifestante com a emissora e seus repórteres.
Segundo Bucci, a ética não é muito debatida entre os jornalistas devido à tradição da cultura política brasileira, a influência do autoritarismo, às práticas clientelísticas e a arrogância predominante nas redações dos meios de comunicação.
Durante o texto ele ressalva: “Olhando para o passado recente do Brasil, nota-se que, sem a “casca grossa” desenvolvida pelas redações para se proteger da prepotência estatal e do tráfico de influência dos corruptos, é provável que a democracia brasileira estivesse hoje mais atrasada do que está. Pelo menos, com arrogância ou não, os jornalistas se protegeram para fazer jornalismo”. (BUCCI, 2000, p. 41)
O autor defende que a arrogância tem um explicação histórica. Nos anos de 1964 a 1985 no Brasil, vivia-se sob o regime militar, que incluiu a censura à imprensa, que acarretou em prisão, tortura e assassinato de jornalistas. Porém, ainda assim, jornalistas agiram eticamente produzindo reportagens e notícias de boa qualidade e relevância. As práticas de tortura e a corrupção expostas pela mídia cumpriram o papel de informar o público tanto quanto garantiram a construção da democracia e a liberdade de imprensa. “O jornalismo já é em si mesmo a realização de uma ética: ele consiste em publicar o que outros querem esconder mas que o cidadão tem o direito de saber”. (BUCCI, 2000, p. 41).
Os jornalistas e seus empregadores muitas das vezes acabam oferecendo informações de má qualidade e fugindo um pouco da conduta ética, em consequência do monopólio dos veículos de comunicação, da busca diária e acirrada pela notícia exclusiva, a guerra pela audiência e a pressa que acompanha o meio jornalístico.
Por vezes, algumas reportagens optam pela invasão de privacidade. A vida de pessoas famosas são expostas, ultrapassando a linha da privacidade, por paparazzi. Alguns desses sujeitos, vezes em outras tem a sua imagem manchada diante os meios de comunicação devido a essas invasões. E o que nos traz novamente à questão ética, alguns interpretam as publicações sobre informações da vida pessoal de alguém como algo antiético.
A profissão tem uma função básica: "quem entra no ramo de informar o público tem que oferecer informação independente, isto é, informação voltada exclusivamente para atender o direito à informação" (BUCCI, 2000, p 58). Supondo que, mesmo a notícia sendo uma mercadoria e que o ramo seja comercial, a sociedade exige independência editorial. Contudo, ela é prejudicada pela ação externa do poder político, que restringe a liberdade de informação, e, pelo conflito de interesses dentro da profissão.
O ofício jornalístico tem um tabu em que os jornalistas devem ser neutros diante os assunto, sem demonstrar opinião nem interferir com sua expressão sobre os fatos, pois não se deve influenciar o público. Porém, Bucci acredita ser necessário sentimento e expressão, afinal, quão sem graça seria uma narração de uma partida de futebol com um narrador que não dá a mínima para o time que está jogando? E o que o autor diz é pertinente, se for realizada com bom senso. Se os sentimentos forem exclusos de toda e qualquer reportagem, as notícias serão vazias, as emoções que dão um contexto de realismo.
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