A Epistemologia e Conhecimento Antropológico
Por: Pedro Vidigal • 6/11/2017 • Trabalho acadêmico • 1.865 Palavras (8 Páginas) • 339 Visualizações
Pedro Vidigal
82644
UC Epistemologia e Conhecimento Antropológico
Docente: Francisco Oneto
Outubro de 2017
Paradigmas da ciência: a historicidade e as condições
sociais que constroem o conhecimento científico
Keywords: epistemologia; paradigmas; racionalismo; história; ciência moderna; pósmodernismo.
Abstract:
Pretende-se fazer uma análise da obra de Boaventura de Sousa Santos, Um discurso sobre as
Ciências, complementada com o capítulo Ciência e humanismo, capacidade criadora e
alienação, de Germinal Cocho, José Luis Gutiérrez e Pedro Miramontes inserida na obra de
coletâneas Conhecimento prudente para uma vida decente e também parte da obra de Edgar
Morin, Ciência com consciência. Focarei o contexto histórico e social em que surgiu e
desenvolveu o paradigma dominante e hegemónico: o paradigma racionalista. Após uma análise
descritiva baseada nas obras lidas, procurarei entender as características que levaram esse
paradigma a entrar em crise e eventual colapso. Também terei em consideração as
complexidades da sociedade atual que vê surgir um novo paradigma, e qual o fundamento
humano desse paradigma emergente.
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Ensaio:
Este ensaio pretende tratar a vasta e complexa obra Um discurso sobre as ciências do sociólogo
português Boaventura de Sousa Santos publicada em 1987, que tratei de complementar com a
leitura do capítulo Ciência e humanismo, capacidade criadora e alienação, inserida na obra
"Conhecimento prudente para uma vida decente". Ambos os textos fazem uma abordagem
abrangente da história da ciência, das suas mudanças, problemas e crises de um ponto de vista
social, histórico, epistémico e científico. Dado o leque de problemáticas que se desdobram em
ambos os textos e que podiam ser objeto de análise neste ensaio, pretendo incidir sobre os pontos
de encontro entre os dois textos, numa comparação que procurará encontrar o conjunto de
mensagens e o conteúdo teórico que me pareceu mais relevante, sem deixar de tomar uma
posição crítica. Incidirá de uma maneira geral sobre a historicidade da ciência, a interação de
condições sociais e materiais que sustentam a prática e o saber científico, assim como a
impossibilidade de se construir uma ciência neutra.
Na sua obra, Boaventura traça um quadro profundamente histórico daquele que é o paradigma
científico dominante, que se encontra em crise e em rutura: o paradigma racionalista. Embora
tenha sido o século das luzes (aliado à fomentação de toda uma nova ordem social) o
preconizador deste paradigma totalitário, o autor do Discurso sobre as ciências fundamenta o
racionalismo nas descobertas ou "revoluções" científicas iniciadas no século XVI, com a
astronomia de Galileu e Copérnico, as leis de Kepler e, importante na sua conceção metódica que
viria cunhar a ciência moderna com uma "consciência filosófica", o racionalismo cartesiano. Um
aspeto fundamental do pensamento de Descartes que fundamenta a ciência moderna é a cisão
entre o ser humano ou o espírito humano (res cogitans) do mundo físico, da natureza que o
circunda (res extensa). Nessa separação entre o homem e a natureza existe, segundo Boaventura,
um intuito implícito de dominar o mundo que nos rodeia e de o usar a nosso proveito.
A natureza é tão só extensão e movimento; é passiva, eterna e reversível, mecanismo
cujos elementos se podem desmontar e depois relacionar sob a forma de leis; não tem
qualquer outra qualidade ou dignidade que nos impeça de desvendar os seus mistérios,
desvendamento que não é contemplativo, mas antes ativo, já que visa conhecer a
natureza para a dominar e a controlar. Como diz Bacon, a ciência fará da pessoa
humana "o senhor e o possuidor da natureza". (SANTOS, 1987: 25).
Desta forma, o determinismo mecanicista, alicerce do paradigma dominante, faz do mundo uma
"máquina" cujas leis podem-se desvendar e prever, tudo em vista de um possível controlo da
natureza, já que esta rege-se de maneira previsível e causal.
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Por outro lado, a revolução científica moderna implicou uma rutura completa com o saber
medieval e aristotélico, e, consequentemente, com o senso comum, que é completamente
descartado como falível e ineficaz na construção de um saber científico. Há uma rutura das
ciências naturais, que vão ser a força motriz do paradigma racionalista, com os estudos
humanísticos, que incluem a história, a filosofia, a literatura, postas em segundo plano, o que vai
gerar, dentro do paradigma dominante, o perpétuo conflito entre ciências físicas e ciências
sociais.
A história dos paradigmas e das revoluções científicas é
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