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A CONDUTA PASSIONAL COMO MÁ-FÉ

Por:   •  22/4/2016  •  Pesquisas Acadêmicas  •  3.408 Palavras (14 Páginas)  •  1.264 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS FERAIS

TRABALHO DE FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

A CONDUTA PASSIONAL COMO MÁ-FÉ

AUGUSTO CÉSAR AFONSO FERREIRA

1 – INTRODUÇÃO

Sartre foi um dos maiores filósofos do século XX e o principal representantes do existencialismo francês. No presente trabalho, tenho a intenção de primeiramente fazer uma analise dos principais conceitos da filosofia sartriana como liberdade, angústia, responsabilidade e má-fé. Tais noções são a base para entender seu pensamento, e após a explanação de tais conceitos irei relacioná-los ao "Esboço de uma teoria das emoções",  obra publicada na juventude de Sartre, em que já aparece alguns de seus principais conceitos. Porém os dois conceitos chaves aqui são emoção e má-fé, e de que modo se relacionam. Sartre acredita que a conduta passional é uma conduta de má-fé, de modo que a emoção possui uma intencionalidade consciente, e surge quando já não suporto uma determinada tensão, e por não conseguir manter uma conduta que considero superior acabo me emocionando. A conduta passional estabelece a fuga, o auto engano, muitas vezes um teatro para esconder nossa real persona, sendo seguida de uma forte crença, essas são as principais características da má-fé, e por meio desse trabalho tento mostrar como esses dois conceitos se relacionam na filosofia sartriana.

2 – INTRODUÇÃO AO EXISTENCIALISMO: liberdade, responsabilidade, angústia e má-fé

O existencialismo foi um movimento filosófico e literário de grande Importância no século XIX e XX. Sartre foi um de seus principais representantes tendo sido influenciado principalmente por  Søren Kierkegaard, Fiódor Dostoiévski, Edmund Husserl, Martin Heidegger entre outros. Sua principal tese é que a existência do homem precede sua essência. Dessa forma Sartre aponta dois modos de ser distintos, o "Em-si" e o "Para-si". O primeiro indica em geral os objetos que não possuem consciência, eles apenas são o que são. Esses objetos já tem uma essência determinada antes de sua existência, por exemplo ao constituiu uma casa já sabemos qual será sua utilidade, de modo que a própria casa não  tem nenhum tipo de liberdade para mudar sua relação com o mundo, já que nem ao menos tem consciência de si ou do mundo. Já o Para-si é o modo de ser da consciência humana, que constrói um sentido para o mundo em que vive e sua principal característica é a liberdade de se projetar no mundo. O existencialismo sartriano é ateu, então não existe um ser criador que determina nossa essência, sendo ela construída após sermos lançados no mundo.

Uma das principais teses defendidas por Sartre se funda na liberdade do homem, no qual estamos condenados a sermos livres. Dessa forma nos tornamos responsáveis por nossas ações. O filósofo então recusa qualquer determinismo como por exemplo a ideia grega de destino ou que somos determinados pelo inconsciente freudiano. Então se a vida não possui sentido determinado, resta a nós conferi-la algum sentido. Durante nossa vida temos a liberdade de escolher vários caminhos possíveis, sendo nós os responsáveis por nossas escolhas. Recorrer a teorias determinas ou Deus é querer abdicar de nossa responsabilidade. Tal liberdade no entanto não é ilimitada, encontrando seus limites na facticidade. A facticidade está relacionada as condições contingentes, que não dependem de nossas escolhas. Exemplos de facticidade são por exemplo a sua data e local de nascimento, o fato que um dia iremos morrer e nossas capacidades físicas. Apenas somos livres em situação, quando transcendemos determinada facticidade através da nossa liberdade de escolha. Para Sartre não somos o que queremos, mas somos aquilo que projetamos no mundo, esse projeto é uma escolha cuja responsabilidade é apenas do próprio homem, dessa forma o primeiro passo do existencialismo é levar o homem a uma tomada de consciência de modo que ele tome posse no que de fato ele é e submetê-lo a responsabilidade de sua existência.

Na filosofia existencialista há um plano de fundo político, na medida em que Sartre acredita que a liberdade do indivíduo não deve permitir uma fuga das responsabilidades políticas, ao contrário, pois exatamente por ser livre se torna responsável por seus atos. O engajamento então, não reduzindo o conceito apenas ao campo político, mas o engajamento na própria vida, ao tentar concretizar seus projetos no mundo a liberdade passa a ser situada não no plano reflexivo mas ação. A liberdade sempre se da em situação, pois o próprio homem é um ser em situação, estamos diretamente ligados ao mundo, e é impossível nos isolarmos dele de fato. Dessa forma nossa responsabilidade não é apenas por nós, mas por toda a humanidade, de modo que o existencialismo sartriano transcende a ideia de um subjetivismo individualista. A responsabilidade então trazida por Sartre são pelas escolhas fundadas não em um subjetivismo individual, mas um subjetivismo construído através da alteridade, uma intersubjetividade compreende que o outro também e livre. Assim a noção de responsabilidade trazida por Sartre,  é muita mais forte que a do senso comum, pois na medida em que o homem escolhe suas condutas e apresenta ao mundo sua ações, esta apresentando também uma imagem por ele mesmo escolhida e baseada em valores que ele mesmo fundou ou aderiu conscientemente. E na medida em que essa conduta é possível para ele é também possível para todos os homens, dessa forma suas escolhas reverberam em todo campo social, se tornando responsável também pela humanidade.

A tomada de consciência da liberdade  e a responsabilidade que é ser livre acarreta a angústia. Dessa forma a angústia é a consciência de liberdade. Ela se constitui quando me percebo separado do futuro por minha própria liberdade.O que eu projeto para tal futuro é apenas uma mera possibilidade entre tantas e o que da valor as suas escolhas é exclusivamente a sua liberdade, nada justifica a adoção de valores determinados. Dessa forma, na angústia, percebo que o sentido do mundo provém de minha liberdade.A angústia é um sentimento conflituoso o que nos faz gerar mecanismos de fuga e defesa de tal sentimento.O  determinismo por exemplo, segundo Sartre, se mostra uma defesa reflexiva contra angústia . Tais mecanismos de fuga rumo a mitos tranquilizadores nadificam a angustia enquanto dela fujo e nadifica a si enquanto sou angústia para dela fugir. Tal fuga é o que se chama de má-fé.

A má fé para Sartre é uma atitude essencial da realidade humana, no qual a consciência volta sua negação para si. Primeiramente é necessário distinguir a mentira da má-fé. A primeira também é uma atitude negativa, porém a essência da mentira implica que o mentiroso esteja completamente ciente da verdade, o mentiroso também pretende enganar outra pessoa e não tenta dissimular essa intenção em sua própria consciência, de forma a exercer um controle regulador sobre todas as suas atitudes. Assim sendo, enquanto a mentira não põe em jogo a intraestrutura da consciência presenta a má-fé esconde de mim mesmo a verdade. Na má-fé não existe a dualidade do enganador e do enganado.

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