A Ética a Nicômaco
Por: Rafaela Santos • 29/10/2018 • Dissertação • 1.790 Palavras (8 Páginas) • 141 Visualizações
Ética a Nicômaco, livro I
Item I: Todas as nossas ações buscam alcançar diferentes tipos de bens, usando diversas maneiras para isso e tendo resultados distintos, mesmo que seja a mesma ação, pois nossas particularidades sobressaem-se e nem sempre o que fará bem para um, representará o bem para todos. Por isso, o melhor seria procurar o bem em sua raiz, alcançando fins acima do pretendido com maior excelência.
Item II: Esse bem que está acima desses fins é o sumo bem, ou seja, o bem absoluto que não se limita a certa quantidade de pessoas, é para todos. Não podemos escolher uma coisa visando à outra, apenas o bem pelo bem. A procura por esse bem é incessante e não deve ser feita individualmente, mas sim coletivamente, afinal, só será alcançada através da união de cada um. Aristóteles usa a ordem política cidade-estado como exemplo, pois esse bem é objeto da ciência política que o conduz e representa todas as outras.
Item III: As dependências políticas da ética podem tornar-se relativas pela própria complexidade de seus resultados e por isso admite uma variedade de opiniões. Cada um de nós tem uma especialidade na vida, assuntos que nos identificamos mais e por isso sabemos abordar sobre ele, enquanto os que não sabemos tanto, outras pessoas saberão, ou seja, cada um é “juiz” do seu assunto e isso é repassado para unir conhecimentos. Os jovens, tanto de idade quanto de espírito, são impulsivos e levados por suas emoções, logo essa ciência não acrescenta para eles da mesma maneira e intensidade que para quem deseja e age de acordo com um princípio racional. Primordialmente, cabe a essas pessoas que tem interesse contentar-se em obter verdades que os jovens têm dificuldade em alcançar e repassar para eles, como um guia, pois não há preparo da parte deles para agir ou procurá-las.
Item IV: O objetivo da ética é a obtenção da felicidade, mas como alcançá-la? Essa sofre grande diferença quando tratada pelo vulgo ou pelos sábios, pois o vulgo compara a felicidade, sobressaltando sua ignorância, com coisas momentâneas, como por exemplo: prazer, riqueza, honras ou ostentação. Contudo, muitos conseguem perceber que acima dos bens imediatos há um bem subsistente e causa da bondade de todos os demais. Para tanto, há dois caminhos: das ações para os princípios ou, vice-versa, dos princípios para as ações, conforme sugeriu Platão. Aristóteles acredita que o ponto de partida para começar a realizar essas ações deve ser exercido por nós, o que exige conhecimento e hábito, esclarecimento e boa educação, que alguns indivíduos já podem ter ou adquirir, dependendo da sua estrutura familiar e o que lhe foi repassado. Hesíodo diz, em um poema, que aquele que não tenta conhecer-se, aprender com os conselhos dos que sabem e ignora a sabedoria, é uma criatura inútil.
Item V: Aristóteles elenca três tipos principais de vida: a reduzida à obtenção de prazeres, a política e a contemplativa. O pensador descreve a primeira como uma vida escrava e bestial, pois quem faz parte desse meio enxerga o bem e a felicidade como os prazeres momentâneos, além de contentar-se com isso. Enquanto na vida política, os indivíduos atribuem a honra como felicidade, fazendo um reflexo de suas virtudes pessoais, pois essa é a finalidade dessa vida e isso é extremamente superficial, porque é como uma concessão ao público, uma aprovação e divida consigo mesmo ao atribuir isso como um “troféu” do bem, reduzindo o bem apenas para quem recebe tal mérito.
Item VI: Aristóteles aborda sobre o bem universal, mesmo que esteja contrariando outros que já introduziram teorias, até mesmo porque ser racional faz com que ele coloque a verdade acima de tudo e não permita que ideias platônicas continuem sendo algo absoluto. Assim, começa argumentando que o bem pode ser usado tanto na categoria de substância, qualidade ou relação, o que impediria a sua conceituação como uma ideia comum. A palavra “bem” não é algo único e têm diversos sentidos, exemplos:
O bem como substância: Deus.
O bem como qualidade: virtudes.
O bem como relação: sua utilidade, oportunidade e espaço apropriado.
Faz-se necessário dividir esse bem em dois: bens em si mesmos, que são aqueles que buscamos para nós mesmos e mais ninguém, como o conhecimento e os outros, em relação aos primeiro, ou seja, são condicionantes utilitários ou prazerosos. Então, a ideia desse bem surgiu a partir de outro que é inatingível e por isso torna-se vazio para o homem, porque o que realmente importa é identificar a perfeição do bem perante nossos usos práticos. Ao conhecermos algo, poderemos conseguir alcança-lo.
Item VII: Quando praticamos alguma ação, temos em mente sua finalidade e o que almejamos daquilo, porém é algo relativo que pode ou não acontecer como planejamos, então sempre pensamos em possibilidades relativas visando uma possibilidade absoluta. Portanto, essa finalidade que existe para tudo que fazemos é o bem realizado e se há mais de uma, serão os bens realizáveis. Os fins são vários, logo nem todos são absolutos, e nós buscamos um entre tantos que deve ser o absoluto. O fim que merece ser buscado por si mesmo é incondicional e diferente daquele que é buscado visando outra coisa, como por exemplo, algo que é desejado por todas as pessoas: a felicidade, porque considerando as outras coisas que buscamos, nós escolhemos de acordo com nossas preferências.
O bem absoluto e a felicidade são considerados autossuficientes e isso quer dizer que a vida torna-se desejável e sem precisar de mais nada. Então, será que o bem absoluto é a felicidade? No que se refere ao homem em suas atividades, o bem supremo é seu trabalho intelectual, por ser isto que o distingue de todos os outros animais. Porém, este trabalho intelectual deverá vir acompanhado de práticas virtuosas, porque cada um tem uma ou mais funções para serem exercidas, assim como cada parte do nosso corpo. Faz-se necessário estabelecer bem um fato com os primeiros princípios, pois a partir deles torna-se mais fácil descobrir outras coisas.
Item VIII: Aristóteles aponta que os bens interiores e exteriores são relativos à alma e ao corpo. A preferência verdadeiramente é pelos bens da alma, pois o homem quando está feliz age e vive bem, enquanto nos interiores ocorre um grande conflito de opiniões relacionadas ao corpo e isso causa desarmonia. Existem diversas definições para a felicidade que foram e ainda são sustentadas, como por exemplo, virtudes, a sabedoria prática e filosófica, a prosperidade ou a honra, porém não é apenas isso, é possível que seja um conjunto do que foi citado e muito mais. A felicidade precisa dos bens exteriores, porque necessita de um meio para realizar os atos nobres, além de ser uma virtude de ação que deve vir sempre acompanhada de prazer e alegria pelo que se faz, ou seja, o prazer faz parte. Os atributos da felicidade não se acham sozinhos, pois são nobres e aprazíveis em si e por natureza, enquanto os prazeres de alguns homens estão em constante conflito por serem opostos a isso, quando deveria ser um estado da alma e não só algo que simplesmente o agrade.
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