UM RELATO SOBRE A VIDA

UM RELATO SOBRE A VIDA

Lídio Gabriel^[1]

Lançado em 2002, o documentário chamado Edifício Master é um dos trabalhos mais importantes do cineasta paulista Eduardo Coutinho, considerado o documentarista brasileiro mais importante da atualidade. No processo de produção do filme, o diretor e sua equipe moraram no prédio onde foram gravadas as entrevistas. Eles alugaram um dos apartamentos do imóvel e viveram lá por cerca de três semanas, o que fez com que pudessem ter uma ambientação muito boa com os moradores.

O prédio que fica em Copacabana, é basicamente composto por pessoas de classe média baixa, e não aparenta ter nada de interessante para se noticiar em um filme. Talvez fossemais fácil encontrar algum assunto no seu passado “sombrio”, quando ali existiam casas de prostituição e pontos de drogas, além dos homicídios que já foram registrados no local. No entanto, o imóvel havia passado por uma transformação e na época de produção do filme ele era considerado um local de família.

Tecnicamente o filme é bem simples, com poucos efeitos, o que deixa o documentário bem intrigante. A intenção do diretor não é muito clara no inicio, mas no passar das cenas e entrevistas é possível identificar alguns elementos que talvez seja a sua ideia central. No decorrer do filme fica bem claro a solidão que existe nesse prédio, corredores vazios e quietos chamam atenção, até pelo fato de que existem 500 moradores e nenhum deles aparecem nas cenas em que filmam os corredores.

Aparecem 37 entrevistados que não poderiam ser mais diferentes um do outro. Cada um com sua história de vida, sua rotina e seus hábitos próprios, mesmo assim todos convivem “juntos” nesse prédio, mas possivelmente nem se conheçam direito. Está ai o paradoxo exposto por Coutinho. As pessoas estão isoladas, solitárias, mesmo vivendo no mesmo endereço de outras quinhentas.

É importante ressaltar a maestria com que Coutinho conduz as entrevistas, extraindo sempre o que há de mais intimo de cada pessoa, além de conseguir deixa-las a vontade mesmo comum aparelho intimidador como a câmera. As entrevistas feitas por ele tem um poder muito comovente, já que se trata de histórias de vidas que muitas vezes são difíceis e conflituosas. Alguns personagens com certeza ficam marcados, é o caso da jovem que dá aulas de inglês, mas que tem um grave problema com autoconfiança, e também de lhe dá com grande numero de pessoas. Por outro lado existem os exemplos de velhinhos extrovertidos que se divertem muito contando suas histórias e as lembranças no edifício.

Coutinho teve uma habilidade muito grande na hora de conduzir as entrevistas, na maioria dos casos ele era apenas um ouvinte muito interessado. Não havia necessidade de se impor como entrevistador, apenas fazia perguntas quando o entrevistado se mostrava interessado em falar, e sempre lhes davam espaço e tempo para pensar, refletir e se emocionar. Foi a caso do senhor que vivera nos Estados Unidos, que se emocionou muito quando lembrou o que havia vivido, da sua luta para alcançar tudo àquilo que ele tinha. Foi comovente a cena em que ele canta “Myway”, uma musica de Frank Sinatra, que ele já tinha cantado com o próprio cantor quando era mais jovem.

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