A Epistemologia do Pensamento Complexo
Por: Kyllyson Afonso • 10/4/2016 • Seminário • 3.333 Palavras (14 Páginas) • 410 Visualizações
6. Epistemologia da complexidade
Durante o intervalo do almoço eu tinha dois problemas a serem resolvidos, um resolvi o outro não. Isto enquanto comia, porque ao mesmo tempo tinha fome. Este que resolvi foi graças as anotações feitas, tentando articular sem homogeneizar, e respeitar a diversidade sem fazer um puro e simples catálogo.
Observador e observação, nunca dissociados, assim como sujeito e objeto.
Participei de colóquios (reunião de entendidos sobre certo tema), de debates, pois tudo me interessava, aquele espírito de investigação é um propulsor do avanço. Cruzar disciplinas em busca da viagem do saber, creio ser muito importante confrontar-se com pessoas a quem se possa chamar de especialistas, possuindo uma competência precisa num campo, e que ele esteja disposto a receber suas críticas.
Os mal-entendidos
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Primeiro tipo de mal-entendido: a ideia que fazem de mim, a de uma mente que se pretende sintética, que tira do bolso expondo: “Eis o que é preciso adorar, queimem as antigas tábuas da Lei”. Ora a própria ideia de complexidade comporta em si a impossibilidade de unificar, a impossibilidade da conclusão, uma parcela de incerteza e indecidibilidade e o reconhecimento do confronto final com o indizível. Não significa que se confunda com o relativismo absoluto, o ceticismo.
Ao me auto analisar identifico uma tensão patética ou ridícula, entre dois impulsos intelectuais ou contraditórios: de um lado o esforço infatigável de articulação dos saberes dispersos para reunifica-los; do outro, ao mesmo tempo, o contramovimento que o destrói. Adorno diz: “A totalidade é a não verdade”, fala memorável de um discípulo hegeliano, movido pela aspiração à totalidade.
O reconhecimento da impossibilidade da totalidade é uma verdade muito importante, pois é simultaneamente a verdade e a não verdade.
Alguns veem em mim um mercador de sínteses integrativas, outros me veem como uma espécie de apologista da desordem. É salutar meu gosto pela síntese e pela desordem criando uma tensão trágica em princípio, mas sob a ótica que se possa “ultrapassar” contradições sem negá-las, um metanível com brechas, incertezas e problemas que nos permite navegar na aventura indefinida ou infinita do conhecimento.
Outra concepção errône a meu respeito, a palavra “velocidade”, porte denotar a impressão que aperto um botão e pronto! Isso não se passa assim. A velocidade talvez não seja só a velocidade talvez não seja só a velocidade da minha escrita, talvez seja a velocidade de leitura de meus leitores, que causa alguns mal-entendidos.
Bem, mas no que concerne os mal-entendidos, talvez se interrogar: por que? São tão duradouros os mal-entendidos. Não me considero uma vítima particular dos mal-entendidos, foram vítimas de mal-entendidos ainda maiores e mais graves pensadores, pesquisadores, grandes nomes da história. Dito isto, a fonte do mal-entendido está no modo de compartimentar e de estruturar, ou seja, na organização dos elementos do conhecimento.
Um exemplo: na política eu era de direita e de esquerda ao mesmo tempo, pois sou muito sensível aos problemas das liberdades, dos direitos do homem, das transições não violentas; da esquerda no sentido que as relações humanas e sociais poderiam e deveriam mudar em profundidade. Então, me rotulavam de “confuso”, na mente dos que me escutavam só é possível ser um ou outro. Querer associar os dois parecia imbecil, suspeito e perverso. Assumo esta espécie de interface, entre ciência e filosofia, indo de uma a outra.
Ao olhar para os problemas-chave tento recolocar o que entendo por complexidade, em seguida o que entendo por paradigma, depois, como concebo o problema sujeito-objeto. De passagem, indicarei os pontos onde creio precisar reconhecer insuficiências e subdesenvolvimento no que já escrevi. Navego entre ciência e não-ciência. Meu fundamento? Na ausência de fundamentos, isto é, a consciência da destruição dos fundamentos da certeza. No que acredito? Num pensamento, o menos mutilador possível e o mais racional possível respeitando, logicamente as exigências de investigação e de verificação do conhecimento científico e do conhecimento filosófico.
Falar da ciência
Há o cientista que reflete sobre “sua” ciência, agindo assim faz filosofia; há os historiadores, os epistemólogos, e os vulgarizadores.
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Me dizem você é “vulgarizador!”. Não sou. Por quê? Por duas razões: primeiro tentei discutir ideias na medida em que creio tê-las compreendido, tentei, na medida em que acreditava tê-las assimilado, reorganizá-las a minha maneira.
Exemplo: a questão sobre o principio da termodinâmica. De um lado os físicos ensinavam ao mundo um princípio de desordem que tendia a destruir qualquer coisa organizada; de outro lado , os historiadores e os biólogos ensinavam ao mundo que havia um princípio de progressão das coisas organizadas. O mundo físico tende aparentemente à decadência, o mundo biológico tende ao progresso. Perguntei-me: Como? Estes dois princípios podiam ser as duas faces de uma mesma realidade (a vida)! Como? Associar os dois princípios. Este era meu interesse de que vulgarizar a termodinâmica, que sou incapaz.
Segundo: situa-se no nível das ideias. Certo, as ideias gerais são vazias de conceito definidor, mas a recusa das ideias gerais é em si mesmo ainda mais vazia. As ideias gerais não podem ser banidas e terminam por reinar às cegas no mundo especializado. O que é interessante é que há ideias gerais ocultas no próprio conhecimento científico. Isto não é um mal, nem uma deformidade, eles têm uma função motriz e produtora. Acrescento, o cientista mais especializado tem ideias sobre a verdade, tem ideias sobre a relação entre o racional e o real, tem ideias ontológicas sobre a natureza do mundo, sobre a realidade. Consciente disso, é preciso olhar para as próprias ideias gerais, tentar colocar em comunicação saberes específicos e suas ideias gerais.
Não pretendo triunfar na missão impossível de tornar possível haver uma reorganização e um desenvolvimento do conhecimento, chega um dado momento em que algo muda e o que era impossível mostra-se possível. O bipedismo parecia impossível ais quadrupedes.
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A história de Ícaro ou o inventor do que hoje conhecemos por avião. Após muitos Ícaros, cada vez mais evoluídos, houve i primeiro avião e hoje o A380 corta nossos céus, algo inimaginável, que beira a loucura. Portanto, não debochemos dos Ícaros de espírito. Limitemo-nos a ignorá-los.
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